02/08/2016

Chet Atkins & Mark Knopfler - Neck And Neck

Pop Rock
1990

CHET ATKINS & MARK KNOPFLER
Neck and Neck
LP e CD, CBS, distri. CBS portuguesa


Dois heróis da guitarra, de duas gerações distintas, juntam-se para glorificar o instrumento. Chet Atkins é uma lenda viva, considerado pela revista “Guitar Player” como um dos guitarristas cujo estilo mais influenciou outros músicos. Foi um dos criadores do denominado “Nashville sound”, matriz essencial da “country music”, cimentada nos cânones tradicionais acrescidos de doses industriais de eco e outros efeitos eletrônicos. Depois de 36 anos na RCA, passou-se para a Columbia e foi acusado de abandonar a “country” para se entregar às práticas suspeitas da “new age” e do jazz. Mark Knopfler, “Sultão do Swing”, todos o sabem, faz parte dos Dire Straits. Trabalhou com Dylan, Van Morrison, Bryan Ferry e Phil Everly, entre outros. Produziu a superbanda caquética Notting Hillbillies e, não pondo em causa as suas inegáveis virtudes como instrumentista, assinou xaropadas intragáveis como a banda sonora de “The Princess Bride”. Chet e Mark já antes haviam tocado juntos. Ao vivo, como toda a gente, no concerto a favor da Amnistia Internacional. Em estúdio, no álbum do primeiro, “Stay Tuned”. Ambos partilham a paixão pela sonoridade da guitarra Gibson. “Neck and Neck” é, na personalidade e no som, sobretudo um disco do mais velho e, de certo modo, ainda bem que assim é, pois mais simples foi evitar as facilidades com que o homem dos Straits por vezes condescende. Mesmo assim ainda conseguiu meter uma composição sua a fechar o disco: “The Next Time I’m in Town”. Nada de pânico, porém – a faixa não destoa e Mark até finge ser um entendido da “country”. “Country”, da pura e dura, só “Just one Time” (de Don Gibson), e “Yaketi Axe” (de Boots Randolph, James Rich e Merle Travis, com violino e “dobro” e dança no celeiro). De resto a “música do campo” serve de pretexto para outras aventuras e sons mais contemporâneos. “Sweet Dreams” (também de D. Gibson), por exemplo, é um tema belíssimo, instrumental lento e misterioso, vogando nas cadências noturnas das guitarras (incluindo a “pedal steel”), como se Peter Pan espreitasse em “slow motion” às janelas da cidade adormecida. “There’ll be some Changes Made” (Billy Higgins) insere o tom de comédia das palavras no “boogie” atmosférico e nostálgico, ilustrativo de um filme antigo, a preto e branco e sem legendas. Em “So Soft, your Goodbye”, aflora o espectro delicodoce de “The Princess Bride”, mas a pungência do violino é sincera, evoca tragédia e abandono, suspiros lancinantes e pancadas no peito, melodrama talvez sem final feliz. Violino distraidamente triste em “Tears” (assinado pelos monstros da guitarra, Django Reinhardt, e do arco na corda, Stephane Grapelli), lágrimas vertidas por uma “star”, cadente e decadente. Felizmente que nem só de tristeza vive o disco. Em “Tahitian Skies” há azuis de céu a tocar o oceano, sempre de Verão. Conchas, ananazes, Tahiti duche, cruzeiros de nunca mais voltar. Felizes as guitarras, sorridentes. E no “swing” de “I’ll See you in my Dreams”, dançam abraçadas. “Neck and Neck” desliza como uma brisa morna. Sem sobressaltos. Exercício descontraído e descomprometido de dois grandes guitarristas. Música suave e calorosa, de guitarras levitando num silêncio de cristal. ***

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