Pop Rock
PETER BLEGVAD
King Strut & Other stories
LP e
CD, Silverstone, distri. BMG
Tem a aura de excêntrico e um currículo extenso e de prestígio. A fama,
essa ainda não chegou, embora há muito a mereça. O homem, imagine-se, já
trabalhou com sumidades do jazz (ou músicas afins), tais como Andrew Cyrille,
Carla Bley, Michael Mantler e John Zorn. Passou pelos grupos lendários dos anos
70, Faust e Henry Cow. Formou os inclassificáveis Slapp Happy, ao lado de
Anthony Moore e da então ilustre desconhecida Dagmar Krause. Victoria Williams
e os Golden Palominos não dispensam os seus serviços. Da sua discografia a solo
constam as obras-primas “The Naked Shakespeare” e “Downtime” (na companhia de
músicos dos Pere Ubu). Menos bons mas não menos interessantes são “Knights like
these” e “Smell of a Friend” (integrado no coletivo The Lodge. Agora decidiu-se
por algumas cedências (no seu caso sempre relativas) ao gosto e a um estilo de
produção mais convencionais. Operação que não envolve grandes riscos se se é
possuidor do trunfo que mais vale neste jogo: a capacidade para compor ótimas
canções, independentemente dos arranjos e produção com que as quiserem adornar.
Tendo em conta “King Strut”, de Peter Blegvad quase se poderia dizer que é um
novo Bob Dylan, não fora a tendência bizarra de que dá mostras ao misturar nas
suas canções temas como o amor, a solidão, galinhas ou camisas e pentes.
Canções que alternam baladas “dylanescas” como “Gold” (excelente a prestação na
“pedal steel guitar” de B. J. Cole), “On Obsession” e “Shirt & Comb”, a que
não faltam um semelhante rasgar da guitarra acústica e a harmónica da praxe,
com temas mais complexos como “King Strut” (em duas versões), “Not Weak Enough”
(repescado de “Downtime”, aqui com nova mistura) ou “Chicken” (incursão nos
domínios cabaréticos, caros a Tom Waits, com o trompete de Guy Barker a dar o
conveniente tom etílico). Peter Blegvad tem coisas para dizer, algumas
importantes e compreensíveis, outras absurdas e irrisórias. O modo como as diz
é que é sempre original – o interesse do objeto depende da perspectiva com que
é encarado. Acompanham-no neste incursão pela região demarcada dos
“songwriters” de qualidade alguns músicos de calibre: Syd Straw e Anton Fier
(dos Golden Palominos), Chris Stamey (ex DB), B. J. Cole, Larry Saltzman, Danny
Thompson e Andy Partridge (XTC). Para Peter Blegvad chegou a hora das grandes
decisões: génio obscuro e incompreendido ou génio na mesma, só que mais
acessível na pose e no discurso. ***
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