31/08/2016

Um mosquito pica um exército [New Model Army + GNR]

cultura QUINTA-FEIRA, 30 ABRIL 1998

Semana Académica de Lisboa

Um mosquito pica um exército

OS NEW Model Army (nome dado ao exército revolucionário de Oliver Cromwell que comandou uma fação da guerra civil travada na Grã-Bretanha no séc. XVII) e os GNR atuam esta noite, a partir das 22h30, no Passeio Marítimo de Algés, num concerto integrado na Semana Académica de Lisboa. A força proletária dos ingleses contra a elegância burguesa dos portugueses. Mesmo que os primeiros tenham assinado pela multinacional EMI (que mais tarde abandonaram) e os segundos se tenham empenhado numa luta sem quartel contra a estagnação da sua pop.
            Formados em 1982 no Yorkshire, os New Model Army herdaram do punk o nihilismo, a impertinência e o jeito para tocar alto, facetas que aliaram a um certo pendor para coisas mais suaves na linha do folk/rock. Cedo granjearam uma fação de adeptos e a fama de opositores tenazes aos “tories” que nos anos 80 governavam o seu país. Canções como “The Price” e “No rest” subiram nas listas de vendas e uma aparição do grupo no popular programa de televisão “Top of the Pops” provocou alguma celeuma, quando os músicos distribuíram pela audiência T-shirts da dizer “Only stupid bastards use heroin”. Os New Model Army gravaram álbuns como “Vengeance”, “No Rest for the Wicked”, “Ghost of Cain”, Thunder and Consolation” e “Raw Melody Men”.
            Os GNR são uma instituição da pop nacional, vivendo da inteligência com que desenham canções sem sentido destinadas a um público adolescente (embora fossem experimentais, quando nas suas fileiras militavam Alexandre Soares, hoje nos Três Tristes Tigres, e Vítor Rua, hoje nos Telectu) e do instinto de palco do seu vocalista, Rui Reininho. O último álbum do grupo, intitulado “Mosquito”, faz voo picado sobre uma série de canções de metal e chocolate que reinventam as palavras bom-gosto e contenção.

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