Pop
Rock
15 SETEMBRO
1993
WORLD
ACORDEÃO TOSCANO
RICCARDO TESI & PATRICK VAILLANT
Véranda (9)
Silex,
distri. Etnia
RICCARDO TESI
Il Ballo della Lepre (9)
Folk
Classics, distri. Etnia
Natural de Pistoia, na Toscânia, Riccardo Tesi é um dos maiores intérpretes
de acordeão diatónico a atualidade, tendo integrado, entre outras, a importante
banda italiana Ritmia. Recentemente editou com John Kirkpatrick (“virtuose”
inglês do acordeão, “melodeon” e anglo-concertina) e Kepa Junkera, do País
Basco, o álbum “Trans-Europe Diatonique”, que a “Folkroots” louvou em termos
entusiásticos.
Tesi desenvolveu um estilo personalizado que alia o virtuosismo a um
aproveitamento de possibilidades insuspeitadas no acordeão, que explora em
profundidade num reportório centrado em volta dos “saltarellos”,
característicos do Centro de Itália, e das “tarantelas”, do Sul, bem como o
“ballo rondo” da Sardenha e o estilo “tosco-emiliano” dos Apeninos.
Mais interessante que a localização das fontes é o modo como Tesi recria
todo esse material de base, em fusões com o jazz, a música de salão, o rock e
um minimalismo discreto. Notável, em “Véranda”, o modo como o vibrafone e a
tuba, instrumentos raramente utilizados na “folk” (como aliás as marimbas e a
trompete, também presentes), se interligam com o acordeão.
Patrick Vaillant, no bandolim e mandola, contribui com o contraponto
ideal para as lucubrações do acordeonista, capaz de uma elasticidade espantosa
nos compassos mais cerrados, como acontece logo na abertura, “Capelli neri”,
cuja complexidade não deixa de recordar certos exercícios caros à falange “rock
de câmara” da editora Recommended. Vaillant é responsável igualmente por todas
as vocalizações, alternando o tom militante de “Nove dai corporacions” com a
ternura de “La balada de Felis Galean”, “Nina” ou “Sirventes di Catarina”.
“Il Ballo della Lepre”, editado pela primeira vez em 1983, concilia, por
seu turno, o folclore da Toscânia, da Lombardia, e dos Apeninos com a música de
corte da Renascença. Sem desvios (em “Ducale”, um “air” renascentista), ou, por
simpatia, nos arranjos para cravo que marcam a maioria dos temas. Uma maravilha
com sabor palaciano que nos transporta para o reino de uma Itália perdida, por
caminhos que por vezes se cruzam com os dos Barabàn e, menos, dos Ciapa Rusa.
“Il Ballo della Lepre” e “Véranda” recriam com mestria a tradição
italiana numa vertente pouco conhecida e divulgada. O carnavalesco e o
litúrgico saltam das rugosidades e das profundidades da terra. O canto
revolucionário arde a par da religiosidade mais profunda e, sobretudo em
“Véranda”, de uma modernidade sem compromissos. Duas obras imprescindíveis.
Nota: O
trio de Riccardo Tesi atua em Portugal numa série de concertos subordinados ao
tema “Etnia Immaginaria” – Música popular da Itália central. Dia 20, em
Mértola, no Anfiteatro Zeca Afonso; dia 23, em Évora, no Palácio do Barrocal;
dia 24, em Beja, no Largo das Portas de Mértola; dia 25, em Montemor-o-Novo, no
Largo dos Paços do Concelho; dia 26, em Estremoz, na Igreja dos Congregados.
Acompanham o acordeonista: Ettore Bonafé, no vibrafone e percussões, e Maurizio
Geri, guitarra e voz.
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