17/08/2016

Riccardo Tesi & Patrick Vaillant + Riccardo Tesi

Pop Rock

15 SETEMBRO 1993
WORLD

ACORDEÃO TOSCANO


RICCARDO TESI & PATRICK VAILLANT
Véranda (9)
Silex, distri. Etnia

RICCARDO TESI
Il Ballo della Lepre (9)
Folk Classics, distri. Etnia

Natural de Pistoia, na Toscânia, Riccardo Tesi é um dos maiores intérpretes de acordeão diatónico a atualidade, tendo integrado, entre outras, a importante banda italiana Ritmia. Recentemente editou com John Kirkpatrick (“virtuose” inglês do acordeão, “melodeon” e anglo-concertina) e Kepa Junkera, do País Basco, o álbum “Trans-Europe Diatonique”, que a “Folkroots” louvou em termos entusiásticos.
Tesi desenvolveu um estilo personalizado que alia o virtuosismo a um aproveitamento de possibilidades insuspeitadas no acordeão, que explora em profundidade num reportório centrado em volta dos “saltarellos”, característicos do Centro de Itália, e das “tarantelas”, do Sul, bem como o “ballo rondo” da Sardenha e o estilo “tosco-emiliano” dos Apeninos.
Mais interessante que a localização das fontes é o modo como Tesi recria todo esse material de base, em fusões com o jazz, a música de salão, o rock e um minimalismo discreto. Notável, em “Véranda”, o modo como o vibrafone e a tuba, instrumentos raramente utilizados na “folk” (como aliás as marimbas e a trompete, também presentes), se interligam com o acordeão.
Patrick Vaillant, no bandolim e mandola, contribui com o contraponto ideal para as lucubrações do acordeonista, capaz de uma elasticidade espantosa nos compassos mais cerrados, como acontece logo na abertura, “Capelli neri”, cuja complexidade não deixa de recordar certos exercícios caros à falange “rock de câmara” da editora Recommended. Vaillant é responsável igualmente por todas as vocalizações, alternando o tom militante de “Nove dai corporacions” com a ternura de “La balada de Felis Galean”, “Nina” ou “Sirventes di Catarina”.
“Il Ballo della Lepre”, editado pela primeira vez em 1983, concilia, por seu turno, o folclore da Toscânia, da Lombardia, e dos Apeninos com a música de corte da Renascença. Sem desvios (em “Ducale”, um “air” renascentista), ou, por simpatia, nos arranjos para cravo que marcam a maioria dos temas. Uma maravilha com sabor palaciano que nos transporta para o reino de uma Itália perdida, por caminhos que por vezes se cruzam com os dos Barabàn e, menos, dos Ciapa Rusa.
“Il Ballo della Lepre” e “Véranda” recriam com mestria a tradição italiana numa vertente pouco conhecida e divulgada. O carnavalesco e o litúrgico saltam das rugosidades e das profundidades da terra. O canto revolucionário arde a par da religiosidade mais profunda e, sobretudo em “Véranda”, de uma modernidade sem compromissos. Duas obras imprescindíveis.



Nota: O trio de Riccardo Tesi atua em Portugal numa série de concertos subordinados ao tema “Etnia Immaginaria” – Música popular da Itália central. Dia 20, em Mértola, no Anfiteatro Zeca Afonso; dia 23, em Évora, no Palácio do Barrocal; dia 24, em Beja, no Largo das Portas de Mértola; dia 25, em Montemor-o-Novo, no Largo dos Paços do Concelho; dia 26, em Estremoz, na Igreja dos Congregados. Acompanham o acordeonista: Ettore Bonafé, no vibrafone e percussões, e Maurizio Geri, guitarra e voz.

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