31/08/2016

A alma de uma empada de batata [Robert Cray]

Jornal PÚBLICO, 19 JULHO 1997

Robert Cray apresenta “Sweet Potato Pie” no CCB

A alma de uma empada de batata

ROBERT CRAY e a sua banda trazem a música “soul” e os “blues” a Lisboa. Embalados na massa de uma empada, “Sweet Potato Pie”, como se chama o seu álbum deste ano. É o que se dará a provar, esta noite, na Praça do Museu do CCB, a partir das 22h.
            Desde o início, Robert Cray foi bafejado pela companhia das lendas. Na sua primeira digressão, realizada em 1983, teve por companhia Albert Collins, considerado o mestre da guitarra “Telecaster”, John Lee Hooker, “rei do boogie”, e Willie Dixon. E Muddy Waters, que vê nele o futuro dos “blues”, tomando-o como seu “filho adotivo”. Robert Cray recorda essa ocasião em que fez as primeiras partes de seis espetáculos daquele que foi um dos maiores “bluesmen” de todos os tempos, pouco tempo antes da sua morte: “Costumava sentar-me nos bastidores a beber o ‘champagne’ de Waters. Senti um arrepio quando o ouvi, no palco, referindo-se a mim como ‘o jovem Muddy Waters!’”. Trabalho árduo e muito talento justificaram essa adoção e uma ascensão meteórica no mundo dos “blues”.
            A banda nasceu em 1974, no Noroeste dos Estados Unidos, tocando quase com ferocidade, deslocando-se à boleia de cidade a cidade, por vezes em busca apenas de um local de ensaio. O seu “leader”, o cantor e guitarrista Robert Cray, conhecia de cor todos os clássicos, que ouviu da discoteca da sua mãe. Da “gospel” ao “jazz”, da “soul” ao “rock ‘n’ roll” e aos “blues”. Alguns deles deixaram marcas: Ray Charles, Muddy Waters, Otis Redding, Sam Cook, Thelonious Monk.
            Três anos antes da decisiva digressão com Muddy Waters, gravara o primeiro álbum, “Who’s been Talkin’”. Os clubes passaram a ser pequenos e Cray conquista as ondas da rádio. Em 1983 sai “Bad Influence” e em 1985 “False Accusations” leva Robert Cray ao Top 10 da revista “Newsweek” e a número um das listas independentes dos Estados Unidos e do Reino Unido. No mesmo ano é editado “Showdown”, com as colaborações de Johnny Clyde Copeland e Albert Collins, que conquista para o músico o primeiro prémio “Grammy”. Seguem-se “Strong Persuader”, que é disco de platina e dá a Cray a capa da revista Rolling Stone, e “Don’t be afraid of the Dark”.
            Por falar em Rolling Stones, por esta altura, Keith Richards convida-o para tocar no concerto e no disco de homenagem a Chuck Berry, “Hail! Hail! Rock ‘n’ Roll”. Cray participa igualmente nas “tournées” dos Stones, de 1994 e 1995. Eric Clapton grava uma versão de um tema seu, “Bad influence”. Compõem juntos o tema “Old love”. Tina Turner faz questão de o ter a seu lado num programa de televisão e no vídeo de promoção do álbum ao vivo de 1988, “Live in Europe”.
            Nos anos 90 Robert Cray grava “Midnight Stroll”, “I was Warned” e “Shame + a Sin”, com a participação de Albert Collins, todos nomeados para os prémios Grammy. “Some Rainy Morning” e o álbum deste ano, “Sweet Potato Pie”, gravado em Memphis, uma síntese de “blues”, “rhythm ‘n’ blues” e “soul”, apresentam a mesma banda que acompanha Cray neste seu espetáculo em Lisboa: Jim Pugh, nas teclas, Karl Sevareid, no baixo, e Kevin Haynes, na bateria.

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