Pop
Rock
14
Dezembro 1994
ÁLBUNS
DO ANO EM WORLD
HEDNINGARNA
Tra
Pelo segundo ano consecutivo, os Hedningarna assinam o melhor álbum do
ano. Por este andar, e no caso de estes suecos lançarem anualmente um novo
disco, arriscam-se a ter lugar cativo nesta secção. Para já, “Tra” está ao
mesmo nível do anterior “Kaksi!”, considerado o melhor do ano transato.
A curiosidade estava desta vez em verificar de que maneira o grupo sueco
conseguiria encontrar uma porta de saída que lhe permitisse continuar a ditar leis
sem cair na repetição. Escolheram dar um passo em frente pelo lado da energia,
levando ao absurdo as possibilidades oferecidas pela música tradicional
nórdica. Ao ponto de se arriscarem a que se lhes chame um grupo de
“rock’n’roll”, um rótulo que se calhar até nem os aborrecerá muito, de tal
forma soltam a violência e os ritmos cerrados numa música que não se envergonha
de ser totalitarista e avassaladora. Por onde passam, os Hedningarna deixam
atrás de si terra queimada. O xamanismo mágico, essa técnica que visa a
convulsão do corpo e do espírito para os libertar das grilhetas mentais,
encontra aqui terreno fértil, mesmo que nem sempre da forma mais convencional.
Para os Hedningarna vale tudo, desde a exploração quase indecente das
sonoridades “proibidas” dos instrumentos tradicionais, como a gaita-de-foles e
a sanfona, até caminhos que rondam áreas mais urbanas da música e passam, num
dos temas, pela utilização “industrialista” de uma moto-serra. Depois, as vozes
femininas de Sanna Kurki-Suonio e Tellu Paulasto também raramente têm um
momento de sossego, em constante corpo a corpo com as percussões omnipresentes
de Björn Tollin. Para os mais tradicionalistas, a audição de “Tra” poderá
constituir uma experiência aterradora, podendo mesmo levantar-se a questão de
se o que eles se propõem fazer não é afinal destruir a própria música
tradicional, como a conhecíamos, para construir no seu lugar uma linguagem que
Nietzsche não desdenharia perfilhar. Seja qual for a resposta futura, fica uma
certeza, a de que os Hedningarna continuam a caminhar absolutamente sós num
mundo novo cujo mapa só agora começamos a vislumbrar.
Não assinado
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