QUARTA-FEIRA, 13 JANEIRO 1999 destaque
DESTAQUE
Xutos
com XX anos
De feios, porcos e maus os Xutos
& Pontapés passaram em 20 anos a clássicos do rock português. O
"sémen" – título do seu single de estreia – foi lançado a 13 de
Janeiro de 1979, entre o pó de uma sociedade recreativa de Campo de Ourique, em
Lisboa. Na altura em que o "punk" agonizava e o rock'n'roll
comemorava um quarto de século de existência. Faz hoje precisamente 20 anos.
"Chico Fininho" ensinara a cantar rock em português. Mas poucos acreditavam
em projetos a longo prazo. Volvidas duas décadas, com uma legião de fãs e um
culto atrás de si, os Xutos recolhem os louros de uma carreira onde o talento,
o suor e a crença se misturam em doses iguais. Vinte nomes importantes da
música portuguesa juntaram-se para gravar um duplo álbum de homenagem,
intitulado "XX Anos, XX Bandas", a editar no próximo dia 18, onde
contam a sua própria versão dos acontecimentos. Mas para Tim, Zé Pedro e Kalú a
estrada vai continuar depois das homenagens. Coberta, como sempre tem sido, de
poeira e de glória. O PÚBLICO entrevistou-os e ficou a saber o que eles pensam
de si próprios e das bandas que participaram no álbum. Porque "XX Anos, XX
Bandas" é também uma coleção de excertos da história dos outros.
Há 20
anos atrás, a música portuguesa confrontava-se com um dilema. Como é hábito, a
principal dificuldade estava em acertar o passo com o andamento lá de fora. O
que fazer quando em Inglaterra o "punk" já entrara em agonia e por cá
era ainda a descoberta de que era possível, afinal de contas, cantar rock em
português? A única vantagem estava na necessidade em andar depressa.
A 13 de Janeiro de 1979, na pequena
sala lisboeta da Sociedade dos Alunos de Apolo, em Campo de Ourique, voltou-se
uma página importante da música popular feita em Portugal. Foi aí que os Xutos
& Pontapés tocaram ao vivo pela primeira vez. Hoje, a duas décadas de
distância, percebe-se que o passado e o futuro se apertaram nessa sala enevoada
pelo fumo dos charros e encharcada em cerveja, ao som de compassos partidos, no
misto de violência e euforia que sempre acontece quando algo morre e outra
coisa diferente nasce em seu lugar.
Nessa noite, o "punk"
morreu apressadamente, mal balbuciara as primeiras obscenidades. Uma heresia
que em Portugal teve apenas dois papas: Os Faíscas (de onde nasceriam os Heróis
do Mar de Pedro Ayres de Magalhães) e os Aqui d'El Rock que clamavam "É
preciso violentar o sistema" ao mesmo tempo que violentavam os ouvidos de
quem os ouvia.
Mas acabara de haver uma revolução.
Com cravos ou sem eles, queria-se avançar rapidamente e em força, e romper com
a memória. Por isso a noite em que o rock 'n' roll festejou os seus 25 anos de
existência foi a mesma em que foi feito o seu enterro. Nela se soube da
existência de um Elvis português, Zeca do Rock, de seu nome artístico, que aí
teve a sua noite de glória e desapareceu. Foi neste cenário agitado que Os
Faíscas deram por terminada a sua missão "punk", deixando ainda para
a posteridade uma mistificação que permaneceu em segredo durante longos anos.
A revelação de Jójó Benzovac
Os Faíscas tocaram bem (segundo os
critérios em voga nessa época, ou seja, alto, depressa e a espumarem da boca).
Ou, segundo a opinião corrente, não tocaram mal. Muito melhor foi, ainda
segundo a opinião unânime dos presentes, a banda-mistério que tocou a seguir:
Jójó Benzovac e os Rebeldes. Quatro mascarados anónimos, com o rosto distorcido
por "collants" de senhora enfiados na cabeça. Esses sim, além de tocarem
melhor que os Faíscas, ofereceram uma música original. O rock português acabara
de encontrar nesta banda de encapuçados os arautos do futuro. A História,
porém, não teve oportunidade de confirmar as esperanças que então foram
depositadas no grupo. Para Jójó Benzovac e os Rebeldes essa foi a primeira e
única atuação ao vivo da sua carreira.
O grupo-fantasma não era senão uma
variante disfarçada de alguns dos músicos dos Faíscas, mais um grupo de amigos,
que desta forma se retiraram a coberto de um mito e de uma imensa gargalhada. Começou
aí outra história. Uma história que hoje cumpre 20 anos sem dar sinais de
querer parar nos tempos mais próximos. Das cinzas do "punk" nasceu,
nessa mesma noite de magia e comédia, uma das mais importantes bandas de rock
nacionais: os Xutos & Pontapés. Eles e os UHF asseguraram a sobrevivência e
continuidade do rock cantado em português, entre a hecatombe de dezenas de
outras bandas menores que abortaram nas manápulas da engrenagem.
Foram, de certeza, as duas únicas
que assumiram que o rock nunca foi um estilo de música mas sim uma atitude e,
quer se queira quer não, um estilo de vida. Só assim se compreende que a música
dos Xutos, não sendo hoje substancialmente diferente do que era há 20 anos
atrás, tenha sobrevivido e conquistado as preferências de, pelo menos, duas
gerações de ouvintes. Isto, mais a energia, a crença e a autenticidade.
Fabricantes de hinos
A música dos Xutos & Pontapés
renovou-se porque se renovou a capacidade dos seus elementos acreditarem nela.
Se, em diversas fases da carreira do grupo, a entrada e saída de músicos (Zé
Leonel, hoje nos Ex-Votos, Gui, saxofonista errante, Francis, tornado o Mike
Oldfield português) coincidiram, de algum modo, com os momentos de crise, elas
representaram também um processo de catarse e de procura de novas formas para –
e é isto que garante a coesão do núcleo principal formado por Tim, Zé Pedro e
Kalú – uma mesma essência.
Nessa noite de fantasmas, há 20 anos
atrás, celebrada na Sociedade dos Alunos de Apolo, os Xutos tocaram pouco
tempo, cheios de coragem e assolados pelo medo, entre a timidez e o
exibicionismo, numa luta sem tréguas com as guitarras, o baixo e a bateria. Mas
revelavam já uma virtude: eram genuínos.
Como os Stones
Ainda que as vendas dos primeiros
discos (os singles "Sémen" e "Toca e foge" e o álbum
"1978-1982", todos divulgados no programa "Rotação", de
António Sérgio) não correspondesse às expetativas e a imagem da banda ferisse
algumas sensibilidades, foi essa autenticidade que o público captou. Apesar de
alguma da sua produção mais recente revelar uma maior sofisticação – como a
sessão "unplugged" (isto é, sem amplificação), "Ao Vivo na
Antena 3", a banda sonora "Tentação" e "Dados
Viciados" –, os Xutos foram sempre fabricantes de hinos para as gerações
rebeldes. "Remar, remar", "Homem do leme", "Circo de
feras", "Contentores", "Quero mais", "Não sou o
único" ou "Longa se torna a espera" são palavras de ordem para
quem se alimenta de palavras de revolta, servidas por melodias cuja força e
simplicidade formam uma condensação perfeita da fúria, do espanto, da dúvida e
da loucura de quem avança sem olhar para trás. Um segredo que se encontra
exposto desde o início no próprio nome do grupo.
