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UMA MULHER DOS DIABOS
Depois dos Stones e de Bowie – com quem já
atuou em diversas ocasiões – é a vez de Tina Turner: uma voz rouca e sensual,
capaz de provocar os sentidos como poucas. A primeira parte do concerto será
assegurada pelos Delfins.
Ancas longas e esguias, lábios carnudos, “Soul
Music”, a alma voltada do avesso, deixando ver tudo (como os vestidos que usa
durante as atuações), as lágrimas e os sonhos, o fogo interior inextinguível,
“rhythm’n’blues”, os maus velhos tempos em que era dominada e espancada por
Ike, “manager” e marido que não queria saber da emancipação feminina, Phil
Spector e o clamoroso falhanço de “River deep, Mountain high”, a voz rouca e
sensual, “Acid Queen” no “Tommy” de Ken Russell e amazona em “Mad Max beyond
Thunderdrome” de George Miller – outras tantas imagens e sons que invadem a
memória, presentes decerto no olhar e nos ouvidos de todos aqueles que se
deslocarem ao encontro marcado para amanhã.
Turner provoca os
sentidos como poucas. Há quem lhe atribua responsabilidades no sair da casca de
Mick Jagger. Os seus gostos não enganam, a energia transborda em cada instante,
nas canções, na dança, no constante apelo erótico do corpo e da voz, na opulência
radiante das formas.
Mas Tina não é só suor,
é também classe – a prová-lo, o convite que lhe foi endereçado pelos “dandies”,
ex-Human League, Ian Marsh e Martyn Ware, convidam-na para interpretar “Ball of
Confusion”, em “Music of Quality and Distinction”. Tina Turner no papel de
grande senhora, diva de ébano reinando entre “babies” oxigenadas de 15 minutos
de Top. São 34 anos de carreira recheados de êxitos, culminando no sucesso
mundial de “Private dancer” e do “hit” “What’s love got to do with it”. Será
que o amor tem alguma coisa a ver com os galardões que então lhe foram
atribuídos – Grammies pelo melhor disco do ano (1984), melhor canção, melhor
“performance” e melhor vocalista rock feminina? Questão à qual só a própria
Tina poderá responder...
Quem não se preocupou
muito com isso foi Mick Jagger que, logo no ano seguinte, a convidou para
dançar (ou foi ao contrário?) em pleno Live Aid. Tina Turner a todos seduz, de
uma maneira ou de outra. Mark Knopfler (produtor de algumas transgressões em “Break
Every Rule”) e Eric Clapton não resistiram aos seus encantos. Amanhã à noite
vai ser a mesma coisa: poder ver, ao vivo, a energia em carne viva – no corpo e
na alma de uma mulher endiabrada que persiste em querer vencer o tempo. E
tem-no conseguido.
LISBOA
Estádio José de Alvalade, Sáb, 29, às 21h00
SEXTA-FEIRA,
28 SETEMBRO 1990 A
SEMANA
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