30
de Junho 2000
POP
ROCK - DISCOS
Pole
Pole
3 (6/10)
Kiff, distri. Megamúsica
Sempre que ouço a música dos
Pole, alter-ego de Stefan Betke, que recentemente atuou no Museu Serralves, no
Porto, imagino os sons amplificados de uns intestinos em plena atividade
digestiva, captados através de um microfone ligado a um estetoscópio. O
“click-dub” dos Pole é esse aglomerado em constante mutação de estalidos,
zumbidos, pancadas e raspagens eletrónicas, música de dança para vísceras
atiradas para uma centrifugadora. Depois de um primeiro volume azul carregado
de estática e de um segundo volume vermelho que escorria sangue sintético, o
terceiro volume dos Pole é todo em amarelo-bílis, como uma glândula
desenvolvida em laboratório. Com uma dose reforçada de imaginação e o corpo já
suficientemente massacrado por um número excessivo de exposições a esta música
pouco recomendável para pessoas saudáveis, é mesmo possível descortinar em
“Pole 3” algo parecido com “groove”. Temas como “Karussell” (ter-se-ia Stefan
Betke lembrado dos Cluster?), “Überfahrt” ou “Rondell zwei” (teria Stefan Betke
estado a ouvir Bob Marley enquanto fumava um charro de quilo?) conseguiriam
talvez fazer levantar um cadáver numa sessão techno na morgue. Há com certeza
movimento nesta música criada nas entranhas do computador, se está viva ou não,
esse é já outra questão. Algo mexerá ainda depois de extintas todas as funções
vitais, provavelmente, como no banquete de carne morta enlouquecida de
“Braindead”, as tais vísceras, réplicas horríveis do corpo principal. Gestos
reflexos de órgãos mortos, postos em atividade por choques elétricos.
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