A estas características foram
sensíveis, por uma razão ou por outra, todos os artistas que participam em
"XX Anos, XX Bandas", por mais longe que estejam, em termos de
pressupostos estéticos, dos originais: Clã ("Conta-me histórias"),
Lulu Blind ("Quero mais"), Despe & Siga ("Vida
malvada"), Sitiados ("Maria"), Jorge Palma com Flak ("Nesta
cidade"), Cool Hipnoise ("Dantes"), Bizarra Locomotiva ("Se
me amas"), Ornatos Violeta ("Circo de feras"), Boss AC/Sam
("Não sou o único"), Quinta do Bill ("Homem do leme"),
Paulo Gonzo ("Chuva dissolvente"), GNR ("Quando eu
morrer"), Mão Morta ("Mãe"), Rui Veloso ("Negras como a
noite"), Censurados ("Enquanto a noite cai"), Ex-Votos
("Sémen"), Entre Aspas ("Doçuras"), Rádio Macau
("Morte lenta"), Da Weasel ("Esquadrão da morte") e Sétima
Legião ("Longa se torna a espera") . É fácil perceber as razões da
adesão de todos eles. Parafraseando o título do filme de Jerzy Skolimowski, os
Xutos & Pontapés são "o navio-farol" do rock português. O rochedo
e a bíblia por que se rege a geração de músicos mais novos. Como os recém
formados Os Corvos, quarteto de cordas com formação clássica influenciado pelos
Kronos Quartet e Apocalyptica que se dedica a executar versões de câmara de
temas dos Xutos.
Por isso há quem os compare aos
Rolling Stones. Como a banda de Mick Jagger, orgulham-se de ser feios, porcos e
maus. Mas cheios de classe. Com uma diferença: ao contrário dos Stones, os
Xutos não abdicaram de lutar.
Ainda antes da edição de "XX
Anos, XX Bandas", marcada para a próxima segunda-feira, é hoje lançado no
auditório da FNAC (em Lisboa), pelas 18h, o livro "20 Anos – Uma Fotobiografia
dos Xutos e Pontapés", editado pela 101 Noites e El Tatu, com imagens de
vários fotógrafos portugueses e legendas do jornalista Jorge Pires. A mesma
obra será apresentada no Porto, no próximo dia 30, também pelas 18h, na FNAC
Norte Shopping. Quanto ao concerto anunciado para próximo dia 15 no Pavilhão
Multiusos do Parque das Nações, foi cancelado devido a doença de um dos
elementos do grupo, o guitarrista João Cabeleira.
as bandas e
as canções na versão de Tim e Zé Pedro
Clã
TIM – A personagem da música é
feminina, há duas ou três músicas dos Xutos em que isso acontece, e foi a
primeira canção dos Xutos feita sobre uma relação amorosa. É também uma canção
muito direta. Não vou dizer que uma bandas são melhores do que outras, mas esta
versão é uma das minhas preferidas no disco, e os Clã têm feito um trabalho
muito bom, fico agradecido por se terem empenhado nesta versão. Os Clã também
tinham uma outra versão, menos conhecida, dos Xutos, que é a “Lei animal”.
ZÉ PEDRO – Nunca nos cruzámos na
estrada com os Clã, mas por tudo isto que o Tim disse, eles foram convidados
para o disco. [Para Tim], portanto, tu fazes a análise temática…
TIM – … E tu tratas do historial.
Lulu Blind
Z.P. – Foram a primeira e última
banda que produzi até à data. O álbum “Dread”, que saiu pela El Tatu.
Acompanharam-nos em digressão com os Bizarra Locomotiva e tocámos todos juntos
no Campo Pequeno, em 94. Sou amigo do Tó Trips, que é o autor da capa do disco
de tributo, ainda hoje somos companheiros de noite.
T. – Talvez sejam das poucas bandas
que sempre tocaram por prazer, por adorarem o que fazem. Isso não justifica
alguns exageros estéticos, mas são de facto bem formados, não se encontraram
por acaso numa esquina e decidiram tocar, são muito empenhados. Escolheram o
“Quero mais”, o lado b do nosso primeiro single, uma escolha que reflete o que
dizia sobre eles não fazerem as coisas por acaso. Foi das primeiras músicas que
fiz para os Xutos, e é um tema muito direto, básico e simples e é nisso que tem
a sua força. Os Lulu tropeçaram num problema, que toda a gente que toca
encontra, e eles deram a volta de uma maneira engraçada.
