Pop
Rock
1990
CHET ATKINS & MARK KNOPFLER
Neck and Neck
LP e
CD, CBS, distri. CBS portuguesa
Dois heróis da guitarra, de duas gerações distintas, juntam-se para
glorificar o instrumento. Chet Atkins é uma lenda viva, considerado pela
revista “Guitar Player” como um dos guitarristas cujo estilo mais influenciou
outros músicos. Foi um dos criadores do denominado “Nashville sound”, matriz
essencial da “country music”, cimentada nos cânones tradicionais acrescidos de
doses industriais de eco e outros efeitos eletrônicos. Depois de 36 anos na
RCA, passou-se para a Columbia e foi acusado de abandonar a “country” para se
entregar às práticas suspeitas da “new age” e do jazz. Mark Knopfler, “Sultão
do Swing”, todos o sabem, faz parte dos Dire Straits. Trabalhou com Dylan, Van
Morrison, Bryan Ferry e Phil Everly, entre outros. Produziu a superbanda
caquética Notting Hillbillies e, não pondo em causa as suas inegáveis virtudes
como instrumentista, assinou xaropadas intragáveis como a banda sonora de “The
Princess Bride”. Chet e Mark já antes haviam tocado juntos. Ao vivo, como toda
a gente, no concerto a favor da Amnistia Internacional. Em estúdio, no álbum do
primeiro, “Stay Tuned”. Ambos partilham a paixão pela sonoridade da guitarra
Gibson. “Neck and Neck” é, na personalidade e no som, sobretudo um disco do
mais velho e, de certo modo, ainda bem que assim é, pois mais simples foi
evitar as facilidades com que o homem dos Straits por vezes condescende. Mesmo
assim ainda conseguiu meter uma composição sua a fechar o disco: “The Next Time
I’m in Town”. Nada de pânico, porém – a faixa não destoa e Mark até finge ser
um entendido da “country”. “Country”, da pura e dura, só “Just one Time” (de
Don Gibson), e “Yaketi Axe” (de Boots Randolph, James Rich e Merle Travis, com
violino e “dobro” e dança no celeiro). De resto a “música do campo” serve de
pretexto para outras aventuras e sons mais contemporâneos. “Sweet Dreams”
(também de D. Gibson), por exemplo, é um tema belíssimo, instrumental lento e
misterioso, vogando nas cadências noturnas das guitarras (incluindo a “pedal
steel”), como se Peter Pan espreitasse em “slow motion” às janelas da cidade
adormecida. “There’ll be some Changes Made” (Billy Higgins) insere o tom de
comédia das palavras no “boogie” atmosférico e nostálgico, ilustrativo de um
filme antigo, a preto e branco e sem legendas. Em “So Soft, your Goodbye”,
aflora o espectro delicodoce de “The Princess Bride”, mas a pungência do
violino é sincera, evoca tragédia e abandono, suspiros lancinantes e pancadas
no peito, melodrama talvez sem final feliz. Violino distraidamente triste em
“Tears” (assinado pelos monstros da guitarra, Django Reinhardt, e do arco na
corda, Stephane Grapelli), lágrimas vertidas por uma “star”, cadente e
decadente. Felizmente que nem só de tristeza vive o disco. Em “Tahitian Skies”
há azuis de céu a tocar o oceano, sempre de Verão. Conchas, ananazes, Tahiti
duche, cruzeiros de nunca mais voltar. Felizes as guitarras,
sorridentes. E no “swing” de “I’ll See you in my Dreams”, dançam abraçadas. “Neck and
Neck” desliza como uma brisa morna. Sem sobressaltos. Exercício descontraído e
descomprometido de dois grandes guitarristas. Música suave e calorosa, de
guitarras levitando num silêncio de cristal. ***
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