POP ROCK
Quarta-feira,
5 Abril 1995
REALEJO EM “SANFONA”
A SANFONA, ESSE INSTRUMENTO COM ASPETO de
besouro gigantesco – um cordofone tocado com teclas e onde é preciso girar uma
manivela – cujo som se confunde com as próprias lamentações da Terra, ocupa o
lugar de destaque na música dos Realejo. Fernando Meireles, além de as tocar,
constrói ele próprio não só sanfonas como outros instrumentos utilizados pelo
grupo. A música antiga escrita para este instrumento está na base da criação do
grupo, de que fazem ainda parte Manuel Rocha, no violino e bandolim (também
elemento da Brigada Victor Jara e, ocasionalmente, da banda acompanhante de Né
Ladeiras), Amadeu Magalhães, na gaita-de-foles, flautas, sanfona, braguesa e
cavaquinho, Rui Seabra, na guitarra, e Ofélia Ribeiro, a mais recente
aquisição, no violoncelo. O reportório dos Realejo estende-se desde a Idade
Média ao Romantismo, passando pela Renascença e pelo Barroco, com destaque para
os compositores franceses – aqueles que, ao longo dos séculos, cultivaram com
maior consistência tanto a construção como a música escrita para a sanfona (é
em França que a prática e desenvolvimento deste instrumento se encontram mais
desenvolvidos, com largas dezenas de executantes, entre os quais alguns de
grande craveira, como Jean-François Dutertre, Gilles Chabenat e Valentin
Clastrier, e a organização de concursos e seminários). A música portuguesa
tradicional, claro, marca presença em força. Sobretudo a transmontana, cujas
características musicais são especialmente “moldáveis à combinação da sanfona
com a gaita-de-foles”, como acentua Manuel Rocha. Os Realejo não são um grupo
populista, no sentido de fazerem uma música imediatista, antes evidenciam um
outro tipo de postura que, em termos musicais, se traduz num classicismo assumido.
“Música tradicional de câmara”, como escrevemos uma vez sobre o grupo. Não
poderia começar de melhor maneira o Intercéltico. Ainda para mais, na mesma
altura em que o grupo lançará o seu primeiro compacto, intitulado “Sanfonia”.
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