CULTURA
QUARTA-FEIRA, 5 DEZ 2001
Crítica
Música
À mesa com
Biosphere
Biosphere
Auditório de Serralves, Porto
1 de Dezembro, 22h
Sala esgotada
A montanha pariu um rato. A
montanha não, a biosfera. Biosphere, projeto multimédia do norueguês Geir
Jenssen, esgotou no sábado passado o auditório de Serralves, no Porto, mas
deixou um travo amargo na boca de todos os que esperavam luzes, imagens e
paisagens a a acompanhar as sonoridades rarefeitos e a eletrónica contemplativa
que podem ser escutadas em álbuns como “Substrata” (reeditado recentemente em
formato remasterizado) e “Cirque”. Em vez disso, apanharam com um indivíduo
tímido, sentado à mesa, em frente a um minúsculo “powerbook”.
Faltaram meios financeiros ou vontade à
organização, para trazer a Portugal o projeto completo, que ainda recentemente encheu
e maravilhou uma sala de grandes dimensões, em Londres, num espetáculo descrito
por alguns como memorável? A verdade é que Portugal teve apenas direito à
música e, mesmo esta, oferecida em deficientes condições.
Problemas técnicos afetaram a manipulação em tempo
real do computador, interpondo comprometedores silêncios ou súbitos apagamentos
do som, no meio de uma música que vale também como continuum para fazer funcionar
em pleno a sua dimensão onírica. Geir Jenssen teve mesmo que murmurar um tímido
“I’m sorry” (de resto a sua única intervenção falada...), o público reagiu com
compreensão, mas a verdade é que tudo soube a pouco, como se de uma audição
caseira dos discos se tratasse. Sob um foco de luz que passou do rosa ao azul,
com passagem pelo escarlate, contra um insondável fundo negro, o norueguês
pouco mais fez que mexer impercetivelmente os dedos sobre o teclado do
“powerbook”, dando ainda por cima a ideia de que os sons seriam na totalidade
pré-gravados, o que reduziu ainda mais a margem de comunicação e a
espontaneidade da sua performance.
Em vez do planetário, os planetas e estrelas
de Biosphere foram servidos à mesa como mero aperitivo. Ficou-se com fome.
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