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1994
WORLD
AS CORDAS DE PLATÃO
ARCHETYPE
Archetype
Escalibur,
distri. Etnia
“Arquétipo” é sinónimo
de “modelo”, no sentido platónico de “forma”. A mesma palavra, num dicionário
de música da Bretanha, significa uma formação específica de 16 mãos, oito paus
munidos de pelos de crina (ou seja, os arcos) em contacto com 32 cordas tensas,
em grupos de quatro, sobre caixas de madeira com maior ou menos ventre (ou
seja, o violino, o violoncelo e o contrabaixo, cada um com quatro cordas). Os Archetype
são, completamente de acordo com estes enunciados, um octeto de cordas bretão
(num total de 32 mãos...) que procura alargar os horizontes musicais dos
instrumentos de corda mencionados, no contexto da música tradicional. Opção
comparável à dos Une Anche Passe (crítica publicada, neste suplemento, na
semana passada) em relação aos instrumentos de sopro com palheta. Com uma
diferença fundamental. Enquanto estes integram no seu estilo a improvisação e
liberdades formais que têm paralelo no “free jazz”, os Archetype, pelo
contrário, privilegiam a complexidade estrutural e o contraponto devidamente
anotados na pauta. A composição, em contraste com a improvisação (não importa
discutir aqui se a improvisação não é afinal composição espontânea, sem
mediação...), dentro de um espírito próprio dos grupos de música de câmara.
Entre os oito instrumentistas lá está Jacky Molard, violinista dos Gwerz, um
nome cada vez mais determinante na nova música tradicional da Bretanha.
Integram a música dos
Archetype gavotas, polkas, “an dros” e marchas bretãs, um genuíno “hora” da
Bulgária (mais um sucedâneo, “Le loup des Carpates”) e um “medley” de “jigs” e
“reels” irlandeses (onde, por sinal, os Archetype se mostram um pouco fora de
água), um dos quais compostos por Frankie Gavin, dos De Danann. Música para
ouvir confortavelmente, de maneira a propiciar uma melhor decifração dos
pormenores, de construção minuciosa, quase matemática. Certos temas evocam de
forma vaga “momentos da corda” dos Gentle Giant (“Polka-plinn”), Penguin Cafe Orchestra
(“Oust et lié”, escrito em parte por Jean Baron), Michael Nyman (um excecional
e inovador “Aperitif-concert”) e Malicorne (“Andy’s waltz”). Não vale a pena
procurar neste disco quaisquer incitamentos à dança, muito menos motivos para
libações de qualquer espécie. O prazer é de outro tipo, dirigido ao cérebro
(que também sabe sentir). O mesmo prazer que pode ser obtido com a audição de
uma peça do barroco ou a contemplação das “ideias” – as tais formas, modelos ou
arquétipos de que falava Platão. (8)
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