05/11/2016

Peter Erskine, o baterista que descarrega a bateria

CULTURA
SEXTA-FEIRA, 22 NOV 2002

Peter Erskine, o baterista que descarrega a bateria

A bateria de Peter Erskine é uma câmara de segredos. Para desvendar esta noite, em concerto na Culturgest, em Lisboa

Piano-contrabaixo-bateria. O formato que Bill Evans erigiu como templo faz de há muito parte da história do jazz. O que já é menos vulgar é ser o baterista e não o pianista a desempenhar a função de líder. O mais recente trio do baterista Peter Erskine, com Rita Marcotulli no piano e Palle Danielsson no contrabaixo, pertence a esta última categoria. Atuam esta noite no Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa.
            Erskine insere o silêncio entre o clamor dos tambores. É daqueles bateristas que sabem acariciar e escutar os murmúrios. Descarregar a bateria do seu fardo mais pesado. Eclético, tem uma baqueta no jazz, outra no rock, outra ainda no contexto do trio em questão, no que ele próprio define como uma “nova música antiga”, ponto de cruzamento e de diálogo entre o jazz, a música popular e a música clássica. O Grammy que conquistou na categoria “Modern Drumming” assenta-lhe bem.
            Entrou no jazz aos 18 anos (tem 47) pela porta grande da orquestra de Stan Kenton. O tempo pertencia então aos que tentavam levar o jazz para o ritmo do rock. Erskine empenhou-se na tarefa, integrando os lendários Weather Report (nos álbuns “Mr. Gone”, “Night Passage”, “Weather Report” e “8:30”) e Steps Ahead, ou em colaborações com Maynard Ferguson, Kenny Wheeler, Chick Corea, Joe Henderson, Jaco Pastorius, Freddie Hubbard, Michael Brecker, Sadao Watanabe, Gary Burton, Pat Metheny e John Scofield, entre outros, tudo gente sem preconceitos puristas. Mais próximo ainda do “outro lado”, acompanhou os Steely Dan e Joni Mitchell.
            A subtileza da sua música não passou despercebida a Manfred Eicher que, sensível ao som de câmara do seu trio com o pianista John Taylor e com Pale Danielsson no contrabaixo, lhe proporcionou a gravação para a ECM dos álbuns “You Never Know”, “Time Being”, “As It Is” e “Juni”. Formaria a seguir a sua própria editora, Fuzzy Music, onde juntou pontas dispersas do seu trabalho mais antigo, em “Behind Closed Doors”.
            Rita Marcolutti privou de perto, no piano, com Jon Christensen, Joe Henderson, Charlie Mariano, Pat Metheny, Tony Oxley, Michel Portal, Enrico Rava, Aldo Romano, Bob Moses ou Kenny Wheeler. Em trio, quarteto, quinteto. Ou seja, está nas primeiras filas da música da frente. Pale Danielsson é um dos “nórdicos ilustres” da ECM, quase sempre no papel de “sideman”. De Jan Garbarek e Keith Jarrett, por exemplo.
            Mas hoje é noite de mais jazz. No Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com um quinteto liderado pelo trompetista Christian Scott, substituto de última hora de Terence Blanchard, líder oficial da formação que acabou por cancelar a sua participação, por motivos de saúde. Completam o grupo Aaron Parks (teclados), Brice Winston (saxofone tenor), Brandon Owens (contrabaixo) e Eric Harland (bateria). Seguem amanhã para Matosinhos, para atuar no Auditório da Exponor.

Peter Erskine Trio
LISBOA Culturgest (Grande Auditório). Tel.: 217905155.
Às 21h30. Bilhetes a 17 euros

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