QUINTA-FEIRA, 17 JUNHO 1999 cultura
Concerto ameno no CCB
Canções para
os amigos de Suzanne Vega
MAL SUBIU para o palco, com uma guitarra acústica e um sorriso
tímido no rosto, Suzanne Vega foi recebida pelo público de Lisboa como uma
filha mimada. Ao fim de poucos segundos – na primeira das suas duas
apresentações em Portugal, a segunda aconteceu ontem, no Cinema do Terço, no
Porto – a cantora nova-iorquina tinha toda a gente na mão. O seu sorriso de
quem está em paz consigo mesmo, a sua simplicidade e o seu sentido de humor,
amplamente exercitado nos apartes e nas histórias que foi contando, são
desarmantes. Este foi, de resto, o aspeto mais interessante do concerto, o modo
como a cantora estabelece comunicação com o público, através de um tom
coloquial que emprega em simultâneo o didatismo, a improvisação e a
desmistificação.
Suzanne recordou
episódios da sua vida passada, as suas viagens (as raparigas más, embora não
seja bem o seu caso, ao contrário das boas, que vão para o céu, vão a todo o
lado e não para o inferno...), pediu desculpa pelo longo afastamento dos palcos
portugueses (já cá tinha estado há cerca de nove anos) e explicou por que razão
o assunto de uma das suas canções não é, definitivamente, o pénis. Satisfeita
com a resposta do público, convidou-o a seguir viagem com ela até aos próximos
espetáculos. Houve quem gritasse logo que sim. Suzanne sentiu-se em casa,
apaparicada, e relaxou. Acendeu a luz para as canções brilharem e elas
mostraram a vida que as anima. A magia da sua presença fez o resto.
Suzanne expôs-se,
no modo como se apresentou no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém
(CCB), armada apenas com uma guitarra acústica e as acentuações, no baixo
elétrico, de Michael Visceglia. Arriscou a ganhou. Servida por um som que
permitiu acompanhar em detalhe a letra de cada canção, a “cantora que tombou do
céu”, como já lhe chamaram, passeou o seu “charme” por canções como “Marlene on
the wall”, a abrir o concerto, “Small blue thing”, “World before Columbus”,
“Rock in the pocket (song of David)”, “In Liverpool”, “Rosemary” e “Blood
sings”, fechando com dois dos temas mais conhecidos, “Luka” e “Tom’s diner”,
este último “a capella” e com o público a acompanhá-la com estalos dos dedos e
a entoar com muito cuidado o refrão “hm hm hm hm hmhmhm”.
Voltou para os
encores, com mais uma série de exercícios de intimismo, entra as quais “The
queen and the soldier”, uma canção que, ela própria não sabe bem porquê, agrada
a toda a gente. Recompensada, afirmou que, por vontade dela, ficaria toda a
noite a cantar canções de enfiada, se não tivesse ainda que apanhar o avião
para o Porto. Canções que não perderam pitada da sua força no formato reduzido
com que foram apresentadas, dando razão à sua autora quando, na entrevista ao
PÚBLICO, declarava ser em primeiro lugar uma compositora e só depois uma
cantora. Mais do que um concerto, a atuação de Suzanne Vega foi o reencontro de
velhos amigos que, ao fim de uma longa e dolorosa separação, puseram a conversa
em dia.
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