Y
9|MARÇO|2001
ao
vivo|escolhas
gotas
de perfume
Gosto
de espetáculos ao vivo, mas sou muito tímida. Fico nervosa e tenho sempre a
sensação que estou a revelar algo de essencial sobre mim. Sei que não é
verdade, mas é… uma sensação estranha. Goldfrapp
Amor.
Pop. Amor. Luzes. Amor. E um intenso aroma de perfume. “Felt Mountain”,
montanha de estranhos encontros amorosos iluminados por ainda mais estranhos
astros, é a primeira enunciação, fragrante mistura de amor e variedades, de
Alison Goldfrapp.
“Acredito nos extremos. Quando se
quer fazer uma canção doce, vale a pena que ela seja realmente doce. Todas as
coisas têm um lado romântico, mas também um lado negro. Nos melhores romances
de cada vida existe sedução, drama, doçura, perigo, solidão, corações destroçados”
disse ao PÚBLICO o ano passado. Para Goldfrapp a vida é feita de contradições.
Mas se a vida – e, já agora, a música – não se resolve numa via de sentido
único, ao menos que o caminho se faça com elegância. E uns olhos puros voltados
para o passado. Aromatizado num filme em 3D em que ela podia fazer de heroína,
boa ou má – que importa, se são a mesma pessoa? – de uma aventura de James
Bond.
“Pilots”, uma das muitas canções de
amor de “Felt Mountain”, lança no éter palavras como “the sound of you and me,
time twitching, murmurs of our, friendly machine”. Podiam ilustrar um filme de
David Lynch e saborear-se ao mesmo tempo que uma banda sonora de Nino Rota,
Ennio Morricone ou Angelo Badalamenti. Porque a música de Alison Goldfrapp
corre devagar como um filme ao “ralenti”, com o céu, a noite estrelada e um
toucador (que deverá ter fixo um espelho e onde deverão estar dispostos uma
peruca, frascos de perfume e muitas jóias espalhadas) em pano de fundo.
Tudo isto se combina para formar a
música que Alison Goldfrapp diz “escutar dentro da cabeça”. E para se penetrar
numa cabeça, não existe melhor porta de entrada do que uma alucinação de Lynch.
“Gosto de filmes que consigam criar contradições, desconcerto. Os filmes de
David Lynch têm isso. São oníricos, mas ao mesmo tempo contêm sempre uma boa
dose de absurdo. Parece uma banalidade mas a vida também é assim. Aquilo que
nos parece branco e preto é muitas vezes cinzento ou lilás. Amor.” Amor lilás.
Como o de “Blue Velvet”.
O cabaré de Kurt Weill, a pop francesa
dos anos 60 de Serge Gainsbourg e Françoise Hardy, o “easy listening” de John
Barry e Lalo Schifrin, a esquizofrenia romântica de Scott Walker e os lustres
vocais de Shirley Bassey e Liza Minelli baralham-se num rodopio de citações em
que o tempo deixa de fazer sentido. Foi ontem ou será amanhã a data marcado
para a escalada ao cume da montanha dos afetos?
Embora já tenha colaborado com
Tricky, Orbital, Add N to (X) ou no último álbum de Ian Simmonds (Juryman),
esta antiga estudante de arte na universidade de Middlesex é alheia ao alcance
da pergunta. Ela está noutro lugar, não se sabe bem onde, mas de certeza longe,
num mundo de sonhos.
“Não compreendo muito bem a maior
parte da música moderna. Os ritmos e esse tipo de coisas são um universo estranho
para mim”. Perfume de lilases.
GOLDFRAPP
Vila Nova de Gaia, Hard Club, sábado, 10, às
22h.
Bilhetes a 3500$00
Lisboa, Aula Magna, Domingo, 11, às 21h
Bilhetes a 3500$00 e 4500$00
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