Pop Rock
28 de Novembro 1990
FALSOS PAISANAS
POLICE
Their Greatest Hits
LP,
MC e CD, A&M, ed. Polygram
Não se tem ouvido falar deles, ultimamente. Talvez por Sting andar
ocupado às voltas com os índios da Amazónia e com os concertos de beneficência.
Sting é assim mesmo, preocupado com os grandes problemas e os atentados à
liberdade que afligem a humanidade, não tem tempo para policiamentos. Os outros
dois aguardam que o mundo conheça melhores dias... Surgidos em 1976, em pleno
“boom” do “punk”, os Police aproveitaram a maré para fazer figura de artistas,
brilhando entre a violência descontrolada e desafinada da geração sem futuro,
como intelectuais descontentes que até sabiam tocar. Conseguiram a proeza de
aliar a energia da nova onda ao virtuosismo e a um sentido melódico sem rivais
na época. Ao contrário da maioria dos grupos de então, os seus músicos tinham
um passado, um currículo que, para evitar ofender as limitações alheias,
convinha não alardear em demasia. Mas sabia-se que já não eram novos e que
haviam cometido o pecado de tocar jazz (no caso de Sting) ou em bandas
“progressivas”, como os Curved Air (Stewart Copeland, que, a solo, viria
posteriormente a enveredar por experiências étnico-eletrónicas, em “The
Equalizar & other Cliffhangers” e “The Rhythmatist”). O guitarrista Andy
Summers, por seu lado, já tocara com Zoot Money, Eric Burdom e Kevin Ayers,
vindo mais tarde a colaborar com o mestre da guitarra tântrica, Robert Fripp,
nos álbuns “I Advance Masked” e “Bewitched”. O álbum “Outlando’s d’Amour” e o
single dele retirado, “Roxanne”, canção de amor dedicada a uma prostituta,
projetaram, em anúncios brilhantes, o nome da banda em tudo o que era antro
“new wave”. Do leque de influências recolhidas e assimiladas resultou uma
síntese bem sucedida de rock, pop e “reggae”, destilada com a energia
conveniente para a época e encimada pela voz nasalada e incrivelmente sedutora
de Sting. “Message in a Bottle” (do álbum seguinte “Regatta de Blanc”, cujo
título se refere ao “reggae branco”) possui uma melodia que é candidata
credível a figurar no grupo restrito das “melhores canções pop de sempre”.
Ambos os temas, bem como outro grande êxito dos primeiros tempos, “Can’t Stand
Losing you”, e o atmosférico “Walking on the Moon” constituem a sequência inicial
da coletânea, que prossegue com duas canções de “Zenyatta Mondatta”: “Don’t
Stand so Close to me” (aqui numa nova versão gravada em 1986) e o pueril “De Do
Do Do De Da Da Da”, um dos títulos mais intelectuais e pretensiosos da toda a
história da pop. O lado dois abre com “Every Little Thing she Does is
Magic”, do álbum de 1981 “Ghost in the Machine”. Não sabemos quem é
“ela” mas acreditamos, nela e que os três são mestres na arte mágica de saber
compor um refrão apelativo. “Invisible Sun” e “Spirits in the Material World”
assombram pela leveza fantasmagórica de um “reggae” sobrenatural, recordando
(bem como a totalidade de “Regatta de Blanc”) essas outras canções espectrais
que são as despojadas refrações sonoras da obra-prima “World of Echo”, assinada
por Arthur Russell. **
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