09/08/2016

Indigo Girls - Nomads Indians Saints

Pop Rock
5 de Dezembro 1990

AQUELAS SANTAS

INDIGO GIRLS
Nomads Indians Saints
LP e CD, Epic, distri. CBS portuguesa

Parecem simpáticas as duas raparigas que constituem as Indigo Girls. Uma é loura, a outra é morena. Chamam-se Amy e Emily. A Amy (ou é a Emily?) chega a ser bonita. A música também é bonita e outras coisas com muitos is – pequenina, querida, maneirinha. As meninas cantam afinadinhas, acompanhadas de muitas, muitas guitarras acústicas, como é de bom tom no género “doces pop”.
“Nomads, etc” não passa disso – de um disco que se escuta com o interesse com que, por exemplo, se olha distraidamente para uma montra ou, pelo canto do olho, para a televisão, durante a publicidade. Falta à música vigor, consistência e, mais grave, um mínimo de originalidade. Não agride, mas, por ser tão suave, passa sem se dar por ela. Cada canção se parece com a anterior, sempre num registo vagamente pop, vagamente “country”, com as guitarras acústicas a criar um palco sonoro demasiado magro e de insuficiente imaginação melódica.
Os textos são interessantes, mais que a música, pelo menos. Contam histórias estranhas e referem-se a conceitos importantes e decisivos, em termos existenciais, para o destino da Humanidade. São anjos e o diabo, o Sol e a Lua (sem esquecer os restantes astros), é a imortalidade, a cabalística dos números, os elementos da Natureza e por aí fora, até nos fazer suspeitar de estarmos na presença de “hippies” disfarçadas de meninas pop modernaças. Até na capa aparecem umas figuras esquisitas, uns bonecos articulados com todo o ar de servirem para rituais mágicos suspeitos, um deles alado e com setas espetadas no peito, coitado.
Vai-se prestando atenção, durante a audição, a estes pormenores, de maneira a conseguir chegar ao fim sem adormecer. Procura-se, esgravata-se em cada canção, à procura de pormenores que façam a diferença, de momentos mais inspirados, de um arranjo mais ousado, mas em vão, o que fica no ouvido e se infiltra no cérebro são as vozes monótonas e afinadas das meninas e o sempiterno acompanhamento das guitarras acústicas. Acabam por soar a novidade temas como “123” (Carlos Cruz por trás?), e “Pushing the Needle too far”, em que uma das vocalistas (Amy? Emily?) dá tudo por tudo para se parecer com Patti Smith (sobretudo no tema de Carlos Cruz, em tudo semelhante ao estilo da poetisa esquelética da “beat generation”).

As Indigo Girls têm sido ultimamente muito faladas. Porquê, é um enigma. A grupos deste quilate costumam os ingleses denominar “hype”. Em bom português: “barrete”. *

Sem comentários: