cultura SEGUNDA-FEIRA,
10 MAIO 1999
Ala
dos Namorados soltam canções no CCB
Beijar
perdidamente
“SOLTA-SE
O beijo” e solta-se a música da Ala dos Namorados, agora, mais do que nunca,
apostados em deixar de ser uma banda de culto. O concerto do grupo de João Gil,
Nuno Guerreiro e Manuel Paulo, sábado, no Grande Auditório do Centro Cultural
de Belém, em Lisboa, constituiu um passo gigantesco nesse sentido.
Com um alinhamento idêntico ao do
álbum ao vivo “Solta-se o Beijo”, a Ala dos Namorados ofereceu um espetáculo
sem falhas e recheado de boas canções. As mais antigas e as novas. Novas, é
como quem diz. “Não tragais borzeguis pretos”, por exemplo, foi composta por
Gil, “no século XVI…”. Do cabaré à música de variedades, do namoro com a folk e
a clássica ao fado, das memórias brasileiras a inflexões “jazzy” animadas por
um swing subtil, a Ala soltou-se num beijo que levou a assistência a aplaudir
de pé.
Tudo brilhou: os castiçais com velas que iluminavam o palco
de mistério, os acentos tímbricos e os rendilhados dos clarinetes de José
António Santos, as vagas de piano de Manuel Paulo, a fonte de reflexos
acústicos da guitarra de João Gil. E, obviamente, a voz de Nuno Guerreiro, em
viagens entre a terra e o céu. Uma voz que em “Alice” foi um espetáculo dentro
do espetáculo.
As vozes convidadas das Vozes da
Rádio fizeram miséria na forma como se movimentaram, dentro de um mesmo tema,
entre a sátira e a elevação. Sara Tavares fez com que as palavras escritas por
Catarina Furtado para a canção “Solta-se o beijo” ganhassem uma segunda vida.
Já no mais do que merecido período de “encores”, Nuno Guerreiro cantou nas
alturas um fado com dedicatória a Amália. E com todos os músicos reunidos em
palco a cantarem em conjunto com o público “Perdidamente”, de Luís Represas,
atingiu-se a euforia.
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