CULTURA
QUARTA-FEIRA,
30 MAI 2001
Beijinhos e pontapés
“XIII” – O NOVO ÁLBUM DOS XUTOS
A música do grupo está mais subtil, sem perder a força que
sempre o caracterizou. Mário Laginha é um dos convidados
Se é difícil
a uma banda de rock manter-se viva nos tempos que correm, até porque, como toda
a gente sabe, o rock morreu, mais difícil ainda é, além de viva, conservar o
entusiasmo e ter alguma coisa para dizer.
Mas é isso mesmo que os Xutos &
Pontapés conseguem com o seu mais recente álbum, intitulado “XIII” e lançado na
passada segunda-feira. Se é o 13º álbum da sua discografia, ou não, nem os
próprios músicos se lembram. “Acho que não é!”, reconhece Tim, com um sorriso largo
no rosto, diante do prato de comida irlandesa que lhe aconchega o estômago antes
de arrancar para o espetáculo no Pavilhão Atlântico, onde os Xutos fizeram a
primeira grande apresentação pública do novo álbum.
É rock, como Tim, Zé Pedro, João
Cabeleira e Kalú (com a participação esporádica de Gui, no saxofone) sempre
souberam fazer, mas agora embrulhado numa capa astral a fazer de conta que é
Pink Floyd e onde até a guitarra elétrica de João Cabeleira soa, num tema como “Deitar
a perder”, a David Gilmour.
Os Xutos convertidos ao rock
progressivo, ou nem por isso? Nem por isso. Buzzcocks e Stranglers são outras das
referência presentes, a provar que os Xutos não perderam a sua face punk. A energia
está lá na mesma, com a diferença que neste disco os instrumentos têm mais
espaço para respirar e a subtileza dos arranjos vai ao ponto de conceder tempo de
antena a Mário Laginha, que num interlúdio de “Inferno”, composto para a banda sonora
do filme de Joaquim Leitão, tece uma malha pianística que se interliga de forma
harmoniosa com o resto da canção. No final de “Inferno”, Tim arriscou mesmo
terminar o tema com uma sequência clássica em quarteto de cordas. “Peguei nas
malhas de guitarra do Cabeleira e comecei a arranjar, a arranjar até chegar àquele
final”, explica Tim.
O bom e o bonito para os fãs mais
“hard” do grupo, que assim se verão confrontados com uma subtileza a que não
estarão habituados na sua banda fetiche. Neste e noutros temas de “XIII”, que
também conta com a produção de Mário Barreiros, os Xutos, diz Tim, “começam por
expor os ambientes”, com calma, para “os instrumentistas trabalharem aquilo que
já se fez”. Ficam as canções mais “completas”. Com mais “substrato”, indo “ao
fundo das coisas”.
Ao vivo, como será? Deverá o público
vestir fraque e vestido de noite e saudar cada canção no final com um polido
“bravô”? Tim ri-se. Os Xutos jamais serão aquilo que desde o início condenaram —
uma banda acomodada. “Atiramos-lhe o ‘Circo de feras’!”, contrapõe o vocalista do
grupo, que no recente espetáculo de homenagem aos Beatles se vestiu a preceito com
a farda do Sargento Pimenta.
O álbum, pontos nos “is”, é dos
melhores de sempre dos Xutos & Pontapés. Estão lá os hinos, o diário dos
subúrbios, a vida de músico, o tempo que não para. A fúria, temperada pela
ternura. Beijinhos e pontapés.
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