CULTURA
SEXTA-FEIRA, 31 MAI 2002
Música dos
índios da Amazónia e dos EUA no Cantigas do Maio
ÚLTIMOS CONCERTOS DO FESTIVAL
A cantora brasileira Marlui Miranda, principal
nome do cartaz, leva ao Seixal um mega-espectáculo com base na música indígena
da Amazónia
Vai ser uma coisa em grande, o espetáculo de
encerramento do 13º Festival Cantigas do Maio do Seixal. Pela primeira vez na
sua história, o Cantigas receberá, a fechar, amanhã, na Fábrica Mundet, um
único artista, em vez dos dois habituais. “Um” é como quem diz. Marlui Miranda,
pois é ela a eleita, não vem só, mas acompanhada por uma quantidade de músicos
que constituem a Camerata Atheneum, grupo de música de câmara fundada em 1983
pelo violinista romeno Lucian Rogulski.
O espetáculo
será dividido em três partes. Na primeira, Marlui Miranda — que sobre si
própria diz “Eu não sou uma intérprete de música brasileira, sou uma intérprete
da música indígena da Amazónia brasileira” — terá a seu lado a Camerata para
apresentar “Kewere” (“rezar”), missa indígena que engloba temas dos índios
Aruá, Tupari e Urubu-Kaapor, a partir de textos em língua Tupi recolhidos no séc.
XVIII pelo padre jesuíta José de Anchieta, que Marlui Miranda considera” o
primeiro poeta da história do Brasil”.
Segue-se
uma segunda parte preenchida por música instrumental interpretada pela Camerata
Atheneum, de compositores brasileiros do séc. XX, como Tom Jobim, Ary Barroso, Carlos
Gomes, Ernesto Nazareth, Luiz Bonfá e Heitor Villa-Lobos — este último, foi o primeiro
a usar nas suas partituras a lírica e o canto dos índios da Amazónia.
A
terceira e última parte conta com Marlui Miranda, a Camerata Atheneum e três músicos
convidados, Caíto Marcondes, Ruriá Duprat e Mauro Domenech, para a apresentação
de “IHU” (“Todos os Sons”, na língua dos índios Kamayurá). Todos mesmo,
incluindo a música sobrenatural e o som dos espíritos que assombram a floresta
amazónica. “IHU” foi editado em disco em 1995, com as colaborações de Gilberto
Gil e dos Uakti. “Kewere” saiu dois anos mais tarde, ambos os CDs com o selo
“Pau Brasil”.
Vanguarda
étnica
Marlui Miranda é uma etnóloga e uma feiticeira. Na sua música
e na sua voz “sui generis” cruzam-se a atitude vanguardista de uma Laurie Anderson
ou de uma Meredith Monk com uma faceta étnica” profundamente enraizada. Junte-se
a grandiosidade do conceito e teremos certamente uma noite que ficará na
memória.
Mas o
Cantigas do Maio tem hoje outros dois nomes em cartaz: o multinstrumentista turco
Birol Topaluglu e o trio vocal de mulheres índias americanas da Carolina do
Norte, Ulali. Birol foi engenheiro eletrónico antes de dedicar-se a tocar
música tradicional da região do Laz (no Sul do Cáucaso) e instrumentos como o
“tulum” (gaita-de-foles do laz), o “chonguri” (cordofone), o “p’ilili” (sopro)
e o “g’uni” (percussão). Em paralelo com os temas tradicionais Birol interpreta
canções da sua autoria, gravadas nos álbuns “Heyamo” e “Aravani”.
As
Ulali (“o canto do tordo”, no dialeto Tuscaroran, só palavras exóticas...) são
Pura Fe, Soni e Jennifer. Começaram a cantar há 16 anos e foram o primeiro
grupo índio a juntar os sons tradicionais (dos índios Apache e Tuscaroran da
Carolina do Norte mas também o “blues” arcaico, o gospel e a música
pré-colombiana) a técnicas de canto contemporâneas. Já acompanharam Miriam Makeba,
Sting, os B-52’s e Buffy St. Marie (lembram-se de “Soldier blue”?) que, por acaso,
também é índia.
No
capítulo dos comes e bebes, acompanhados por música “in loco” e “à la carte”,
estarão a tocar no sábado, na tenda-convívio, os galegos Zurrumalla. Para o que
der e vier.
XIII
Cantigas do Maio
BIROL TOPALOGLU + ULALI
SEIXAL Fábrica Mundet - Largo 1º de Maio
Hoje. Às 22h
MARLUI MIRANDA c/ CAMERATA ATHENEUM
SEIXAL Fábrica Mundet - Largo 1º de Maio
Amanhã. Às 22h.
Entrada livre
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