Y
12|JANEIRO|2001
discos|escolhas
MATMOS
The West
8|10
BLECTUM FROM BLECHDOM
The Messy Jesse Fiesta
8|10
ELECTRIC BIRDS
Electric Birds
7|10
Excêntricos de luxos
A
distribuição em Portugal da editora americana Deluxe traz para já consigo três
objetos fascinantes, à margem dos parâmetros mais em voga na música eletrónica.
“The West”, terceiro álbum dos
Matmos (Drew Daniel e M. C. Schmidt), foi considerado um dos melhores discos de
1999 para a revista The Wire. Colaboradores remisturadores de Aerial M, Cul de
Sac, Pluramon, kid606, The For Carnation, Tortoise, Ladradford, Ground Zero e
Björk, os Matmos fazem em “The West” uma música difícil de catalogar na qual se
redimensiona o imaginário do western, através de processos que, numa primeira
leitura, requisitam todo o formulário identificável do pós-rock para, de forma
subliminar, lhe introduzirem o fator eletrónico. É usada instrumentação
acústica (violino, violoncelo, guitarras) para criar atmosferas de “saloon”
que, por força da repetição e de subtis sequenciações computorizadas, se
transmutam em “trompe l’oiel” sonoros e emissões de rádio galáctica. A uma
distância apesar de tudo considerável das cavalgadas épicas dos Godspeed You
Black Emperor! os Matmos estarão porventura mais próximos dos Gastr Del Sol,
enquanto inovadores de uma linguagem, o pós-rock, a necessitar urgentemente de
novas reformulações. Para que conste, o próximo trabalho da banda terá como
base as sonoridades de tecnologia médica.
Ainda mais estranhos são os Blectum
from Blechdom que, em termos gráficos, remetem para os “cartoons” dos Residents
ou Renaldo and the Loaf. A escuta mostra a atividade de cabeças com febre
tocadas pelo génio. Grooves cortados à lâmina pelos Severed Heads, samples de
conversas em contramão, breakbeats no “sítio errado”, loops em inversão de
marcha, humor a la Mr. Bungle, caixas de música com monstros dentro, esgares
Aphex Twin e toda a espécie de delírios colados num puzzle sem manual de
soluções, arrastam o ouvinte para uma terra de ninguém, fazendo desde já de
“The Messy Jesse Fiesta” a primeira grande surpresa de 2001.
No álbum de estreia dos Electric
Birds (Mike Martinez, patrão da Deluxe), com co-produção dos Matmos, apesar da
estranheza que parece caracterizar todos os lançamentos da editora,
descortinam-se com alguma nitidez as vigas que constroem o edifício: Steve
Reich, ambientes de digitalindustrial, saturação de software, em “Acoustic
orange” um andamento hipnótico falsamente acústico evocativo dos primeiros
Biosphere e, já no final, uma verdadeira canção com patente 4AD, seguida de uma
imagem impressa no mesmo formato dos Labradford que, se amenizam o som,
contrariam em absoluto a orientação estética do resto do álbum.
Os amantes do bizarro têm nestes
três discos com que se entreter para os próximos meses.
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