CULTURA
DOMINGO, 22 JUL
2001
Rosa dos
ventos
DONA ROSA
ATUOU NO SETE SÓIS SETE LUAS
Dona Rosa e Bana foram as estrelas da companhia de
mais uma jornada do Festival Sete Sóis Sete Luas. Um evento em que Camané foi,
para já, o grande triunfador
Não foram famosos os dias de terça e quarta-feira do festival Sete
Sóis Sete Luas, na sua extensão toscana. Depois do grande fado e da grande voz
de Camané e das versões sonambúlicas, mas apesar de tudo personalizadas, de
Lula Pena, a Villa Malaspina, em Montecastello, acolheu um concerto duplo com
Dona Rosa e o grupo alentejano Viola Campaniça.
Dona Rosa, a
pedinte que num golpe do destino virou estrela de world music, cantou como
sempre cantou pela vida fora. Com o coração e uma voz não tratada (ou intratável?).
Teve nas mãos os ferrinhos que sempre a acompanham e, a seu lado, um
acordeonista, Enzo D’Averso, cuja função se limitou, na maior parte do tempo, a
dar o tom, na melhor das hipóteses a criar um contraponto para a voz
monocórdica da “cantora” que o etnomusicólogo José Alberto Sardinha apresentou
como descendente dos antigos músicos “routiers” medievais. Pode ser. Mas cantar
num concerto não é como cantar na rua. Dona Rosa estava nervosa, tossiu para o
microfone, tentou projetar a voz com arremedos de fadista que não é. O pouco
tempo que esteve exposta à apreciação pública, ao vento e à curiosidade, teve
mais exotismo que emoção.
José Alberto
Sardinha apresentou igualmente, acompanhando com considerações teóricas, os
dois tocadores de viola campaniça e as três cantoras que compõem o grupo
proveniente de Castro Verde. Se, no dia anterior, a música funcionou, enquadrando-se
as modas alentejanas na festa-refeição montada por Dario Cecchini, esta segunda
apresentação jamais conseguiu ultrapassar o facto de não haver, ou haver
deficiente, som de retorno. As cantoras não conseguiram ouvir as campaniças. Daí
até saírem de tom foi um passo.
Infelicidade que
não chegou para apagar a boa impressão deixada na véspera. Quarta-feira, Bana
regressou à Piazza Cavour, em pleno centro de Pontedera, exatamente o mesmo
local onde atuara dois anos antes neste mesmo festival. Nessa altura, a
comunidade cabo-verdiana de Pontedera, presente em força, fez a festa, dançando
e puxando pelos músicos. Não aconteceu o mesmo este ano. O que significou, logo
à partida, ambiente mais frio. Depois, Bana está mais velho, denotando cansaço e
falhas na voz. O seu grupo, embora competente como sempre, também facilitou. Dificilmente
se descortina já na sua música fusão de funk, funaná e música de bar, a raiz
musical do arquipélago. O ritmo continua presente, é certo, mas raramente com o
piloto automático desligado. Tiradas as medidas ao que, amiúde, soou como música
a metro, a mais-valia acabou por vir da cantora convidada Ana Firmino, que pôs
dignidade e autenticidade no que, sem ela, roçou a sensaboria.
É provável que o
Sete Sóis Sete Luas volte a subir de nível este fim-de-semana. Depois de ontem
ter atuado o grupo do acordeonista Riccardo Tesi, num espetáculo de título
genérico “Acqua, Foco e Vento...”, inteiramente centrado nas tradições da chamada
“Toscana Minore”, Rodrigo Leão atua esta noite em Pontedera, fechando o ciclo
musical, até quarta-feira, 25, com os italianos Vox Populi, La Macina e
Fratelli Mancuso. Camané foi, para já, o grande triunfador.
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