28
de Julho 2000
POP
ROCK - DISCOS
John Fahey
Hitomi
(7/10)
LivHouse, distri. Sabotage
Figura lendária do “underground”,
herói para Jim O’Rourke, que o projetou como padrinho do pós-rockm influência
assumida por Thurston Moore, dos Sonic Youth, John Fahey prossegue infatigável
uma carreira desde há três décadas paralela aos grandes centros de decisão da
indústria discográfica. A sua música fantasmática faz-se da devoção aos blues e
à country, colados nas cordas da sua guitarra pela técnica do “fingerpicking” e
por uma noção do tempo que ronda os princípios da hipnose. “Hitomi” apresenta
uma sucessão de monólogos onde a introspeção e o silêncio se entrelaçam em
longos mantras sulcados por efeitos de eco, reverberação e delay. Os “blues”
alongam-se na dispersão das frases da guitarra, abrindo no seu interior espaços
e síncopes. O tempo, repetimos, não é o mesmo para John Fahey e para um
“bluesman” tradicional. Fahey estilhaça-o a seu bel-prazer numa música que tem
tanto da serenidade zen (um “Delta flight” planante) como da inquietação súbita
que um redemoinho de vento traz a uma cálida tarde de Verão. Quando, por fim, a
guitarra se depara com o seu primeiro grande obstáculo, em “A history of Tokyo
rail traction”, o embate com a eletrónica de Tim Knight e Rob Scrivener repõe
com violência esta música do “outro mundo” na realidade das coisas sólidas que
colidem e fazem ruído e causam dor. Como se o pós-rock reivindicasse à força os
seus direitos, exigindo de John Fahey a atenção que este invariavelmente tem concentrada
nas regiões mais estratosféricas da imaginação. São sonhos que se desvelam em
“Hitomi”. Mas sonhos que causam desequilíbrio e exigem a reavaliação das normas
que regem os passado. O que torna a música de John Fahey intemporal.
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