09/08/2016

Edie Brickell & New Bohemians - Ghost Of A Dog

Pop Rock
5 de Dezembro 1990
LP’S

FANTASIAS

EDIE BRICKELL & NEW BOHEMIANS
Ghost of a Dog
LP e CD, Geffen, distri. WEA

O fascínio começa pela capa – a imagem, pintada à mão em tons antigos e esbatidos, de uma casota de cão, abandonada, no mato das traseiras. Em frente, roupa estendida ao vento. Título do álbum: “Ghost of a Dog”. Pressentem-se fantasmagorias e bizarrias variadas, ainda por cima agora que nos deixámos enfeitiçar pelos pesadelos luminosos e televisivos de David Lynch.
Tremem pois um pouco, as mãos, ao pousar o disco no prato – de excitação e vontade de sentir arrepios auditivos. No final da primeira canção, aqueles que se confrontam pela primeira vez com a voz de Edie Brickell, desconhecedores do campeão de vendas que foi o álbum de estreia “Shooting Rubberbands at the Stars”, sentem um baque e correm a verificar se não houve engano. É que a voz parece decalcada de Suzanne Vega – o mesmo timbre incisivo e caloroso, altura e projeção idênticas, criam a ilusão (perfeita, em canções como “He Said”, “Ghost of a Dog” ou “Strings of Love”) de se tratar do canto daquela que em breve atuará ao vivo entre nós.
Passado o impacte causado por tal semelhança, presta-se atenção às canções e à música propriamente dita. Não espantam nem prendem de imediato. Há uma discrição e uma profundidade que se captam somente após sucessivas audições, deixando então antever imagens e alusões que, à primeira vista, não se adivinham. Oculto na estrutura em forma de balada, por vezes de tonalidades “country”, da maioria dos temas, encontra-se um elemento de estranheza que os textos, de resto, se encarregam de reforçar – “I’m feeling feelings like I never felt before,/ .../ ten thousand demons are scratchin’ at my feet,/ ten thousand angels are flying through my heart,/ whispering secrets and tearing me apart,/ ten million people close their eyes to sleep,/ ten million people pray the Lord my soul to keep” (em “10.000 Angels”). Como a própria Edie acentua, trata-se de um processo de auto-estimulação emocional, passado posteriormente para o ouvinte recetor: “If you write something that interests you on an emotional level, you can assume that it will do it to other people too”.

Os fantasmas vão naturalmente aparecendo. Instala-se aos poucos a inquietação. Sugerem-se perversões que não julgaríamos possível existir, sedimentadas no fundo da aparente tranquilidade à superfície, como a crueldade latente no tema que dá título ao álbum, assombrado pelo fantasma de um cão abandonado há anos pelos donos. Ou as pequenas maldades cometidas contra pequenos animais marinhos, em “Me by the Sea”, que encerra com cores psicadélicas um disco cujos segredos só aos poucos se deixam revelar. ***

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