13 NOVEMBRO 1991
LP’S
A FORÇA DA INÉRCIA
GENESIS
We Can’t Dance
2xLP/MC/CD, Virgin, ed. Edisom
“Trabalhamos tão bem uns com os outros que quando nos voltamos a juntar parece que não se passou assim tanto tempo.” As palavras são de Phil Collins e servem na perfeição para definir uma atitude. Com efeito, para os Genesis – Phil Collins, Mike Rutherford e Tony Banks – não deve ter passado mesmo tempo nenhum. Para nós é que passou um bocado. Mais precisamente cinco anos, desde que gravaram o último disco de originais, “Invisible Touch”. “Desta vez estávamos um bocado enferrujados, mas não foi preciso muito tempo para voltarmos ao normal”, é normal que o digam. A “normalidade” em causa já os leitores a adivinham, caso se tenham dado ao trabalho de ouvir a obra anterior do grupo. Só para os outros o som será surpresa.
As canções são longas, chegando aos dez minutos, em média três por lado, de maneira a dar tempo ao tempo, a ver se acontece alguma coisa. Geralmente não acontece. A estrutura de cada tema surgiu a partir de improvisações em estúdio. O que significa que, na prática, foram tocando até aparecer um esboço qualquer parecido com uma canção. Ou, como diz Rutherford: “Começa-se a tocar e do caos acaba por surgir uma estrutura forte.” É uma força de expressão. Ou a força da inércia. Lá que a estrutura surgiu, surgiu. Digamos que com a força das grandes inutilidades, das que, na forma de disco, servem para atafulhar as prateleiras dos supermercados e fazem as delícias das nossas estações de rádio, tão apreciadoras de música a metro. Então este, pródigo em temas com a duração de “vou ali e já volto” que até dão tempo para lanchar.
Pois é, os Genesis já deram o que tinham a dar. Para sermos precisos, desde que Peter Gabriel resolveu abandonar o barco. Claro que as massas têm opinião diferente. “We Can’t Dance” até não é uma má opção para estrear o leitor de CD novo. Está bem gravado, as canções são agradáveis, sobretudo os primeiros cinco segundos de cada uma, e a capa é um mimo de cor e de bom gosto. Para falar com franqueza é mesmo o melhor: uma aguarela em tons pastel sobre um fundo creme repescado de “Selling England by the Pound” (bons gtempos…), e os dois sacos interiores cheios de figurinhas ilustrativas de cada tema, de novo a puxar a memória até aos tempos áureos em que o arcanjo ainda era militante da causa.
De resto, para além do título-tema que, vá lá, com um bocado de boa vontade não repugna chamar um “blues à Genesis”, como sugere a promoção, é curioso que o melhor momento de “We Can’t Dance” seja precisamente aquele em que Phil Collins não tem qualquer pejo em imitar de forma descarada o estilo vocalista, em “Dreaming while you sleep”. Escute-se a maneira como acentua as sílabas do verso “I never saw her step into the street” e compare-se. Até a base rítmica é parecida. E Phil Collins que tanto trabalho tivera para se livrar do estigma… Não faz mal, os mais novos, o público que hoje dá de comer à banda decerto já não se lembra… os Genesis, quando querem, até sabem ser “esquisitos” e “originais”. “Ó Isilda, põe pá frente questa é da treta!” – será o comentário ouvido em muitos lares.
Pese embora esta pequena traição ao consumismo, “We Can’t Dance” destina-se a fazer a felicidade de muitas famílias portuguesas. Para tal não lhe falta nada: a voz bem curtida e ginasticada por anos de “aerábica” “live aid” de Phil Collins (que em “Tell me why” não se esquece de inventariar um pacote sortido de injustiças sociais, nem de soltar, muito a propósito, um “porquê” angustiado), as cordas airosas de Rutherford, bem atiradas para a frente pelo produtor de serviço, sem esquecer as teclas por norma discretas, nalguns casos mesmo distraídas, de Tony Banks.
Passando em revista tudo o que foi dito, resta acrescentar que “We Can’t Dance” tem todas as condições para chegar ao topo dos tops. O resto é conversa. (5)
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