CULTURA
SEXTA-FEIRA,
22 NOV 2002
Peter
Erskine, o baterista que descarrega a bateria
A
bateria de Peter Erskine é uma câmara de segredos. Para desvendar esta noite, em
concerto na Culturgest, em Lisboa
Piano-contrabaixo-bateria. O formato que Bill Evans
erigiu como templo faz de há muito parte da história do jazz. O que já é menos
vulgar é ser o baterista e não o pianista a desempenhar a função de líder. O
mais recente trio do baterista Peter Erskine, com Rita Marcotulli no piano e
Palle Danielsson no contrabaixo, pertence a esta última categoria. Atuam esta noite
no Grande Auditório da Culturgest, em Lisboa.
Erskine
insere o silêncio entre o clamor dos tambores. É daqueles bateristas que sabem
acariciar e escutar os murmúrios. Descarregar a bateria do seu fardo mais
pesado. Eclético, tem uma baqueta no jazz, outra no rock, outra ainda no
contexto do trio em questão, no que ele próprio define como uma “nova música antiga”,
ponto de cruzamento e de diálogo entre o jazz, a música popular e a música clássica.
O Grammy que conquistou na categoria “Modern Drumming” assenta-lhe bem.
Entrou
no jazz aos 18 anos (tem 47) pela porta grande da orquestra de Stan Kenton. O tempo
pertencia então aos que tentavam levar o jazz para o ritmo do rock. Erskine empenhou-se
na tarefa, integrando os lendários Weather Report (nos álbuns “Mr. Gone”,
“Night Passage”, “Weather Report” e “8:30”) e Steps Ahead, ou em colaborações
com Maynard Ferguson, Kenny Wheeler, Chick Corea, Joe Henderson, Jaco
Pastorius, Freddie Hubbard, Michael Brecker, Sadao Watanabe, Gary Burton, Pat
Metheny e John Scofield, entre outros, tudo gente sem preconceitos puristas.
Mais próximo ainda do “outro lado”, acompanhou os Steely Dan e Joni Mitchell.
A
subtileza da sua música não passou despercebida a Manfred Eicher que, sensível ao
som de câmara do seu trio com o pianista John Taylor e com Pale Danielsson no contrabaixo,
lhe proporcionou a gravação para a ECM dos álbuns “You Never Know”, “Time
Being”, “As It Is” e “Juni”. Formaria a seguir a sua própria editora, Fuzzy
Music, onde juntou pontas dispersas do seu trabalho mais antigo, em “Behind
Closed Doors”.
Rita
Marcolutti privou de perto, no piano, com Jon Christensen, Joe Henderson, Charlie
Mariano, Pat Metheny, Tony Oxley, Michel Portal, Enrico Rava, Aldo Romano, Bob
Moses ou Kenny Wheeler. Em trio, quarteto, quinteto. Ou seja, está nas
primeiras filas da música da frente. Pale Danielsson é um dos “nórdicos ilustres”
da ECM, quase sempre no papel de “sideman”. De Jan Garbarek e Keith Jarrett,
por exemplo.
Mas
hoje é noite de mais jazz. No Centro Cultural de Belém, em Lisboa, com um
quinteto liderado pelo trompetista Christian Scott, substituto de última hora
de Terence Blanchard, líder oficial da formação que acabou por cancelar a sua participação,
por motivos de saúde. Completam o grupo Aaron Parks (teclados), Brice Winston
(saxofone tenor), Brandon Owens (contrabaixo) e Eric Harland (bateria). Seguem amanhã
para Matosinhos, para atuar no Auditório da Exponor.
Peter
Erskine Trio
LISBOA Culturgest (Grande Auditório). Tel.: 217905155.
Às 21h30. Bilhetes a 17 euros
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