Sons
13 Outubro
2000
Rodrigo Leão no seio de
“Alma Mater”
“O piano dá mais luz às músicas”
Rodrigo Leão está de volta abraçado à “alma mãe”. Fechadas as portas do
“Theatrum”, o antigo teclista dos Madredeus regressa com “Alma Mater”, música
luminosa num álbum recheado de surpresas, com participações vocais de Adriana
Calcanhoto e Lula Pena.
Foi
há dois anos que Rodrigo Leão começou a preparar “Alma Mater”. Pelo meio
meteram-se os Sétima Legião e “Sexto Sentido” – “um trabalho que me tirou para
aí uns seis meses, demorou mais tempo a fazer que o ‘Theatrum’” – e trabalho de
estúdio, “muito acústico”, e de casa, “uma fase mais eletrónica”. “Alma Mater”
apresenta duas facetas musicais distintas que, no entanto, se entrecruzam como
se fosse a única maneira de fazerem sentido. Uma mais “leve” e “new age”,
pintalgada pelos toques pianísticos da escola impressionista francesa, à chuva,
com Erik Satie, outra mais densa e “de câmara”, na sequência da anterior obra
de Rodrigo Leão.
“’Theatrum’
encerrava um capítulo iniciado com ‘Ave Mundi Luminare’, com o ‘Mysterium’ pelo
meio. Senti logo nas primeiras composições deste novo trabalho uma necessidade
inconsciente de sair daquela densidade toda, de uma coisa muito mais maquinal”,
explica Rodrigo Leão, destacando neste seu novo disco o seu caráter “melódico”
e a sua “simplicidade”.
Na
época em que gravou “Theatrum”, Rodrigo atravessava uma fase negra da sua vida.
“Alma Mater” corresponderia então a um período solar? “A minha vida tem muito a
ver com a música que faço”, anui. “Senti necessidade de me afastar do
‘Theatrum’.” Um afastamento do teatro que implica deitar fora as máscaras.
“Alma Mater” é um álbum transparente.
Mais
do que nos anteriores álbuns, o piano faz-se ouvir com a transparência do
cristal. “Nos outros álbuns havia muitas coisas em piano que eu depois achava
que eram de mais e acabava por mudar, enquanto neste acabaram por ficar. O
piano dá mais luz às músicas.” Embora, neste caso, não se trate de um piano de
cauda mas de um registo simulado no sintetizador. E há um sample de uma voz
africana, em “Orionte”.
“New
age”. Um termo redutor. Rodrigo Leão não se sente incomodado. “Em Espanha, os
meus trabalhos anteriores foram catalogados de ‘new age’, nos outros países foi
arrumado na música clássica. Não me preocupo muito com isso, arrumarem a música
que faço nalguma corrente.”
Uma
dessas correntes é o tango. Dois temas de “Alma Mater” chamam a música do país
de Gardel. Um deles, “Pasión”, vocalizado pela cantora convidada, Lula Pena.
“Sou um admirador da obra de Piazzolla”. “’Passión’ já tinha uns cinco anos,
era um instrumental, um tema alegra que contrastava com a melancolia dos outros
todos. Foi já muito mais tarde que pensámos em pôr uma voz. A Lula Pena gostou
do tema…”
Adriana
Calcanhotto canta em “A casa”, com poema de Ana Carolina, atual companheira do
músico. Já tinha sido cantado em português, Rodrigo Leão não gostou. “Fazia
lembrar um bocadinho Madredeus.” Mas como “faz lembrar, também um bocadinho,
bossa nova”, Rodrigo Leão lembrou-se de alguém brasileiro para cantar.
“Primeiro pensei no Caetano Veloso mas este ano fiquei a conhecer melhor a obra
da Adriana, praticamente todos os discos dela, estabeleci o contacto e fui a
correr até ao Rio de Janeiro…” O terceiro convidado especial de “Alma Mater” é
o guitarrista português Pedro Jóia, especialista em flamengo. Em “Sossego”
poderá avaliar-se em pormenor o seu estilo na guitarra clássica num tema
pautado por uma melancolia e cadência muito satieanas.
“Dragão”
está a um pequeno passo de poder ser dançado. “É um bocadinho Sétima, depois de
ter sido uma música mais a ver com os Joy Division. Tinha só tambores mas
depois, na mistura, não funcionou. Acabámos por optar por uma coisa mais
simples.”
De
“Theatrum” para “Alma Mater” ficou, pelo menos, o título em latim. Este é
metade português, metade latim, mas é um título que, por si só, já tem luz, tem
muitos ares. É a mãe criadora, o sítio onde os antigos aprendiam a sabedoria.
Para mim, simbolicamente, uma fonte de inspiração.”
Qum
quiser partilhar com Rodrigo Leão e os Vox Ensemble esta sabedoria poderá
fazê-lo já esta noite na festa de entrega dos Prémios Blitz.
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