Y
24|Novembro|2000
multimédia|capa
to
rococo rot
Tolas
de Berlim
OS
TO ROCOCO ROT oferecem uma panorâmica eletrónica e abstrata da cidade de
Berlim. O Y entrevistou pelo telefone uma das três cabeças da banda, Robert
Lippok, e propôs-lhe o número três como tema de entrevista. Lippok acedeu a
fazer a contagem.
Três cidades alemãs:
COLONIA/DUSSELDÖRF/BERLIM
“Colónia tem uma tradição forte na
tecno minimal, o material da Kompakt, tudo isso. Ao ouvir algumas das novas
bandas de Dusseldörf, como os Kreidler, é possível descortinar um elo oculto
não só com a herança do krautrock como com a new wave dos anos 80, de grupos
como os D. A. F.. Berlim tem artistas como os Jazzanova ou os Sonar Kollektiv,
mais orientados para um ‘groove’ jazzy, com toques de bossa. Tem também o som
da Basic Channel, um conceito muito puro do som”.
Três nomes pioneiros da música pop
eletrónica alemã: CLUSTER/PYROLATOR/HOLGER HILLER
“Não conhecia muito bem os Cluster
até descobrir há dois anos ‘Zuckerzeit’. Antes pensava que existiam poucas
coisas a ligar as novas gerações ao krautrock mas ‘Zuckerzeit’ fez-me mudar de
opinião, na forma como os Cluster estruturavam as imagens sonoras e criavam
aquele tipo especial de melodias. Nos anos 80 ouvia os Einstürzende Neubauten,
os D.A.F. ou os Der Plan. Foi nessa época que comecei a interessar-me pela
“house” de Chicago”.
Os To Rococo Rot fazem música de
dança para a cabeça?
“Já fizemos concertos em que as
pessoas dançaram de facto. Quando isso voltar a acontecer não me posso esquecer
de as fotografar! Existem coisas interessantes na música de dança que
aproveitamos, num contexto diferente, como certas frequências e padrões
rítmicos de tecno mais graves.”
Três álbuns dos To Rococo Rot: “CD”/”VEICULO”/”THE
AMATEUR VIEW”
“’CD’ é mais experiemental. Foi
feito por acaso. Tínhamos ganho dinheiro com uma exposição, eu assisti a um
concerto dos Kreidler e decidi convidar o Stefan. Encontrámo-nos os três pela
primeira vez em Berlim, o álbum foi gravado em dois dias, fizemos o ‘editing’
num instante, os ‘loops’, o baixo, a bateria, tudo registado num gravador de
oito pistas. É um álbum rude e intenso. Trabalhámos da mesma maneira em
“Veiculo” (o título em português foi escolhido pelo Stefan: ‘Vehikel’, em
alemão, tem o mesmo significado por isso as pessoas aqui não têm dificuldade em
compreender o seu significado, mas a palavra em português soa bastante melhor).
‘The Amateur View’ é diferente, o som é mais nítido e direto do que em
‘Veiculo’ que soa um bocado nebuloso”.
Três ferramentas de trabalho: SINTETIZADOR
ANALÓGICO/SAMPLER/POWERBOOK
“Não fazemos questão de usar
equipamento analógico. Os samplers são mais interessantes. Tenho em casa um
velho Moog Satellite mas raramente o uso. Vem arrumado dentro de uma caixa, tem
um aspeto maravilhoso mas é como domar um cavalo selvagem. Atenção, gosto dos
velhos analógicos, mas não penso neles como se fossem o cálice sagrado. Quanto
ao ‘powerbook’, costumava usá-lo nos concertos mas deixei de o fazer. O público
olhava para nós como se estivéssemos a trabalhar num escritório e nós, em vez
de olharmos para a assistência, olhávamos para a imagens num ecrã. Agora
levamos para o palco uma bateria, tocada pelo Ronald, e o Stefan toca guitarra
baixo”.
Gostam de remisturar a música de outros
artistas?
“Sem dúvida. Já remisturámos, entre
outros, os Tone Rec, Leftfield, Mira Calix, eu remisturei os Kreidler. É
divertido manipular vozes e sons que de outra forma nunca entrariam nos To
Rococo Rot. Já o contrário, sermos misturados por outros, nunca aconteceu.
Preferimos encontrarmo-nos com outras pessoas e trabalharmos juntos no estúdio.
Estamos a gravar o próximo álbum com dj I-Sound, de Nova Iorque”.
Três editoras alemãs de música
eletrónica: MILLE-PLATEAUX/a-MUSIK/SONIG
“Na semana passada assisti a uma
noite ao vivo com artistas da Mille-Plateaux, como Vladislav Delay.
Influenciaram muita da eletrónica que se faz hoje, gente como os SND ou Curd
Duca. Na a-musik o humor está também presente, o mesmo humor que pode ser detetado
numa faixa nossa como ‘Cars’. Não somos uma banda conceptual, não queremos
ficar sentados a discutir e muito menos torturar ninguém. Da Sonig destacaria
‘The Köln Konzert’, de Vert [espécie de clonagem cibernética de ‘The Köln
Concert’, de Keith Jarrett], um objeto bizarro onde o espírito de Jarrett
permanece estranhamente presente”.
O seu Top Três pessoal e instantâneo
de discos de música eletrónica:
“Qualquer um dos volumes 1, 2 ou 4
da série ‘Easy Listening’ de Curd Duca; o EP ‘Fennesz Plays’, de Christian
Fennesz, com duas versões para canções dos Rolling Stones e dos Beach Boys;
‘Eight Miles High’, do grupo com o mesmo nome”.
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