Despe & Siga
Z.P. – Foram a primeira banca com
quem fomos para a estrada, quando eram os Peste & Sida. Temos uma ligação
muito forte com eles.
T. – Lembro os Peste como o primeiro
grupo com a mesma maneira de estar que nós tínhamos, em relação à estrada e
fazer música. Esta versão é fruto do trabalho de grupo, o Luís Varatojo, não
desfazendo, parece-me o menos vivo na gravação, o que é sinal de que o tema foi
comandado pelo grupo. Ou seja, o Luís viu-se obrigado a cantar no tom que os
outros tocaram.
Sitiados
T. – Com todos os altos e baixos que
tiveram, os Sitiados sempre mantiveram aquele culto da febra, o lado popular e
festivo da música. Nesta versão do “Maria” tentaram chamar outra vez a alegria
que lhes faltou a meio da carreira. Usam o acordeão, que é apropriado à canção.
Esta música era um problema para nós nos concertos, porque não tinha a ver com
rock, não encaixava.
Z.P. – No Portugal Ao Vivo, em
Alvalade, tocámos juntos, o João Aguardela fez o “Chuva dissolvente” com os
Xutos. Fora inúmeros concertos em Coimbra, Festa do Avante e por aí fora.
Jorge Palma e Flak
Z.P. – O poema é do João Gentil,
personagem que eu conheci e depois apresentei aos Xutos. Era um poeta de Lisboa
e era frequente acompanhar o Palma a tocar na rua. Eu e o Kalú já tocámos com o
Jorge Palma na Palma’s Gang, para além de sermos amigos.
T. – Recebi uns quantos telefonemas
do Jorge por causa desta canção. Disse que queria o “Esta cidade” por ser uma
dupla homenagem, aos Xutos e ao Gentil, só que ele tem um problema com os
estúdios que é nunca acabar as coisas. Depois de algum tempo telefonou-me a
dizer que a canção estava a andar, mas só quatro semanas depois é que recebi
uma mensagem dele no meu telemóvel, a dizer: “Epá, já acabei a música, pá,
acabei… Estou em Veneza.” Falando da música – o Palma a solo propõe-se uma
tarefa exigente. Se apresenta as mesmas canções como músicos como o Flak ao
lado, cria momentos únicos, e é isso que ele faz com o “Esta cidade”. Esta
versão é única, e há mais uma ou duas no disco, como a do Rui Veloso e a do
Paulo Gonzo. São temas que eles fizeram extemporaneamente e não devem repetir
em concertos, o que é em si uma forma de homenagem bonita.
Cool Hipnoise
T. – Das versões mais
surpreendentes. Eles têm um trabalho de base rítmico muito, muito bom. No lado
melódico ou solista não são tão fortes. A outra versão nossa que fizeram
[“Remar, remar”], o problema era mesmo esse. Nesta deixaram os problemas para
segundo plano. O “Dantes” foi uma das nossas primeiras músicas de fusão, não se
encaixava bem no nosso estilo, e é engraçado o que fizeram à música.
Z.P. – A ligação histórica aos Cool
Hipnoise [faz uma pausa] é a versão do “Remar, remar” [risos].
Bizarra Locomotiva
Z.P. – O “Se me amas” só saiu em
single, com o “Submissão”. Os Bizarra também tocaram no Campo Pequeno, connosco
e com os Lulu Blind. Pela postura, quando apareceram eram os primeiros a usar o
sampler de forma interessante, chamaram-nos a atenção e daí terem sido
convidados para esse concerto.
