15/11/2016

Luís Represas perdidamente feliz

CULTURA
QUINTA-FEIRA, 5 ABR 2001

Luís Represas perdidamente feliz

CELEBRAÇÃO DOS 25 ANOS DE CARREIRA

Uma orquestra sinfónica, Fausto e Davy Spillane, e as canções, das “incontornáveis” às “herméticas”

Fez parte dos Trovante antes de se lançar numa carreira a solo que o projetou para um lugar de prestígio junto de uma legião imensa de fãs. Talvez porque ao longo de toda a sua carreira Luís Represas se tenha mantido próximo das pessoas. O "retrato de uma pessoa normal, uma pessoa comum, que tem uma família, uma pessoa que sai à rua, que vai às compras, à praia, que se mistura com as outras" porque "o Luís Represas que está em cima no palco é o mesmo Luís Represas que anda na rua", diz. "Quando abraçamos uma vida que é de exposição, não podemos depois começar a usar um chapéu enterrado até aos olhos e uma gabardine por cima, para não nos conhecerem na rua".
            Tem a carreira que quis e pelo menos um clássico da canção portuguesa no bolso, "Perdidamente". E um sonho, poder cantar um dia ao lado de Joni Mitchell. Está a fazer 25 anos de carreira e tenciona comemorá-los condignamente – em dois grandes espetáculos marcados para amanhã, em Lisboa, no Pavilhão Atlântico, e no Coliseu do Porto, a 10 de Abril (terça-feira).
            Serão ambas ocasiões especiais nas quais o antigo músico dos Trovante se fará rodear de uma série de convidados e de uma orquestra de 58 elementos para interpretar canções de várias fases da sua carreira, incluindo algumas do mais recente álbum, "Código Verde", editado em Outubro do ano passado, um disco feito "com maior tranquilidade", como "O que vai ser (juro que vi)", "O zorro", "O lado bom da saudade" ou "Quem disse (porque te amava)". As "incontornáveis, em termos de importância que tiveram nestes anos todos", mas também outras "que foram vitimizadas pela ditadura do single" e "que viram pouco a luz dos palcos", como "Quando me perco" ou "As sombras". "Não quis muito que este espetáculo fosse um espetáculo de 'hits' mas que entrassem canções que tiveram importância em cada um dos discos e em cada uma das minhas fases".
            Para fazer isso Luís Represas vai poder contar com o suporte de uma orquestra sinfónica (a Sinfónica Juvenil, com direção de José Calvário). O conceito "grupo pop mais orquestra" será, todavia, diferente do habitual. Represas explica: "Normalmente quando se junta um grupo de música pop e uma orquestra sinfónica, aparecem grandes arranjos sinfónicos. Aqui a relação é ao contrário. É a orquestra que se junta aos arranjos do grupo, trazendo uma mais valia sonora, um som que permite ir mais além".

Homenagem a Fausto
Durante cerca de duas horas, sem intervalo nem ordem cronológica, passarão pelo palco músicos convidados, "que tiveram importância nestes 25 anos" para o aniversariante, como Manuel Faria e João Gil, seus antigos companheiros nos Trovante, o pianista Bernardo Sassetti, que foi o produtor de "Cumplicidades", Davy Spillane, virtuose irlandês das "uillean pipes", que já tinha tocado num anterior concerto de Represas, no CCB, e participado igualmente em "Cumplicidades" e, sobretudo, alguém que nos últimos anos é raro ver e ouvir ao vivo, o cantor e compositor Fausto. "Teve uma importância muito grande na minha forma de compor e de escrever, na minha formação enquanto músico. Além disso tocámos muitos anos juntos". Fausto vai ter um espaço reservado só para si na festa de anos de Represas. "Será uma forma real de homenagear, não só o Fausto, como todo um grupo de músicos que foram fundamentais para a nova música portuguesa".
            "Durante estes 25 anos fiz a música que quis, como quis, com quem quis e onde quis". Um músico realizado. "Não se pode querer mais, não me posso sentir melhor, ter mais motivos para olhar para trás com um sorriso ". Um músico feliz. "Sem uma meta a atingir, ou quase...". Não tem problemas em arriscar. "Posso dar-me à liberdade de fazer canções mais imediatas como 'Ao canto da noite' e outras tão herméticas como 'Cinco estradas' (por sinal, uma das grandes canções de "Código Verde").
            Apenas um sonho por cumprir, mas mesmo esse não chega para lhe "tirar o sono": "De todos os músicos do mundo, aquele com o qual gostaria mais de ter uma relação musical, a que me daria mais prazer, é a Joni Mitchell. Seria fantástico!".

LUÍS REPRESAS
(com convidados)
Lisboa, Pavilhão Atlântico, amanhã. Às 22h.
Bilhetes entre 3500$00 e 6500$00.
Porto, Coliseu, dia 10. Às 22h.
Bilhetes entre 2750$00 e 5000$00.


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