28/11/2016

Rosa dos ventos [Festival Sete Sóis Sete Luas]

CULTURA
DOMINGO, 22 JUL 2001

Rosa dos ventos

DONA ROSA ATUOU NO SETE SÓIS SETE LUAS

Dona Rosa e Bana foram as estrelas da companhia de mais uma jornada do Festival Sete Sóis Sete Luas. Um evento em que Camané foi, para já, o grande triunfador

Não foram famosos os dias de terça e quarta-feira do festival Sete Sóis Sete Luas, na sua extensão toscana. Depois do grande fado e da grande voz de Camané e das versões sonambúlicas, mas apesar de tudo personalizadas, de Lula Pena, a Villa Malaspina, em Montecastello, acolheu um concerto duplo com Dona Rosa e o grupo alentejano Viola Campaniça.
            Dona Rosa, a pedinte que num golpe do destino virou estrela de world music, cantou como sempre cantou pela vida fora. Com o coração e uma voz não tratada (ou intratável?). Teve nas mãos os ferrinhos que sempre a acompanham e, a seu lado, um acordeonista, Enzo D’Averso, cuja função se limitou, na maior parte do tempo, a dar o tom, na melhor das hipóteses a criar um contraponto para a voz monocórdica da “cantora” que o etnomusicólogo José Alberto Sardinha apresentou como descendente dos antigos músicos “routiers” medievais. Pode ser. Mas cantar num concerto não é como cantar na rua. Dona Rosa estava nervosa, tossiu para o microfone, tentou projetar a voz com arremedos de fadista que não é. O pouco tempo que esteve exposta à apreciação pública, ao vento e à curiosidade, teve mais exotismo que emoção.
            José Alberto Sardinha apresentou igualmente, acompanhando com considerações teóricas, os dois tocadores de viola campaniça e as três cantoras que compõem o grupo proveniente de Castro Verde. Se, no dia anterior, a música funcionou, enquadrando-se as modas alentejanas na festa-refeição montada por Dario Cecchini, esta segunda apresentação jamais conseguiu ultrapassar o facto de não haver, ou haver deficiente, som de retorno. As cantoras não conseguiram ouvir as campaniças. Daí até saírem de tom foi um passo.
            Infelicidade que não chegou para apagar a boa impressão deixada na véspera. Quarta-feira, Bana regressou à Piazza Cavour, em pleno centro de Pontedera, exatamente o mesmo local onde atuara dois anos antes neste mesmo festival. Nessa altura, a comunidade cabo-verdiana de Pontedera, presente em força, fez a festa, dançando e puxando pelos músicos. Não aconteceu o mesmo este ano. O que significou, logo à partida, ambiente mais frio. Depois, Bana está mais velho, denotando cansaço e falhas na voz. O seu grupo, embora competente como sempre, também facilitou. Dificilmente se descortina já na sua música fusão de funk, funaná e música de bar, a raiz musical do arquipélago. O ritmo continua presente, é certo, mas raramente com o piloto automático desligado. Tiradas as medidas ao que, amiúde, soou como música a metro, a mais-valia acabou por vir da cantora convidada Ana Firmino, que pôs dignidade e autenticidade no que, sem ela, roçou a sensaboria.
            É provável que o Sete Sóis Sete Luas volte a subir de nível este fim-de-semana. Depois de ontem ter atuado o grupo do acordeonista Riccardo Tesi, num espetáculo de título genérico “Acqua, Foco e Vento...”, inteiramente centrado nas tradições da chamada “Toscana Minore”, Rodrigo Leão atua esta noite em Pontedera, fechando o ciclo musical, até quarta-feira, 25, com os italianos Vox Populi, La Macina e Fratelli Mancuso. Camané foi, para já, o grande triunfador.

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