T. – Quer o Armando quer o Sidónio
são dois personagens. O Armando é um músico de exceção, não é por acaso que
participa em tantos projetos. Trabalha muito e com coerência. A postura dos
Bizarra Locomotiva é extremamente violenta, já os vi várias vezes e, mesmo em
França, a opinião das pessoas é que eram um excesso. Mesmo os putos mais
malucos olhavam e diziam: “Não era tanto assim, mas valia matar uma galinha em
palco e tirar-lhe o sangue do que cantar aquelas coisas daquela maneira.” O “Se
me amas” é um tema odiado pela minha mulher, por representar o oposto do que
tínhamos falado sobre o amor. O discurso, nesta versão, está muito bem feito, é
subversivo.
Ornatos Violeta
Z.P. – O Porto esteve muito tempo
sem dar bandas ao país e os Ornatos vieram quebrar essa monotonia, de certa
forma levantaram a pedra para que outros se revelassem.
T. – Os Ornatos são daquelas bandas
que ainda vivem juntas, acreditam muito no conjunto, cheios de genica e gostam
de tocar. A versão do “Circo de feras”, que levou um toque na letra, revela
muito a mão do Mário Barreiros, um produtor que é uma sombra ao longo do álbum.
Nos Clã o toque do Mário não se nota, mas nos Ornatos sim, há uma altura em que
o tema começa a andar à roda e aquilo, não desfazendo nos Ornatos, é do
Barreiros.
Z.P. – É um tipo impecável e
trabalha como ninguém.
Boss AC & Sam
TIM – É um prazer ouvir o Sam a
cantar. Sempre achei que com o General D a voz dele perdia-se. Nesta versão do
“Não sou o único” as vozes juntam-se bem, o rap do Boss AC é engraçado e a voz
do Sam é muito melódica.
ZÉ PEDRO – O Boss AC apareceu
connosco em palco no Super Bock Super Rock, e também na segunda versão do
Portugal Ao Vivo. Cantou o “Estupidez”, tema que tinha gravado com os Xutos. O
Kalú já trabalhou com os Family, onde o Boss AC esteve. Quando pensámos em
trabalhar com um “rapper” o Boss AC foi a primeira escolha.
Quinta do Bill
T. – A versão do “Homem do leme”
mostra as duas faces da Quinta do Bill. São uma banda com formato clássico de
rock e têm influências celtas e de “folk”, audíveis aqui. O original tinha um
andamento rápido, a versão acústica da Antena 3 era mais lenta. Eles tocaram
uma parte de rock, muito acelerada, mas quando entra a parte “folk”, só com os
violinos, percebe-se que se fosse mais lento a melodia perdia-se. Acontece o
que apontei aos Despe & Siga, já que se tocassem noutro tom a voz estaria
melhor, embora o Moisés tenha cantado bem.
Z.P. – Não temos nenhuma ligação ao
vivo com a Quinta do Bill, embora o Tim já tenha tocado com eles. Nunca tivemos
grande proximidade, mas estão aqui na mesma.
Paulo Gonzo
Z.P. – Somos amigos.
T. – Estava à espera, por ser o
“Chuva dissolvente”, que a versão do Paulo tivesse um solo de harmónica, mas só
tem um solo de guitarra com umas harmónicas ao fundo. Em relação ao original,
esta marca mais as diferentes partes da música. Quanto à voz do Paulo Gonzo,
pode-se gostar ou não, mas é uma peça deste dominó.
GNR
T. – Houve um concerto connosco, os
GNR e os Silence 4 aqui há uns tempos. Enquanto estávamos nos camarins, mesmo
antes de atuar, entra o Rui Reininho e diz: “Pá, aquela história da versão,
estava a pensar em fazer o ‘Morte lenta’, achas bem?” e eu disse claro. Eles
pôs-se a cantar e percebi que queria dizer o “Quando eu morrer”. Depois
perguntou-me: “E achas que a gente trabalhe com o Mário Barreiros nisto?”.
Disse-lhe que era excelente ideia. A versão soa a GNR do futuro, não do
presente. Acho que se aproveitarem podem fazer um bom disco produzido pelo
Barreiros.
