Pop
Rock
1994
VIA LÁCTEA
ESTÁ A TRANSFORMAR-SE NUM HÁBITO. É a boa
música, os bons espíritos, o convívio com os sons e a cidade. É o festival
Intercéltico do Porto que de há cinco anos para cá, na Primavera, traz a
Portugal a melhor música folk da Europa. Este ano, como nos anteriores, houve
bons concertos, concertos razoáveis e concertos de exceção. Estes últimos são
os momentos em que a História da música tradicional coincide com a história do
festival. Geniais, bons ou simplesmente talentosos instrumentistas passaram
durante quatro dias pelo palco do Terço e, ao lado da programação oficial,
pelos bares, jardins e outros recantos que o Porto tem para oferecer ao
explorador das pedras e do tempo. Mac-Talla, escoceses e gaélicos, Déanta,
irlandeses aprendizes, os manos Jacky e Patrick Mollard com Jacques Pellen,
bretões com o vício do jazz, Leilia, galegas com o sangue na guelra, Amélia
Muge e Toque de Caixa, apostados em dar um rosto novo à música popular
portuguesa, cumpriram, cada qual a seu jeito, as músicas que dão corpo à
Tradição. Mas o céu só está ao alcance dos eleitos. E os eleitos – como já o
haviam sido em anteriores edições do Intercéltico, Maddy Prior, De Danann,
Barabán e Chieftains – foram esta ano os Muzsikas, transilvanos de génio, e os
Dervish, da Irlanda, principiantes sim, mas já com a arte e o engenho dos
mestres. Em termos individuais o destaque vai para Kristen Noguès, uma harpista
bretã que deu vontade de escutar divorciada do jazz, para os húngaros dos
Muzsikas, Miháli Sipos, no violino, e Sandór Csoóri, no “kontra” e
gaita-de-foles, e para os irlandeses dos Dervish, Liam Kelly, na flauta, Shane
McAleer, no violino, e Cathy Jordan, exímia tocadora de “bodhran” e senhora de
uma voz na linhagem nobre das divas da música tradicional da ilha esmeralda.
Quanto a Márta Sebestyén, com problemas na voz devido a uma gravidez recente,
não deixou os seus créditos por mãos alheias num solo encantatório de flauta.
Dos portugueses, para além das confirmações de Amélia Muge e Celso de Carvalho,
a revelação chamou-se Teresa Paiva, a jovem dos Toque de Caixa que tem tudo
para se transformar numa grande intérprete na gaita-de-foles.
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