17/08/2016

Roberto Musci & Giovanni Venosta - A Noise, A Sound

Pop Rock

13 JANEIRO 1993

ALDEIA GLOBAL

ROBERTO MUSCI & GIOVANNI VENOSTA
A Noise, A Sound
CD Recommended, import. Contraverso

            Em música, nem tudo afinal está inventado. Roberto Musci e Giovanni Venosta possuem a faculdade de, a cada novo disco, nos surpreenderem. Com ideias impensáveis e sínteses de elementos recolhidos de toda a parte, como se o universo fosse (e é, de facto) uma fonte inesgotável de sons. “Water Messages on Desert Sand” e “Urban and Tribal Portraits”, os dois trabalhos prévios da dupla (aos quais se poderá juntar o álbum a solo de Musci, “The Loa of Music”), são dois clássicos da música de fusão, no significado mais nobre que o termo pode ter. Musci e Venosta recolhem, cortam, colam, alteram e descontextualizam os sons (todos os sons), manipulando-os de forma a criar o que se poderá classificar de música absoluta – concordância plena da tecnologia com as sonoridades étnicas.
            Neste novo álbum, havia a curiosidade de saber se a dupla cederia à tentação de se limitar a reproduzir os mesmos esquemas, que tão bons resultados tinham produzido nas obras atrás citadas. Se é certo que os dois fazem gala em exibir a lista, cada vez mais extensa, das gravações sampladas, a verdade é que tal tática serve desta vez objetivos diferentes. O próprio conceito de “aldeia musical global” (utilizando uma aproximação ao enunciado de MacLuhan) sofreu desvios e novas enunciações. Onde se poderia esperar uma espécie de “world music” mutante, à imagem dos álbuns prévios, surge em vez disso uma construção mais abstrata, como se os elementos folclóricos utilizados não passassem agora de peças de um novo “puzzle”, ainda mais complexo e apontado a um tipo inteiramente novo de referências. Neste aspeto, “A Noise, A Sound” aproxima-se por vezes da estética de ruído harmonizado dos Biota ou da violência sónica das duas obras capitais (de síntese/mistura/delírio) de Fred Frith, “Gravity” e “Speechless”.

            Como tudo o que estes italianos produziram até à data, trata-se de um objeto que reivindica uma sistemática própria, único na forma como idealiza, organiza e reproduz os sons. Desde o primeiro tema, no qual sons de macacos, um jaguar e um clarinete da Amazónia são manipulados pelos “samplers” até soarem a um “blues” dos confins da galáxia. De surpresa em surpresa, avança-se através de um túnel de harmonias bizarras e jogos de contrários, em que nada é o que aparenta ser, jogo de espelhos deformantes, fábrica de realidade fractal, que se auto-reproduz até ao infinito. Atualização plena da mónada primordial que o título refere: um ruído, um som. Música em estado puro. (10)

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