05/08/2016

Peter Gabriel - Shaking The Tree

Pop Rock
28 de Novembro 1990

O ENCOBERTO

PETER GABRIEL
Shaking the Tree
LP, MC e CD, Virgin, ed. Edisom

De anjo teatral nos Genesis, Peter Gabriel passou a esconder-se, sozinho, atrás do rosto, progressivamente deformado em cada capa de disco – desde a desfocagem provocada pelo vidro molhado do primeiro álbum, até à criatura semi-humana do quarto. A partir daí, a imagem deixou de seguir as lógicas da decomposição, centrando-se ainda assim na energia implosiva do corpo, como em “Birdy”, a neutralidade a preto e branco de “So” ou a abstração naturalista de “Passion”. Neste novo álbum, o cantor aparece filtrado pela objetiva de Robert Mapplethorpe. Vem referido na capa interior, porque a outra ainda não nos chegou às mãos. Como quase sempre acontece com os discos de retrospetiva, a escolha das canções obedece a critérios, sempre subjetivos, que em última análise se pretendem fundamentados na popularidade radiofónica, preferindo-se deste modo aquelas que mais facilmente seduzem o ouvido e se prendem à memória. Para não tornar demasiado óbvio o processo, nada como intercalar pelo meio alguns temas menos apelativos, mas de reconhecida importância em termos de coerência artística. Já se sabe a quem se destina este tipo de produtos – a todos aqueles que, por desconhecimento ou preguiça, sempre ignoraram a obra do autor, resolvendo assim poupar tempo e dinheiro na compra de uma seleção já digerida e pronta a consumir. Ganha o comprador, ganha a editora uns cobres extra e ganha o artista alguma popularidade adicional, capaz até – quem sabe? – de, numa próxima oportunidade, levar o preguiçoso (ou o pobre) a investir em discos frescos, acabadinhos de sair. Integra este apanhado um bom lote de canções, como não podia deixar de ser, dado o reconhecido talento do seu autor. Do primeiro álbum: “Solsbury Hill” e uma nova versão de “Here Comes the Flood”, apostando de novo apenas na voz e no piano de Gabriel. Do segundo, nada, nicles, nenhuma. Se é certo não ser esta das obras mais conseguidas do ex-Genesis, nem por isso uma faixa como “White Shadow” (fabulosa prestação guitarrística de Robert Fripp) deixa de figurar ao lado das suas melhores de sempre. Do disco n.º 3 constam “I Don’t Remember”, “Family Snapshot” e os inevitáveis “Games without Frontiers” e “Biko”. Do n.º 4, talvez o seu melhor até à data, foi escolhido, única e sintomaticamente, o mais comercial “Shock the Monkey”. “So”, álbum em que Peter Gabriel se revelou menos inspirado do que é costume, teve honras de ver incluídas quatro faixas: “Sledgehammer”, “Mercy Street”, “Don’t Give up” (o tal em que se abraça muito a Kate Bush) e “Big Time”. Acrescente-se, para completar, “Shaking the Street”, retirado de “The Lion”, de Youssou N’Dour, para se chegar à conclusão de que, para o já citado cliente comodista, se trata sem dúvida de um bom negócio. Para os outros, que, desde a época de “Trespass”, têm acompanhado a carreira do músico, é inútil.

Entretanto, aguarda-se com expetativa o passo seguinte à tentação “new age” de “Passion”. ***

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