CULTURA
SEXTA-FEIRA,
13 SET 2002
Demonstração
eletrónica na galeria Zé dos Bois
FESTIVAL
EM LISBOA
“Super
Stereo Demo” é um espetáculo para ver e ouvir com novos olhos. A eletrónica
produzida em Portugal apostada em fazer a diferença. Hoje e amanhã na ZDB
Abram os cérebros e os ouvidos. Dêem corda aos
neurónios. Puxem o lustro aos terminais nervosos. Desentupam as artérias.
Liguem os sistemas operativos. A tecnologia, bandas sonoras da imaginação e
outras alucinações eletrónicas do século XXI vão crepitar este fim-de-semana na
Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, sob o genérico Super Stereo Demo. Trata-se,
segundo a organização, de uma colaboração Pogo/Variz, de um "evento
pluridisciplinar que propõe uma demonstração da possibilidade de coabitação de
uma pluralidade de imagens e que funciona como espaço privilegiado para ver
evoluir a mais recente produção media-art nacional nas áreas da música eletrónica,
performance, artes plásticas e vídeo". Convém ir preparado.
Pela
aconchegada e underground sala/vitrina de experimentalismos vários da ZDB irão
passar, hoje e amanhã, djs, vídeoartistas, performers sem cartão do sindicato,
terroristas sónicos, bizarras criaturas disfarçadas de funcionários públicos
armados de "laptops", programadores de pesadelos digitais, afagadores
de tacos das "dance floors", palhaços sintéticos e alguns dos ativistas
mais empenhados da nova cena electrónica feita em Portugal. Soundtrap, Random
Inc., Zzzzzzzzzzzzzzzzzp!, Curd Duca, Major Eléctrico (hoje), Bizz Circuits,
Twokindermen, @c+Lia, Nova Huta e Trash Converters (amanhã) são os nomes em
agenda, no capítulo das apresentações musicais.
O
ponto de partida para esta "demonstração" do que o futuro já tem para
nos mostrar é, paradoxalmente, um velhinho disco dos anos 70 intitulado "Stereo
Demonstration", um dos muitos editados nesta década, no período de
transição do mono para a alta-fidelidade estéreo, com a finalidade de exibir
para o ouvinte as mais recentes novidades tecnológicas a par dos mais
estapafúrdios efeitos sonoros criados em estúdio. Não era tanto música de autor
mas um som-de-artifício que tornava a sala de audição numa feira ao mesmo tempo
que aliciava para a compra de mais sofisticados gira-discos. A noção de espetáculo
sobrepondo-se à de arte.
O
"Super Stereo Demo" compôs sobre este conceito uma outra história do
espetáculo que funciona já não no domínio do deslumbramento das aparências mas
na articulação de diferentes referenciais de fruição lúdica. A visão/audição do
intérprete que permanece uma hora sentado numa cadeira concentrado na ordenação
de frequências sonoras no seu "laptop" não poderia estar mais distante
de uma noção convencional de "espetáculo". As "novas
demonstrações estéreo" são da ordem da virtualidade. Trata-se agora da
abertura de novos canais de sensibilidade do sujeito que ouve. Não são os
gira-discos, nem os leitores de CD que operam em canais estéreo ou
quadrifónicos – é a nossa cabeça a receber em direto os programas e a
sintonizar a infinidade de canais. Basta carregar no comando à distância e
fazer a seleção.
PARA
ABRIR O PROGRAMA, SELECIONAR…
HOJE
Soundtrap
Nuno Leão e Pedro Lourenço. Processamento de
sinais, códigos binários, arritmias, frequências perigosas. Construção de ambientes.
Vale dizer: de sonhos.
Random
Inc.
Sebastian Meissner. "Input" analógico
via John Cage e Iannis Xenakis. Auto-estradas minimais desenhadas por Steve
Reich. Mistura com tons digitais na criação de experiências de entrada e saída
nos labirintos da manipulação onde a matemática, a psicoacústica e o aleatório
se combinam. O álbum chama-se "Jerusalem: Tales outside the Framework of
Orthodoxy".
Zzzzzzzzzzzzzzzzzp!
Miguel Sá e Miguel Carvalhais. Dezassete
"z" em português para o zumbido eletrónico do inconsciente.
Recentemente deixaram-se fotografar no cenário de massacre dos Coil. Pelo que
será aconselhável levar para a ZDB um programa anti-vírus.
Curd
Duca
Alemão e "bricoleur" de pequenos
fragmentos de celulóide sonoro. Os vários volumes das séries "Easy
Listening" e "Elevator Music" que tem editados contêm uma coleção
bastante completa de testes de avaliação. Marque-se uma cruz e siga-se viagem.
Major
Eléctrico
Pedro Santos e José António Moura. Aparentemente
djs. Mas não como os outros. Alguém, da imprensa de fora, fez notar o
distanciamento da pose em contraste com a fornalha dos sons. "Cortes
digitais, explosões de sensualidade, súbitas citações de pedaços muito valiosos
da história da música sintética dos últimos 25 anos."
SÁBADO
Bizz
Circuits
Outra vez Sebastian Meissner, com outra máscara,
desta feita para operar "a desconstrução irónica da música
pós-digital", através do recurso aos velhos vinilos lá de casa, de Ornette
Coleman aos Metallica, passando por Bach.
Twokindermen
António Contador e Nuno Antunes. O PC como
máquina de afetos e ilusionismo. "Menos é mais" – dizem – e "leite
e chocolate é para os maricas".
@c +
Lia
Miguel Carvalhais, Pedro Tudela e Pedro Almeida.
Powerbook. Deus digital é o chefe de secção do escritório.
Nova
Huta
O circo eletrónico do Leste desce à cidade,
trazido por Reznicek e o seu "tio-clown", Vratislav
"Bambij" Robot. O triunfo do "retro" num número de humor e
surpresa semelhante ao apresentado no CD "At Bambij Robot Nonstop
Datscha".
Trash
Converters
Djs Fernando Fadigas e Miguel Sá. Recauchutagem
dos hits da electropop dos anos 80 e da "new electro" e "sexy
beat" da atualidade. O seu top 25 inclui os OMD, Section 25, The
Associates, The Human League, Gary Numan, Ultravox, Flying Lizards, SPK,
Buggles, Residents, Kraftwerk, Le Tigre e Electronicat.
Lisboa,
Galeria
Zé dos Bois
A partir das 21h30. Tel. 213430205. Bilhetes a 10
euros (7,5 para sócios do ZDB), para um dia. 15 euros (10 para sócios da ZDB),
para os dois dias.
www.cronicaelectronica.org/variz/superstereo
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