02/08/2016

Peter Blegvad - King Strut & Other Stories

Pop Rock
3 de Outubro 1990

PETER BLEGVAD
King Strut & Other stories
LP e CD, Silverstone, distri. BMG


Tem a aura de excêntrico e um currículo extenso e de prestígio. A fama, essa ainda não chegou, embora há muito a mereça. O homem, imagine-se, já trabalhou com sumidades do jazz (ou músicas afins), tais como Andrew Cyrille, Carla Bley, Michael Mantler e John Zorn. Passou pelos grupos lendários dos anos 70, Faust e Henry Cow. Formou os inclassificáveis Slapp Happy, ao lado de Anthony Moore e da então ilustre desconhecida Dagmar Krause. Victoria Williams e os Golden Palominos não dispensam os seus serviços. Da sua discografia a solo constam as obras-primas “The Naked Shakespeare” e “Downtime” (na companhia de músicos dos Pere Ubu). Menos bons mas não menos interessantes são “Knights like these” e “Smell of a Friend” (integrado no coletivo The Lodge. Agora decidiu-se por algumas cedências (no seu caso sempre relativas) ao gosto e a um estilo de produção mais convencionais. Operação que não envolve grandes riscos se se é possuidor do trunfo que mais vale neste jogo: a capacidade para compor ótimas canções, independentemente dos arranjos e produção com que as quiserem adornar. Tendo em conta “King Strut”, de Peter Blegvad quase se poderia dizer que é um novo Bob Dylan, não fora a tendência bizarra de que dá mostras ao misturar nas suas canções temas como o amor, a solidão, galinhas ou camisas e pentes. Canções que alternam baladas “dylanescas” como “Gold” (excelente a prestação na “pedal steel guitar” de B. J. Cole), “On Obsession” e “Shirt & Comb”, a que não faltam um semelhante rasgar da guitarra acústica e a harmónica da praxe, com temas mais complexos como “King Strut” (em duas versões), “Not Weak Enough” (repescado de “Downtime”, aqui com nova mistura) ou “Chicken” (incursão nos domínios cabaréticos, caros a Tom Waits, com o trompete de Guy Barker a dar o conveniente tom etílico). Peter Blegvad tem coisas para dizer, algumas importantes e compreensíveis, outras absurdas e irrisórias. O modo como as diz é que é sempre original – o interesse do objeto depende da perspectiva com que é encarado. Acompanham-no neste incursão pela região demarcada dos “songwriters” de qualidade alguns músicos de calibre: Syd Straw e Anton Fier (dos Golden Palominos), Chris Stamey (ex DB), B. J. Cole, Larry Saltzman, Danny Thompson e Andy Partridge (XTC). Para Peter Blegvad chegou a hora das grandes decisões: génio obscuro e incompreendido ou génio na mesma, só que mais acessível na pose e no discurso. ***

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