21/08/2016

Archetype - Archetype



Pop Rock

1994
WORLD

AS CORDAS DE PLATÃO

ARCHETYPE
Archetype
Escalibur, distri. Etnia


“Arquétipo” é sinónimo de “modelo”, no sentido platónico de “forma”. A mesma palavra, num dicionário de música da Bretanha, significa uma formação específica de 16 mãos, oito paus munidos de pelos de crina (ou seja, os arcos) em contacto com 32 cordas tensas, em grupos de quatro, sobre caixas de madeira com maior ou menos ventre (ou seja, o violino, o violoncelo e o contrabaixo, cada um com quatro cordas). Os Archetype são, completamente de acordo com estes enunciados, um octeto de cordas bretão (num total de 32 mãos...) que procura alargar os horizontes musicais dos instrumentos de corda mencionados, no contexto da música tradicional. Opção comparável à dos Une Anche Passe (crítica publicada, neste suplemento, na semana passada) em relação aos instrumentos de sopro com palheta. Com uma diferença fundamental. Enquanto estes integram no seu estilo a improvisação e liberdades formais que têm paralelo no “free jazz”, os Archetype, pelo contrário, privilegiam a complexidade estrutural e o contraponto devidamente anotados na pauta. A composição, em contraste com a improvisação (não importa discutir aqui se a improvisação não é afinal composição espontânea, sem mediação...), dentro de um espírito próprio dos grupos de música de câmara. Entre os oito instrumentistas lá está Jacky Molard, violinista dos Gwerz, um nome cada vez mais determinante na nova música tradicional da Bretanha.
Integram a música dos Archetype gavotas, polkas, “an dros” e marchas bretãs, um genuíno “hora” da Bulgária (mais um sucedâneo, “Le loup des Carpates”) e um “medley” de “jigs” e “reels” irlandeses (onde, por sinal, os Archetype se mostram um pouco fora de água), um dos quais compostos por Frankie Gavin, dos De Danann. Música para ouvir confortavelmente, de maneira a propiciar uma melhor decifração dos pormenores, de construção minuciosa, quase matemática. Certos temas evocam de forma vaga “momentos da corda” dos Gentle Giant (“Polka-plinn”), Penguin Cafe Orchestra (“Oust et lié”, escrito em parte por Jean Baron), Michael Nyman (um excecional e inovador “Aperitif-concert”) e Malicorne (“Andy’s waltz”). Não vale a pena procurar neste disco quaisquer incitamentos à dança, muito menos motivos para libações de qualquer espécie. O prazer é de outro tipo, dirigido ao cérebro (que também sabe sentir). O mesmo prazer que pode ser obtido com a audição de uma peça do barroco ou a contemplação das “ideias” – as tais formas, modelos ou arquétipos de que falava Platão. (8)

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