28
de Julho 2000
Gaiteira galega na Fábrica da Pólvora, em Oeiras
Susana,
a transgressora
SUSANA SEIVANE. Só o nome escorre
musicalidade. Confesso: sou um admirador fanático desta jovem com pouco mais de
20 anos de idade que ajudou a derrubar um dos preconceitos mais enraizados nas
tradições musicais da Galiza. Aquele que preconizava ser a gaita-de-foles,
instrumento nacional galego, pertença exclusiva dos homens. Susana Seivane
mandou à fava os costumes e é hoje aclamada unanimemente como um dos expoentes
deste instrumento, mesmo por aqueles que a princípio terão ficado chocados com
tamanha desfaçatez.
Criada
no seio de uma família de músicos e construtores de gaitas da Galiza, os
prestigiados Seivane, Susana começou a sua aprendizagem musical aos 3 anos de
idade, com o seu pai, Alvaro Seivane, dono de uma oficina de construção de
gaitas em Barcelona. O avê, Xosé Seivane, fabricava por sua vez este
instrumento numa oficina em Lugo. Aprendidos os rudimentos da afinação e da
digitação na ponteira, a jovem Susana foi presenteada pelo pai com a sua
primeira gaita-de-foles completa. Uma gaita em formato miniatura, de forma a
poder ser manuseada como comodidade pela infanta.
Pouco
tempo depois entra para a banda tradicional Toxos e Xestas e começa a ser notada
nos festivais por onde passa. Ricardo Portela, figura lendária da geração mais
velha de gaiteiros, é um dos que ficam impressionados com o talento da jovem.
Logo a seguir Susana entra para os Remuxeiros de Elviña, de Bieiro Romero, que
viria a notabilizar-se nos Luar na Lubre. Bieito ensina a Susana a apurar o
estilo e esta responde assumindo-se como solista de inconfundível técnica e
originalidade.
O
último impulso da sua carreira é dado por uma aparição, em 1997, na Televisão
da Galiza, num espetáculo onde também estão presentes os Milladoiro. Daí até ao
envolvimento de três músicos deste grupo histórico – Xosé Ferreirós, Nando
Casal e Rodrigo Romani – na gravação do álbum de estreia da gaiteira, foi um
passo.
“Susana
Seivane” é editado em 1999 no selo Do Fol e torna-se de imediato num clássico.
Além dos três Milladoiro participaram igualmente nas gravações Beto Niebla, de
Os Cempés, Anxo Pintos, dos Berrogüetto e Xosé Liz, dos Beladona. O álbum
impressiona pelo virtuosismo mas também pelo extremo bom gosto dos arranjos e
das composições originais, das quais “Sabeliña” é uma rumba da autoria da
própria Susana.
Sem
se darem conta, os homens tinham-se deixado apanhar. Carlos Nuñez, Anxo Pintos
e Xosé Manuel Budiño, três dos atuais mestres da gaita galega, olham para o
lado e veem uma insinuante rapariga a tocar gaita-de-foles como se nunca
tivesse feito outra coisa na vida.
No
espetáculo desta noite, no âmbito das iniciativas culturais do festival Sete
Sóis Sete Luas, Susana Seivane será acompanhada por Brais Maceira (acordeão),
Beto Niebla (percussão), Tonecho Castelos (guitarras e teclados), Xurxo
Iglésias (teclados) e Sónia Libidinsky (voz e percussão).
Dado
o local do espetáculo, prevê-se um concerto explosivo.
SUSANA
SEIVANE
Oeiras, Fábrica da Pólvora, 22h.
Entrada livre.
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