CULTURA
TERÇA-FEIRA, 19 JUN 2001
A voz
indomável do mar nas Festas de Lisboa
Nasceu em Maiorca em 1947, filha de um escritor e de uma investigadora
das culturas mediterrânicas. Mergulhou desde muito cedo na cultura da sua ilha,
estudando e cultivando a língua, a literatura, a música, a dança, o artesanato e
as lendas que viriam a marcar a sua carreira. Ela é Maria Del Mar Bonet, nome
emblemático da canção espanhola que hoje regressa a Portugal, integrada no
programa das Festas de Lisboa, depois de uma primeira apresentação há três
anos, no festival Cantigas do Maio, no Seixal.
Maria Del Mar Bonet.
O nome não poderia ser mais justo. Maria Del Mar canta o Mediterrâneo, o verde
esmeralda do mar, o azul infinito e sem mácula do céu. A lava e o cristal. Tons
e sons que nela se confundem. Na música e na pintura, à qual também se dedica.
Foi como figurante deste quadro que Maria Del Mar Bonet cresceu, tendo frequentado
uma escola de Belas Artes em Barcelona. Cruzou-se nos anos 60 com o coletivo Els
Setze Jutges, grupo percursor da nova canção catalã que o escritor Manuel Vásquez
Montalbán considera o fenómeno sociopolítico mais importante desta região durante
o franquismo. Com eles Maria Del Mar Bonet aprendeu a soletrar a palavra “revolução”.
Mas o seu mundo era mais vasto e tocava, afinal, também na tradição.
Regional e
universal, a música de Maria Del Mar Bonet espelha afinal a paixão. Dádiva e
combate. Amor e raiva. Incêndio e ternura.
Cantou sempre em
catalão. O franquismo não lhe perdoou, enviando-a por mais que uma vez para o
cárcere. Mas Maria Del Mar Bonet escapou sempre. A sua voz, tão bela como a sua
figura de mulher livre, foi e é mais forte. Voz da Catalunha, voz do Grande Sul
não alinhado. Voz que, por fim, ao cabo de uma longa jornada, se tornou também
uma voz do grande público, através da celebração dos seus 30 anos de carreira
com o duplo-álbum “El Cor del Temps”, gravado ao vivo para uma assistência de
14 mil pessoas.
Quem a quiser
escutar só para si pode escolher entre uma quantidade de álbuns. Experimente-se
entrar no jardim pela porta de “Salmaia”. Vaga de sol. De Sul. De sal.
Maria Del
Mar Bonet
Lisboa, Castelo de São Jorge.
Às 22h. Entrada livre
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