Jornal
PÚBLICO, 19 JULHO 1997
Robert Cray apresenta “Sweet Potato Pie” no CCB
A alma de
uma empada de batata
ROBERT CRAY e a sua
banda trazem a música “soul” e os “blues” a Lisboa. Embalados na massa de uma
empada, “Sweet Potato Pie”, como se chama o seu álbum deste ano. É o que se
dará a provar, esta noite, na Praça do Museu do CCB, a partir das 22h.
Desde o início, Robert Cray foi
bafejado pela companhia das lendas. Na sua primeira digressão, realizada em
1983, teve por companhia Albert Collins, considerado o mestre da guitarra
“Telecaster”, John Lee Hooker, “rei do boogie”, e Willie Dixon. E Muddy Waters,
que vê nele o futuro dos “blues”, tomando-o como seu “filho adotivo”. Robert
Cray recorda essa ocasião em que fez as primeiras partes de seis espetáculos
daquele que foi um dos maiores “bluesmen” de todos os tempos, pouco tempo antes
da sua morte: “Costumava sentar-me nos bastidores a beber o ‘champagne’ de
Waters. Senti um arrepio quando o ouvi, no palco, referindo-se a mim como ‘o
jovem Muddy Waters!’”. Trabalho árduo e muito talento justificaram essa adoção
e uma ascensão meteórica no mundo dos “blues”.
A banda nasceu em 1974, no Noroeste
dos Estados Unidos, tocando quase com ferocidade, deslocando-se à boleia de
cidade a cidade, por vezes em busca apenas de um local de ensaio. O seu
“leader”, o cantor e guitarrista Robert Cray, conhecia de cor todos os
clássicos, que ouviu da discoteca da sua mãe. Da “gospel” ao “jazz”, da “soul”
ao “rock ‘n’ roll” e aos “blues”. Alguns deles deixaram marcas: Ray Charles,
Muddy Waters, Otis Redding, Sam Cook, Thelonious Monk.
Três anos antes da decisiva
digressão com Muddy Waters, gravara o primeiro álbum, “Who’s been Talkin’”. Os
clubes passaram a ser pequenos e Cray conquista as ondas da rádio. Em 1983 sai
“Bad Influence” e em 1985 “False Accusations” leva Robert Cray ao Top 10 da
revista “Newsweek” e a número um das listas independentes dos Estados Unidos e
do Reino Unido. No mesmo ano é editado “Showdown”, com as colaborações de
Johnny Clyde Copeland e Albert Collins, que conquista para o músico o primeiro
prémio “Grammy”. Seguem-se “Strong Persuader”, que é disco de platina e dá a
Cray a capa da revista Rolling Stone, e “Don’t be afraid of the Dark”.
Por falar em Rolling Stones, por
esta altura, Keith Richards convida-o para tocar no concerto e no disco de
homenagem a Chuck Berry, “Hail! Hail! Rock ‘n’ Roll”. Cray participa igualmente
nas “tournées” dos Stones, de 1994 e 1995. Eric Clapton grava uma versão de um
tema seu, “Bad influence”. Compõem juntos o tema “Old love”. Tina Turner faz
questão de o ter a seu lado num programa de televisão e no vídeo de promoção do
álbum ao vivo de 1988, “Live in Europe”.
Nos anos 90 Robert Cray grava
“Midnight Stroll”, “I was Warned” e “Shame + a Sin”, com a participação de Albert
Collins, todos nomeados para os prémios Grammy. “Some Rainy Morning” e o álbum
deste ano, “Sweet Potato Pie”, gravado em Memphis, uma síntese de “blues”,
“rhythm ‘n’ blues” e “soul”, apresentam a mesma banda que acompanha Cray neste
seu espetáculo em Lisboa: Jim Pugh, nas teclas, Karl Sevareid, no baixo, e
Kevin Haynes, na bateria.
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