15
de Setembro 2000
POP
ROCK - DISCOS
Holger Hiller
Holger
Hiller (8/10)
Mute, distri. Zona Música
Alguns poderão ver nele um
Stockausen de trazer por casa, o que não é vergonha nenhuma, se pensarmos que
foi este alemão que nos anos 80 meteu o arsenal sónico e conceptual da música
contemporânea erudita dentro de um sampler fazendo sair do outro lado uma
audaciosa fusão de eletrónica operática com a pedreira da música concreta,
brincadeiras proibidas e… rock’n’roll. O krautrock deve-lhe a sobrevivência nas
duas últimas décadas ao algemar as vastidões cósmicas dos planantes com as
correntes do punk e gente como Felix Kubin ou Oleg Kostrow venera-o de joelhos.
Depois de ter passado praticamente despercebido nos Palais Schaumburg, Hiller
desfraldou a sua bandeira de originalidade sem paralelo em dois álbuns
seminais: “Ein Bundel Faulnis in der Grube” e “Oben im Eck”. Os posteriores “As
is” e, ainda com mais convicção, “Demixed”, enfiam-se na mesa de remisturas e
“Little Present”, já dos anos 90, é um postal ilustrado de paisagens sonoras de
Tóquio oferecidas ao seu filho de cinco anos residente no Japão. Com o novo “Holger
Hiller” o compositor alemão quebra um jejum de meia década com mais uma
inspirada manobra de equilibrismo que, por entre um labirinto de corredores,
desfaz à martelada e ri-se às gargalhadas do drum ‘n’ bass, da música
industrial e de todos os estilos começados por “electro”. O sampler é uma
picareta, a Escola de Viena um chiqueiro e, correndo o risco de apanhar com uma
tarte de natas na cara, diria que este homem é o Zappa que a Alemanha nunca
teve, um robô louco mestre de Tobin ou a continuação, no presente, do que os
Faust poderiam ter feito (“Pulver”) de uma maneira diferente da que fazem
agora. Mas Holger Hiller é único. Não chega?
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