4
de Agosto 2000
REEDIÇÕES
Reabrir
o bayou
Boa
música para se levar para férias, a dos norte-americanos Creedence Clearwater Revival. Se ouviu dizer que não passavam de
uma banda que os adolescentes ouviam no final dos anos 60, princípio dos 70,
não acredite. É o “só” que está errado. Sem dúvida que os CCR se podem gabar de
ter andado nas bocas do mundo, através de uma série de canções que foram êxito
um pouco por todo o lado e que acabaram por entrar no domínio do “quasepimba”.
Mas seria injusto reduzir o grupo a um mero produtor de “hits” inofensivos. Os
Creedence foram uma das bandas mais sólidas a emergir na América da ressaca do
psicadelismo. Com uma formação estável que se manteve até ao último álbum, eram
um quarteto onde pontificavam a voz, a guitarra e as composições de John
Fogerty. Completavam o grupo o seu irmão Tom Fogerty, na guitarra-ritmo, Stu
Cook, no baixo, e Douglas Clifford, na bateria. Toda a discografia do grupo
acabou de ser reeditada em formato remasterizado em 24 bits e é como se esta
mistura de rock’n’roll, blues e música do “bayou”, executada com energia e
contenção, voltasse a fazer sentido.
“Creedence Clearwater Revival”, de
1968, é uma estreia auspiciosa. O clássico “I put a spell on you”, de Screamin’
Jay Hawkins, cria a atmosfera dos pântanos e do vudu da Luisiana que prevalece
num álbum ainda marcado pelo tipo de efeitos sonoros do psicadelismo e que
inclui o primeiro êxito do grupo, “Suzie Q”. John Fogerty revelava-se um
guitarrista e vocalista portentoso, com uma técnica que entroncava ao mesmo
tempo nos “blues” e no rock (8/10).
No
ano seguinte os Creedence lançaram “Green
River”, menos subtil que o álbum anterior, uma clara aposta no rock. É um
álbum homogéneo de onde saíram os “hits” “Green River” e Bad moon rising”.
“Sinister purpose” é o único tema que mantém as atmosferas carregadas do disco
de estreia (6/10).
Segue-se
“Bayou Country”, de 1969, e com ele
os CCR voltam a dar cartas na arte da contenção. “Graveyard train” é um longo
tema “bluesy” onde brilha a guitarra de John Fogerty e Proud Mary” o
megassucesso que elevou os Creedence à condição de “stars” (7/10).
“Willie and the Poorboys”, ainda de
1969, é um álbum que perde com a tentativa de integração de sonoridades
“country” na música do grupo. Mesmo assim, os Creedence faturaram mais uma
canção de sucesso, desta feita o tema de abertura “Down on the corner”. O
último e introspetivo “Effigy” mostra que os CCR não tinham perdido o sentido
da subtileza. (6/10).
Mas
é o álbum seguinte, “Cosmo’s Factory”,
de 1970, que definitivamente catapulta os CCR para o “hall of fame” da música
americana. O rock’n’roll de “ooby dooby” e uma excelente e longa versão de “I
heard it through the grapevine”, de Marvin Gaye, quase empalidecem diante de
“hits” irresistíveis como “Travellin’ band”, “Lookin’ out my back door”, “Up
around the bend” e “Who’ll stop the rain”. Os apreciadores de rock, sem mais,
têm em “Cosmo’s Factory” um objeto de culto (7/10).
Ainda
no mesmo ano os CCR mudam de agulhas em “Pendulum”,
geralmente menosprezado pelos puristas do clássico som Creedence. O órgão
funciona como suporte harmónico de temas de sabor “gospel” e “soul” enquanto o
saxofone traz um colorido adicional. Os “hits” são desta vez “Have you ever
seen the rain?” e “Hey tonight” mas o tema que se destaca acaba por ser, a
fechar, o instrumental “Rude awakenings # 2”, equivalente à “Revolution # 9”
dos Beatles, cacofonia de efeitos eletrónicos que sugere uma generosa ingestão
de LSD. (7/10).
Tudo
se esfrangalha em “Mardi Gras”, de
1972, com a vocalizações e o trabalho de composição a serem repartidos pelos
quatro músicos. A esta democratização correspondeu um álbum falho de
personalidade que comprova o papel fundamental desempenhado até então por John
Fogerty. E pela primeira vez num álbum dos CCR não havia uma única canção
vitoriosa. (5/10) (Todos Fantasy,
distri. Dargil)
Sem comentários:
Enviar um comentário