CULTURA
SEXTA-FEIRA,
11 MAI 2001
Wim Mertens: missão ou missal?
Compositor flamengo regressa para dois concertos no nosso país
Wim Mertens
gosta de Portugal. Consta que Portugal também gosta dele. O compositor
flamengo que
nos anos 80, juntamente com Michael Nyman, trouxe para a Europa os ideais e os
ciclos tonais da escola minimalista norte-americana (Young, Reich, Glass,
Riley), atua esta noite no Porto — e amanhã na Covilhã — para apresentar o seu
novo álbum, “Der Heisse Brei”, cujo título, contrariamente às aparências, não
faz publicidade a uma marca de cerveja.
Esta é apenas mais uma visita ao
nosso país — de novo apenas ele, um piano de cauda, e uma voz “sui generis” —
no cumprimento de um ritual de concertos ao vivo em Portugal que teve início há
mais de uma década, quando o nome do projeto que o tornou famoso no seio do
minimalismo chique, os Soft Verdict, ressoava ainda com força nos ouvidos dos
melómanos portugueses. Dessa primeira passagem por Portugal retivemos na
memória uma afirmação sua, proferida com plena convicção, em que garantia ter
sido, ele Mertens, investido por Deus numa missão na Terra. Na altura não o
contrariámos. Era preciso esperar pelas provas discográficas, que confirmassem
ou não a natureza divina da obra. Até hoje, a dúvida permanece.
Com os Soft Verdict, com ou sem a
intervenção de Deus, a verdade é que o minimalismo ganhou um novo rosto.
Sorridente em “For Amusement Only”, manobra de diversão que arrancava música
aos circuitos eletrónicos de uma máquina de “flippers”. Romântico, em “Struggle
for Pleasure”, na banda sonora para “The Belly of na Architect”, de Peter
Greenaway, ou no “tour de force” “Maximizing the Audience”. Tenso e elétrico,
em “Vergessen”.
Mas os Soft Verdict, onde pontificavam
alguns ilustres instrumentistas da nova música holandesa, acabaram, e Mertens
prosseguiu a solo a missão de que se dizia investido. Em missais de liturgias
cada vez mais desmesuradas e de extrema complexidade, expostas em tetralogias
sem fim, entre a música de câmara e um esoterismo impenetrável, como “Alle
Dinghe” e “Gave Van Nietz”.
Peças para guitarra, outras para voz
e incursões pela “new age” foram igualmente abordadas por este compositor
prolífico que gosta de invocar Bach, canta como um fantoche, mas consegue, a espaços,
fazer com que a música toque de facto no céu.
WIM MERTENS
Porto,
Coliseu. Hoje, às 22h00
Bilhetes a
3500$00 e 4500$00
Covilhã,
Teatro Cine, amanhã, às 22h00
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