Pop Rock
6 de Março 1991
A REEDIÇÃO ATÉ AQUI
“Self-portrait”, duplo, 1970
Discos de retorno ao naturalismo, da
fase “pura” do compositor. Clássicos, como “Days of 49” e “Like a Rolling
Stone”, e versões de temas de Paul Simon, Gordon Lightfoot e Everly Brothers.
Uma lista infinita de convidados, que incluía os amigos The Band e Al Kooper.
Na época, os críticos falaram em “desperdício de talento” e argumentaram que o
duplo álbum nunca deveria ter passado de simples, mas nem por isso ele deixou
de alcançar o primeiro lugar nos tops ingleses. Dylan considerou-o o seu
próprio disco-pirata, numa altura em que os “bootlegs” das suas atuações mais
inflamadas se vendiam a preço de ouro no mercado alternativo.
“New
Morning”, 1970
Considerado um ensaio de regresso à
grande forma, uns magros seis meses depois do dececionante “auto-retrato”. Era
uma primeira fase de reconhecimento e de novas honrarias, de breve
reconciliação com a crítica. Recapitulação de todos os géneros que previamente
ajudaram a fazer a sua música: a “country” (“Winterlude”), os “blues” (“If Dogs
Run Free”), os espirituais negros (“Sign on the Window”), os “rhythm’n’blues”
(“One more Weekend”), o “gospel” (“Three Angels”). Iluminações que ficaram para
a história como as eloquentes do seu período de recato.
“Pat Garrett and Billy the Kid”,
banda sonora, 1973
Terceira incursão no
mundo do cinema, após o documentário “Don’t Look Back” que registava a sua
digressão inglesa, com Joan Baez e “Eat the Document”, telefilme que viria a
ser rejeitado pela cadeia americana ABC. Não apenas como ator secundário, num
papel espcialmente criado para ele, mas como autor da banda sonora do “western”
de Sam Peckinpah. Dele faz parte o hino “Knockin’ on Heaven’s Door”, entoado
por toda uma geração nostálgica de anteriores vivências “on the road”.
Convidados especiais: Roger McGuinn, dos Byrds, e Booker T.
“Dylan
(a Fool such as I)”, 1973
Coleção de misturas alternativas e
versões rejeitadas de “self-portrait”. Um expediente para satisfazer uma
procura que Dylan uma vez mais frustrava, passando desta feita os primeiros
anos da década de 70 num silêncio só interrompido pela chamada de George
Harrison ao concerto pelo Bangladesh, em 1971.
“Blood
on the Tracks”, 1974
Amores falhados, divórcio, confusão,
parece que tiveram um efeito benéfico sobre Dylan, que investiu ainda em maior
profundidade nas palavras, como forma de exorcizar fantasmas. Há quem compare a
qualidade destes poemas a “Blonde on Blonde” e “John Wesley Harding”. Álbum de
ambientes folk, concedendo o espaço que é preciso à guitarra acústica e à
respiração pausada dos poemas. Dylan canta aqui o amor e as cicatrizes que este
deixa quando seca. Também um adeus comovido aos dias dourados dos “sixties”,
quando havia “música, à noite, nos cafés, e revolução no ar” e o espanto diante
daqueles que estão para vir.
“Saved”,
1980
Convertido ao cristianismo depois do
álbum do ano anterior, “Slow Train Coming”, Dylan não deve ter convencido
ninguém com esta sua (auto-)salvação. O segundo disco do “novo cristão” não
vendeu – foi, aliás, o maior fracasso comercial da sua carreira. Três anos mais
tarde, em espetacular golpe de rins religioso, reconsiderou e regressou às
antigas crenças de judeu convicto. Na época de “Saved”, porém, Dylan chegou ao
ponto de recusar tocar ao vivo canções do período “pré-cristão”. Na capa
interior cita-se Jeremias, Capítulo 31. Os putos queriam era rock.
“Real
Live”, 1984
Gravado ao vivo. Pouco
importante quando comparado a “Live at the Budokan” ou “Before the Flood”.
Versões de “Highway 61 Revisited”, “Tangled up in Blue” e “Master of War”. Guitarristas
ilustres: Mick Taylor, dos Rolling Stones, e Carlos Santana (em “Tombstone
Blues”). Dylan tinha já entrado no sistema da digressão permanente, alternando
as velhas glórias com as novas insignificâncias.
“Empire
Burlesque”, 1985
Rendição à modernidade. Depois de
Mark Knopfler e antes de Dave Stewart e Daniel Lanois, a produção foi aqui
confiada a Arthur Baker. Ainda a presença dos “sabidões” Sly Dunbar e Robbie
Shakespeare e de membros da banda de Tom Petty, os Heartbreakers. Dylan
procura, desde os finais dos anos 70, ser ele mesmo, inspirando-se na luz de
sumidades posteriores. E com baker as coisas funcionaram ao ponto de este álbum
ter sido o seu maior sucesso comercial da década de 80. Não obstou, porém, a
que se multiplicassem as histórias que desancavam o mito. O que também não
impede que Dylan continue a gravar e a tocar ao vivo. Vive num universo fechado
e de difícil acesso. É um eremita em digressão permanente pelos estádios do
mundo, esse género de paradoxo.
Estas críticas complementam um artigo de Luís Maio intitulado “Dylan
imparável”
Sem comentários:
Enviar um comentário