Pop Rock
5 de Dezembro 1990
AQUELAS SANTAS
INDIGO GIRLS
Nomads Indians Saints
LP e
CD, Epic, distri. CBS portuguesa
Parecem simpáticas as duas raparigas que constituem as Indigo Girls. Uma
é loura, a outra é morena. Chamam-se Amy e Emily. A Amy (ou é a Emily?) chega a
ser bonita. A música também é bonita e outras coisas com muitos is – pequenina,
querida, maneirinha. As meninas cantam afinadinhas, acompanhadas de muitas,
muitas guitarras acústicas, como é de bom tom no género “doces pop”.
“Nomads, etc” não passa disso – de um disco que se escuta com o interesse
com que, por exemplo, se olha distraidamente para uma montra ou, pelo canto do
olho, para a televisão, durante a publicidade. Falta à música vigor,
consistência e, mais grave, um mínimo de originalidade. Não agride, mas, por
ser tão suave, passa sem se dar por ela. Cada canção se parece com a anterior,
sempre num registo vagamente pop, vagamente “country”, com as guitarras
acústicas a criar um palco sonoro demasiado magro e de insuficiente imaginação
melódica.
Os textos são interessantes, mais que a música, pelo menos. Contam
histórias estranhas e referem-se a conceitos importantes e decisivos, em termos
existenciais, para o destino da Humanidade. São anjos e o diabo, o Sol e a Lua
(sem esquecer os restantes astros), é a imortalidade, a cabalística dos
números, os elementos da Natureza e por aí fora, até nos fazer suspeitar de
estarmos na presença de “hippies” disfarçadas de meninas pop modernaças. Até na
capa aparecem umas figuras esquisitas, uns bonecos articulados com todo o ar de
servirem para rituais mágicos suspeitos, um deles alado e com setas espetadas
no peito, coitado.
Vai-se prestando atenção, durante a audição, a estes pormenores, de
maneira a conseguir chegar ao fim sem adormecer. Procura-se, esgravata-se em
cada canção, à procura de pormenores que façam a diferença, de momentos mais
inspirados, de um arranjo mais ousado, mas em vão, o que fica no ouvido e se
infiltra no cérebro são as vozes monótonas e afinadas das meninas e o sempiterno
acompanhamento das guitarras acústicas. Acabam por soar a novidade temas como
“123” (Carlos Cruz por trás?), e “Pushing the Needle too far”, em que uma das
vocalistas (Amy? Emily?) dá tudo por tudo para se parecer com Patti Smith
(sobretudo no tema de Carlos Cruz, em tudo semelhante ao estilo da poetisa
esquelética da “beat generation”).
As Indigo Girls têm sido ultimamente muito faladas. Porquê, é um enigma.
A grupos deste quilate costumam os ingleses denominar “hype”. Em bom português:
“barrete”. *
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