Z.P. – Fizemos demasiados concertos
com os GNR para enumerar.
Mão Morta
Z.P. – O “Mãe” é uma ótima música
para os Mão Morta. Os Mão Morta nunca quiseram assumir uma carreira, ela foi
acontecendo. Põem-se à margem do reboliço, são independentes.
T. – Há que realçar que eles tiraram
duas coisas ao original com o “sampler”. O refrão e a guitarra do Zé Pedro
servem de ponte entre a nossa versão e a dos Mão Morta. O Adolfo conta a
história melhor do que eu, mas no refrão socorreu-se do original.
Rui Veloso
T. – É surpreendente que o Rui
Veloso tenha trabalhado com o Armando, já que pertencem a géneros quase
opostos, um trabalha com a pureza do som, outro com o ruído. O Rui Veloso usou
uns truques para gravar a voz num tom tão grave, que já brincou comigo.
Z.P. – O Rui é uma figuraça e já nos
cruzámos muitas vezes. Assisti a um dos seus primeiros concertos e vi-o fazer a
primeira parte dos Police, quando o álbum dele tinha saído e havia uma certa
magia à volta da figura dele.
Censurados
T. – Uma das bandas mais próximas
dos Xutos. O Ribas estava sempre nos nossos concertos e os Censurados jogaram
um papel importante na criação da nossa editora, a El Tatu. A versão dispensa
grandes comentários, são os Censurados. Pesados e com entrega.
Z.P. – Os Censurados juntaram-se
para este disco. Eles passaram a ser os Tara Perdida, mas voltaram atrás no
tempo e ficamos agradecidos.
Ex-Votos
Z.P. – Um dos responsáveis pela
existência dos Xutos é o Zé Leonel, que era o nosso vocalista e deu-nos muita
força no arranque, uma fase delicada.
T. – Nesta versão de “Sémen”, uma
música que é do Zé Leonel, eles fizeram do melhor que conseguem.
Entre Aspas
Z.P. – Tocámos com eles uma vez. Não
estão aqui os nossos “amiguinhos” mas bandas, há uma razão musical para a
escolha. Nos Entre Aspas creio que se verifica outra vez a situação da voz ser
obrigada a seguir a banda. O original era mais despojado, eles usam máquinas e
outros instrumentos que enchem o som. Resulta bem.
Rádio Macau
Z.P. – Com os Rádio Macau temos uma
aproximação muito chegada [risos]. Pronto, eu vivo com a Xana. Este tema é um
passo importante para o regresso dos Rádio Macau, pois testaram a maquinaria
nova para os próximos trabalhos.
T. – É pena, como dizia o Zé Pedro
outro dia, que a “Morte lenta” tenha tão pouca letra porque a Xana fica
limitada a escassas palavras. A instrumentação está mais madura do que os
trabalhos anteriores, nota-se a evolução e isso deixa-me curioso quanto ao
futuro deles.
Da Weasel
Z.P. – O Pac [vocalista dos Da
Weasel] disse esperar que gostássemos tanto do tema como eles gostaram de o
fazer. Pois sim, gostámos.
T. – Parece-me que o “Esquadrão da
morte” é uma música muito significativa para os Da Weasel. Sempre tiveram
músicas bem feitas, e esta é mais uma prova dessa qualidade, pela produção e
pela agressividade demonstrada pelos vocalistas. A música podia ir por outro
lado, mas eles agarram-na com personalidade, gosto disso.
Sétima Legião
Z.P. – Partilhámos editora com os
Sétima Legião e já fomos produzidos pelo Ricardo Camacho, que viria depois a
integrar os Sétima. Vi-os a primeira vez como trio, tinham uma sonoridade muito
próxima de Joy Division e New Order.
T. – A Sétima Legião tem músicos
muito bons que fazem aqui uma versão sem espinhas. Não é por acaso que o
Camacho escolheu o “Longa se torna a espera”, canção que ele produziu quando
gravávamos o “Remar, remar”.
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