01/11/2016

Música dos Índios da Amazónia e dos EUA no Cantigas do Maio

CULTURA
SEXTA-FEIRA, 31 MAI 2002


Música dos índios da Amazónia e dos EUA no Cantigas do Maio

ÚLTIMOS CONCERTOS DO FESTIVAL

A cantora brasileira Marlui Miranda, principal nome do cartaz, leva ao Seixal um mega-espectáculo com base na música indígena da Amazónia

Vai ser uma coisa em grande, o espetáculo de encerramento do 13º Festival Cantigas do Maio do Seixal. Pela primeira vez na sua história, o Cantigas receberá, a fechar, amanhã, na Fábrica Mundet, um único artista, em vez dos dois habituais. “Um” é como quem diz. Marlui Miranda, pois é ela a eleita, não vem só, mas acompanhada por uma quantidade de músicos que constituem a Camerata Atheneum, grupo de música de câmara fundada em 1983 pelo violinista romeno Lucian Rogulski.
            O espetáculo será dividido em três partes. Na primeira, Marlui Miranda — que sobre si própria diz “Eu não sou uma intérprete de música brasileira, sou uma intérprete da música indígena da Amazónia brasileira” — terá a seu lado a Camerata para apresentar “Kewere” (“rezar”), missa indígena que engloba temas dos índios Aruá, Tupari e Urubu-Kaapor, a partir de textos em língua Tupi recolhidos no séc. XVIII pelo padre jesuíta José de Anchieta, que Marlui Miranda considera” o primeiro poeta da história do Brasil”.
            Segue-se uma segunda parte preenchida por música instrumental interpretada pela Camerata Atheneum, de compositores brasileiros do séc. XX, como Tom Jobim, Ary Barroso, Carlos Gomes, Ernesto Nazareth, Luiz Bonfá e Heitor Villa-Lobos — este último, foi o primeiro a usar nas suas partituras a lírica e o canto dos índios da Amazónia.
            A terceira e última parte conta com Marlui Miranda, a Camerata Atheneum e três músicos convidados, Caíto Marcondes, Ruriá Duprat e Mauro Domenech, para a apresentação de “IHU” (“Todos os Sons”, na língua dos índios Kamayurá). Todos mesmo, incluindo a música sobrenatural e o som dos espíritos que assombram a floresta amazónica. “IHU” foi editado em disco em 1995, com as colaborações de Gilberto Gil e dos Uakti. “Kewere” saiu dois anos mais tarde, ambos os CDs com o selo “Pau Brasil”.

Vanguarda étnica
Marlui Miranda é uma etnóloga e uma feiticeira. Na sua música e na sua voz “sui generis” cruzam-se a atitude vanguardista de uma Laurie Anderson ou de uma Meredith Monk com uma faceta étnica” profundamente enraizada. Junte-se a grandiosidade do conceito e teremos certamente uma noite que ficará na memória.
            Mas o Cantigas do Maio tem hoje outros dois nomes em cartaz: o multinstrumentista turco Birol Topaluglu e o trio vocal de mulheres índias americanas da Carolina do Norte, Ulali. Birol foi engenheiro eletrónico antes de dedicar-se a tocar música tradicional da região do Laz (no Sul do Cáucaso) e instrumentos como o “tulum” (gaita-de-foles do laz), o “chonguri” (cordofone), o “p’ilili” (sopro) e o “g’uni” (percussão). Em paralelo com os temas tradicionais Birol interpreta canções da sua autoria, gravadas nos álbuns “Heyamo” e “Aravani”.
            As Ulali (“o canto do tordo”, no dialeto Tuscaroran, só palavras exóticas...) são Pura Fe, Soni e Jennifer. Começaram a cantar há 16 anos e foram o primeiro grupo índio a juntar os sons tradicionais (dos índios Apache e Tuscaroran da Carolina do Norte mas também o “blues” arcaico, o gospel e a música pré-colombiana) a técnicas de canto contemporâneas. Já acompanharam Miriam Makeba, Sting, os B-52’s e Buffy St. Marie (lembram-se de “Soldier blue”?) que, por acaso, também é índia.
            No capítulo dos comes e bebes, acompanhados por música “in loco” e “à la carte”, estarão a tocar no sábado, na tenda-convívio, os galegos Zurrumalla. Para o que der e vier.

XIII Cantigas do Maio
BIROL TOPALOGLU + ULALI
SEIXAL Fábrica Mundet - Largo 1º de Maio
Hoje. Às 22h
MARLUI MIRANDA c/ CAMERATA ATHENEUM
SEIXAL Fábrica Mundet - Largo 1º de Maio
Amanhã. Às 22h.
Entrada livre

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