11 Dezembro
1996
POP
ROCK
Guy Evans & Peter
Hammill
The Union Chapel Concert
2XCD FIE, DISTRI. MEGAMÚSICA
Peter Hammill
Sonix
CD FIE, DISTRI. MEGAMÚSICA
David Jackson
Fractal Bridge
CD FIE, DISTRI. MEGAMÚSICA
Refazer a
história é difícil. Ressuscitar o mito é impossível. Os Van Der Graaf Generator
são, quer se queira quer não, um mito, dos poucos que, nos anos 70, elevaram,
de facto, a música progressiva à categoria de grande arte. Assinaram uma
obra-prima absoluta, “Pawn Hearts”, dissolveram-se, reuniram-se de novo para
viver uma segunda vida que culminou noutra obra-chave, já na antecâmara da
década de 80, “Still Life”. Finalmente, o gerador extinguiu-se e cada músico
seguiu o seu próprio caminho, embora as ligações entre os vários elementos
jamais se extinguissem. Guy Evans foi, desde o primeiro álbum do grupo, “The
Aerosol Grey Machine”, o baterista dos Van Der Graaf Generator (VDGG). Anos
mais tarde, gravou com Hammill um disco instrumental de música eletrónica que
passou despercebido, “Spur Of The Moment”.
Em “The Union Chapel Concert” retomaram ambos, ao vivo, essa colaboração, com a curiosidade de contarem com a participação de todos os músicos que, em diversas fases, passaram pelo grupo. É assim que, a par dos diversos duos e trios com Stuart Gordon e Manny Elias, chegamos ao momento culminante do disco: Peter Hammill, Guy Evans, David Jackson e Hugh Banton, os quatro juntos, ou seja, a formação mítica dos VDGG, de “Pawn Hearts”, para tocarem um tema deste disco, “Lemmings”. Poderia ser um momento de magia, mas, como já dissemos, os mitos não se ressuscitam. Não são os VDGG mas apenas quatro homens a tentar puxar pela memória, buscando uma mística inalcançável. Custa ouvir Hammill entrar atrasado com a voz num aglomerado sonoro em que os decibéis não disfarçam a pobreza de uma estrutura que reduziu a um casebre o que era uma catedral. O resto do disco, incluindo uma versão, também simplificada, de “Red Shift” (do álbum de 1974 de Hammill, “The Silent Corner and the Empty Stage”), é interessante. Diálogos entre as percussões computorizadas de Evans com as “hammilltronics”, na guitarra, de Hammill, Banton a comprometer-se com um “Adagio for Strings”, de Samuel Barber (1910-1981), e Stuart Gordon perdendo-se no violino no tradicional irlandês “Women of Ireland” (6).
Em “The Union Chapel Concert” retomaram ambos, ao vivo, essa colaboração, com a curiosidade de contarem com a participação de todos os músicos que, em diversas fases, passaram pelo grupo. É assim que, a par dos diversos duos e trios com Stuart Gordon e Manny Elias, chegamos ao momento culminante do disco: Peter Hammill, Guy Evans, David Jackson e Hugh Banton, os quatro juntos, ou seja, a formação mítica dos VDGG, de “Pawn Hearts”, para tocarem um tema deste disco, “Lemmings”. Poderia ser um momento de magia, mas, como já dissemos, os mitos não se ressuscitam. Não são os VDGG mas apenas quatro homens a tentar puxar pela memória, buscando uma mística inalcançável. Custa ouvir Hammill entrar atrasado com a voz num aglomerado sonoro em que os decibéis não disfarçam a pobreza de uma estrutura que reduziu a um casebre o que era uma catedral. O resto do disco, incluindo uma versão, também simplificada, de “Red Shift” (do álbum de 1974 de Hammill, “The Silent Corner and the Empty Stage”), é interessante. Diálogos entre as percussões computorizadas de Evans com as “hammilltronics”, na guitarra, de Hammill, Banton a comprometer-se com um “Adagio for Strings”, de Samuel Barber (1910-1981), e Stuart Gordon perdendo-se no violino no tradicional irlandês “Women of Ireland” (6).
Quanto à
discografia a solo de Peter Hammill, já se sabe, o homem é mais prolífero que
um coelho. Também no seu caso o tempo fez estragos. O génio que marca toda a
sua obra até “A Black Box”, incluindo o equivalente solitário de “Pawn Hearts”,
a descida solitária aos infernos que é “In Camera”, cedeu à pura
excentricidade, de alguém que, seja como for, teima em não se deixar prender
nas malhas do sistema. “Sonix” não é o seu novo álbum, mas sim um capítulo
semelhante a “Loops & Reels”, isto é, uma coleção de temas, quase todos
instrumentais, que incluem a banda sonora de “Emmene-moi”, uma peça extensa (26
m, a única vocalizada), “Labyrinthine Dreams”, para bailado, e experiências com
“loops” (Dark Matter”) ou com novas tecnologias de estúdio (“Four The Floor”).
Entre os diálogos pungentes da guitarra com o violino de Stuart Gordon, a graça
de programações que fazem um teclado tocar sozinho e alguns ruídos curiosos,
também aqui, como já referimos, não estejamos perante a sucessão “oficial” do
excelente e anterior álbum da Hammill, “Xmy Heart” (7).
Acaba por ser o álbum do saxofonista David Jackson o mais inovador dos três. Jackson era camionista, antes de entrar para os VDGG. Com o desaparecimento destes, participou em diversos projetos, entre os quais “The Long Hello” (uma série de álbuns descomprometidos que podem levar a assinatura de qualquer dos antigos elementos do grupo), antes de se dedicar à terapia pelo som. É neste âmbito que surge “Fractal Bridge”, um trabalho de música eletrónica que usa, em larga escala, o chamado “Soundbeam”, um sistema de sintetizadores interligados por MIDI cuja particularidade é poder ser acionado através de movimentos do corpo. Uma espécie de harpa de feixes eletrónicos de múltiplas frequências suspensos e manipulados no ar. “The Amazing Invisible Elastic Keyboard In The Air”, como David Jackson lhe chama.
Cada faixa corresponde a uma especificidade do sistema, jogando na combinação entre um número diferente de “soundbeams” e nos diferentes comprimentos de cada um, pondo em prática o conceito de “ponte fractal” enunciado no título. Mas o que poderia soar como um catálogo de sons bizarros é contido dentro de uma esfera estritamente musical, funcionado o “Soundbeam” e as suas quase infinitas potencialidades como um parceiro dialogante para os saxofones e flautas de Jackson. Umas vezes próximo da serenidade “new age”, outras agitado pela fricção da interatividade com a máquina, “Fractal Bridge” (produzido e com a participação de Peter Hammill, como em “Wildman”, um concentrado louco de Urban Sax) constitui um objeto de algum fascínio, enquanto pesquisa de formas sonoras e estados psíquicos alterados (7).
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