Pop Rock
12 de Junho 1991
RICHARD THOMPSON
Rumour and Sigh
LP e
CD, Capitol, distri. EMI – Valentim de Carvalho
Primeiro, a história: guitarrista inspirado, por vezes genial, Richard
Thompson integrou a banda pioneira do folk rock britânico, Fairport Convention,
durante o período áureo que culminou nas obras-primas “Liege & Lief” (ainda
com Sandy Denny) e “Full House”. A carreira a solo que posteriormente encetou
serviu para acentuar as oscilações da sua veia criativa, próprias de uma
personalidade dada a extremos, ao mesmo tempo que revelou um guitarrista de
primeira linha. Mas foi de parceria com a sua então mulher, Linda Thompson, que
gravou aqueles que, até à data, permanecem como os seus melhores trabalhos: “I
Want to See the Bright Lights Tonight”, “Shoot Out the Lights” e “Hokey Pokey”,
demonstrações brilhantes de como servir-se da raiz folk para enriquecer e
revigorar o discurso rock. Sozinho, gravou discos regulares, com exceção do
fabuloso compêndio da guitarra em estado de graça que é “Strict Tempo”. Da folk
passou à pura excentricidade, por caminhos sinuosos que o levariam a figura
insubstituível em discos dos “outsiders” David Thomas (vocalista dos Pere Ubu)
e Golden Palominos. Quando está bem disposto, alinha em quarteto com Fred
Frith, Henry Kaiser e John French. “Daring Adventures” e “Amnesia” sofriam da
síndrome “nada de especialmente genial ou inovador”. Passados três anos sobre a
edição deste último, “Rumour and Sigh” não vem alterar substancialmente a
situação. À partida, pareciam estar reunidas condições para despoletar aquele
pequeno “it” que faz a diferença entre a claridade agradável e a luz do Sol,
através de uma escolha diversificada e criteriosa dos músicos convidados.
Infelizmente, a música volta a não estar à altura das expetativas. Os esforços
conjugados de Alex Acuna, percussão, Simon Nicol (antigo companheiro nos
Fairport Convention), guitarra, John Kirkpatrick (expoente da folk de tendência
mais ruralista, autor de discos magistrais a solo ou com Sue Harris), acordeão
e concertina, Phillip Pickett (membro ocasional dos Albion Band, especialista
em música antiga), bombarda, fagote da Renascença e cromorna, Aly Bain (Boys of
the Lough), violino, e a dupla Clive Gregoson/Christine Collister, harmonias
vocais, não chegam para elevar Thompson aos picos da transcendência. Se a lista
de músicos referida ( e a própria instrumentação utilizada) apontavam para um
aprofundamento da vertente rural, na prática isso não aconteceu, optando, em
vez disso, o guitarrista por um rock ligeiramente matizado que raramente
consegue descolar. Richard Thompson é incapaz de escrever más canções, mas isso
não serve de pretexto para o desculpar de uma certa atitude de indulgência,
frequentemente presente nos seus trabalhos. “Rumour and Sigh” (inspirado num poema
de Archibald MacLeish) diz respeito aos rumores e suspiros de “mares
inimaginados” e era intenção do seu compositor criar uma música diferente de
tudo aquilo que os outros pudessem fazer. Se a intenção era essa, na prática
não o conseguiu, limitando-se a cumprir o que dele se espera, ou seja, baladas
adequadamente sombrias, que lidam com as suas obsessões habituais (bêbedos que
tombam nas vielas, solidões irremediáveis, marginais à solta, a decadência
moral do império britânico), aproximações à música “cajun” (Don’t sito n my
Jimmy Shands”) ou antiga (a introdução de “Backlash love affair”), impecáveis
prestações guitarrísticas (refira-se que neste disco o músico utiliza pela
primeira vez uma sanfona). Acima da média sobem os três temas finais, respetivamente
o tratado muito “French, Frith, etc” de “Mother knows best”, a balada
fantasmagórica “God loves a drunk” (mesmo assim fazendo suspirar pela voz de
Linda Thompson) e o surrealismo de “Psycho street”, cruzamento bizarro entre os
Incredible String Band e os Pere Ubu num baile de província. Enfim...
(suspiro). ***
Sem comentários:
Enviar um comentário