05/08/2016

Vários - The Other Side Of Nashville

Pop Rock
Novembro 1990
VÍDEOS

VÁRIOS
The Other Side of Nashville
PMV-Vídeo distri. Polygram – venda direta

Nashville, sinónimo de “country music”, de homens barbudos de voz nasalada, vestidos à “cowboy”, e mulheres de “jeans”, para as quais ser “sexy” não liga com estatuto de “workinh woman”. Nashville, imenso casino onde todos vão parar, em busca de glória e dólares. Uns perdem, outros ganham, mas, como se diz no filme, “o que seria do jogador sem um casino para jogar?”.
“The Other Side of Nashville”, realizado e produzido por Etienne Mirlesse, é um documento fundamental para a compreensão do fenómeno “country music” nos Estados Unidos. Conta-se a história na música e nas palavras dos seus principais protagonistas: Willie Nelson, Hank Williams Jr., Johnny Cash e, os mais novos, Kris Kristofferson, Emmylou Harris, Ricky Scaggs, entre outros. Quase todos afirmam a pés juntos que nada é como era dantes, nos tempos áureos dos anos 40 e da Grand Ole Opry, catedral onde atuaram todos os gigantes da “country music”. Opry Land, tornada anos mais tarde Disneyland, segundo o desabafo de Kris Kristofferson, por força da gigantesca máquina produtora de divisas em que se transformou aquela que, a par dos “blues”, constitui a raiz da música popular americana. Longe vão os tempos em que os banjos, violinos e guitarras refletiam vivências difíceis, passadas a trabalhar nas plantações de tabaco ou, posteriormente, durante os anos da Depressão, nas fábricas da cidade.
Já não há heróis como Patsy Cline, Loretta Lynn, Ray Acuff, Chet Atkins (que abriu caminho ao denominado “Nashville sound” através da utilização exaustiva da câmara de eco) ou o grande Hank Williams Sr., fazedor de música e de mitos, alcoólico expulso da catedral e encontrado morto no assento de trás de uma limusina antes de uma atuação.
O “boom” da “country”, ocorrido na passagem para os anos 60 é assinalado pelo aparecimento de estúdios (como o da RCA) e estações de rádio inteiramente dedicados à sua divulgação. O número destas passa rapidamente de 81, em 1961, para cerca de 2000. O jazz, os “rhythm & blues” e a pop infiltram-se nas raízes originais, provocando uma multiplicidade de variantes que vão desde o “bluegrass” tradicional ao “crossover country” e à atual vaga “pop country”. Emmylou Harris aproveita tudo, incluindo canções de Bruce Springsteen, alargando sem preconceitos o vocabulário do género. Hank Williams, o filho, segue as pisadas do pai na vida vagabunda de música, álcool e mulheres. Cita como influências Fats Domino, Little Richard e Chuck Berry – a “grande música branca” devedora da negritude. Rattlesnake Annie volta tão atrás como pode, buscando na alma dos “blues” a força que a faz cantar. Os pusristas clama que a sua música “está a perder a identidade”. O público não se importa e consome cada vez mais.

Os sons do Sul alternam com imagens de arquivo, como as de Carl Perkins, ao vivo em 1968, interpretando “Blue Suede Shoes”. Anos antes foram a “Sun records” e o “Rockabilly”, mistura de “country”, “blues” e “rock ‘n’ roll” – Hank Williams Sr., Jerry Lee Lewis, Gene Vincent e o rei Elvis.
Nashville atrai como mel. Bob Dylan não consegue encontrar em Nova Iorque os músicos de que necessita. Encontra-os em Nashville, onde grava a obra-prima “Nashville Skyline”, com Johnny Cash como convidado. Emcionante ver e ouvir os dois, lado a lado no estúdio, durante a gravação de “1000 miles behind”. “Nashville Skyline” e “John Wesley Harding” permitem a Dylan ocupar um lugar na galeria das personalidades ligadas à “country music”. Nashville torna-se conhecida em todo o mundo. A música que nela pulsa faz hoje parte da história e do imaginário dos States. “The Other Side of Nashville” retrata o interior de parte dessa história, de forma séria e sentida. Vivemo-la como se fosse um filme dentro desse filme maior que é a América inteira. ***

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