Pop
Rock
7 Maio
1997
Entrevista
com Stefan Schneider
Máquinas
em movimento
Kreidler
e To Rococo Rot são dois projetos liderados por Stefan Schneider, um natural de
Düsseldorf que transportou para os anos 90 os sons mecânicos do “Krautrock” da
década de 70 com berço nessa cidade: Kraftwerk, Neu! e La Düsseldorf. Vizinho
de Klaus Dinger, denominador comum destes três grupos, Stefan Schneider faz o
ponto da situação.
Apontados como
representantes da ala mais eletrónica e radical do “pós-rock”, os To Rococo Rot
gravaram até à data dois álbuns, o último dos quais, distribuído em Portugal
pela Música Alternativa, tem por título “Veiculo”. Mas Stefan Schneider, com
quem o PÚBLICO conversou, concentra a maior parte do seu tempo nos Kreidler,
cujo novo álbum, intitulado “Weekend” (distribuição Megamúsica), embora
igualmente apaixonado pelos sintetizadores e pelos ritmos maquinais, oferece
canções para cantarolar num piquenique do fim dos tempos.
PÚBLICO
– Por que
motivo reparte a sua atividade por duas bandas que até nem são radicalmente
diferentes uma da outra?
STEFAN SCHNEIDER – São
bastante diferentes. A música dos To Rococo Rot (TRR) é muito mais experimental
e minimalista, enquanto os Kreidler se movimentam numa área pop, com canções
estruturadas. Os TRR estão mais próximos da eletrónica e da tecno.
P.
– Segue métodos de composição diferentes em cada um dos grupos?
R. – Sim, até porque os
Kreidler são a formação mais estável e os seus membros vivem todos na mesma
cidade, em Düsseldorf. Ensaiamos e realizamos espetáculos com assiduidade. Com
os TRR, isso é impossível, uma vez que os dois outros elementos vivem em Berlim. Sempre que
queremos fazer alguma coisa juntos, sou obrigado a deslocar-me lá.
P.
– Tanto os Kreidler como os To Rococo Rot fazem música exclusivamente
instrumental...
R. – Não é bem assim, nos
Kreidler integrámos algumas letras no primeiro álbum. O segundo, “Weekend”, é
efetivamente instrumental, mas pensamos regressar aos textos no próximo.
P.
– Vive em Düsseldorf, cidade que deu origem, nos anos 70, a grupos como os
Kraftwerk, Neu! e La Düsseldorf. A cidade tem alguma mística especial?
R. – Há com certeza uma ligação.
Mas não queremos fazer nenhum resumo dessa tradição. Essa ligação sente-se mais
pela cidade em si, pelo seu ritmo. Há nela uma indústria da moda, uma
proliferação de “Design” artístico, tudo isso nos influencia, bem como a forma
de relacionamento entre as pessoas, a forma como se vestem e se apresentam.
Existe um nível de vida bastante caro. Em Berlim é diferente, todas as pessoas
têm um emprego, é difícil sobreviver aí de outra forma. Continuam a chegar a
Berlim pessoas provenientes de outras cidades da Alemanha, porque continua a
ser uma cidade atraente, ideal para quem não pretenda fazer coisas especiais.
P.
– Na ficha técnica de “Weekend”, dirige um agradecimento a Klaus Dinger, que
pertenceu àquelas três bandas. Assume a sua influência?
R. – Klaus é meu vizinho.
Às vezes vem ter comigo, de bicicleta, para conversarmos um bocado. Há cerca de
dois anos convidou-nos para ir ao estúdio que tem em sua casa. Gravámos algumas
coisas juntos. E em Novembro do ano passado fez dois espetáculos no Japão com o
baterista e teclista dos Kreidler.
P.
– O que acha da música dos Cluster, outra das bandas dos anos 70 que marca,
cada vez mais, toda uma geração de novas bandas de música eletrónica?
R. – Os discos dos Cluster
são muito difíceis de adquirir na Alemanha. Pura e simplesmente não se
encontram nas lojas! Quando muito, existem os discos mais recentes, editados em
CD, mas estes destinam-se mais a um tipo de público apreciador de música
ambiental. Conheço alguns dos seus trabalhos mais antigos, como “Zuckerzeit”,
um álbum impressionante. O problema é que há hoje muita gente a fazer deste
tipo de música sem nunca a ter ouvido. As pessoas leem os artigos nas revistas,
mas não têm possibilidade de ouvir os discos! Penso que deve acontecer o mesmo
na Inglaterra ou nos Estados Unidos, onde se encontram discos dos Kraftwerk e
pouco mais...
P.
– O fenómeno é algo mais que uma moda passageira?
R. – Penso que os jovens
estão a começar a explorar uma música, feita há 20 ou 25 anos que tem muitos
pontos de contacto com a música que se faz hoje em dia. Por isso faz sentido
recuar até esse período. Pessoalmente, acho fantásticos como os dois primeiros
dos Neu! bem como toda a música dos Kraftwerk.
P.
– Os Can...?
R. - Fazem parte de outro
universo. Gosto imenso de “Tago Mago”, mas têm outras coisas que acho
extremamente aborrecidas.
P.
– Existe hoje algo parecido com um movimento organizado de música eletrónica
feita na Alemanha?
R. – Bem, estão a aparecer
alguns nomes novos e interessantes, como os Mike Ink, que fazem música
eletrónica e minimal para dançar. Também apareceu recentemente uma nova revista
de música chamada “Art Attack”, com uma loja de discos e uma editora própria, a
Profane. Em Berlim, há os Oval (N.E. – fizeram remisturas dos Tortoise)...
P.
– E o circuito da música de dança?
R. – Aqui em Düsseldorf
existem clubes de “tecno” que passam a música dos Kreidler, mas são sítios não
comerciais, nada que se pareça com uma “rave”. Em Colónia, os clubes são
maiores e as pessoas podem sentar-se a ouvir música, conversar ou ver filmes.
Claro que os nossos discos podem ser passados nas pistas de dança, mas ela não
é, de forma alguma, música de dança convencional. O que distingue o que está a
acontecer por aqui é a produção de música eletrónica que não se destina a ser dançada
mas a ser ouvida em casa, embora também não seja nada parecido com música
ambiental.
P.
– Existem pontos de contacto entre alguma das suas bandas e as bandas de
Chicago como os Ui e Tortoise?
R. – Os TRR gravam na mesma
editora dos Tortoise, a City Slang. Gosto de alguns temas deles, com os quais
os TRR podem até ter algumas semelhanças. Mas só no nosso primeiro álbum, no
qual também usávamos equipamento analógico, assim como baixo e bateria
convencionais. “Veiculo” vai numa direção diferente, no sentido da eletrónica
total.
P.
– Uma eletrónica fria e minimalista. A música dos novos homens-máquina do fim
do milénio?
R. – Sim. O “robot” que
tocará com os TRR no final do milénio não vai acabar numa grande explosão, com
um clamor enorme, mas sim quebrar-se em pequenos pedaços. O fim será muito
calmo...
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