CULTURA
SÁBADO, 24 FEVEREIRO
2001
PROTAGONISTA
Morreu “Blind Joe Death”
John Fahey,
guitarrista lendário, mestre do “fingerpicking”, morreu na madrugada de ontem,
num hospital de Salem, 48 horas após ter sido operado ao coração. Daí a seis
dias completaria 61 anos e era conhecido apenas de uma minoria, entre os quais
os Tortoise, Jim O’Rourke e os Sonic Youth, que o adotaram como um dos gurus do
pós-rock. Entre outras coisas, chamaram-lhe “o padrinho do movimento new age da
guitarra” e “um verdadeiro génio”, embora ele preferisse auto-nomear-se “um
primitivista americano”.
Fahey nasceu a 28 de Fevereiro de
1939, em Takoma Park. O pai tocava piano e harpa irlandesa mas ele passava o
tempo a colecionar tartarugas de madeira (um dos seus álbuns tem por título
“The Voice of the Turtle”) e a pescar. Numa dessas pescarias, encontrou o
cantor e guitarrista negro Frank Hovington, que lhe incutiu o amor pela técnica
“fingerpicking”. E assim John Fahey foi pescado pelos blues.
Estudou filosofia e religião e em
1963 formou a editora Takoma para onde gravaram, entre outros, Leo Kottke. Só à
sua conta, Fahey editou um número incontável de álbuns, dispersos por várias
editoras. Nos anos 60, o seu nome saiu por instantes da obscuridade, ao figurar
na banda sonora de “Zabriskie Point”, de Antonioni, ao lado dos Pink Floyd e
dos Grateful Dead.
Falta falar da excentricidade de
John Fahey, que viria a ser potenciada pelo consumo exagerado de álcool e por
demasiadas incursões nas regiões desérticas de LA, para onde se mudara nos anos
70. Começou a incarnar heterónimos como Blind Joe Death ou o antropólogo
Chester C. Petranick, a quem se deve a notícia de Fahey ter construído a sua
primeira guitarra com um caixão de bébé, e a dar às suas canções títulos como
“In the death and disembowelment of the new age” ou “Old girlfriends and other
disasters”.
Da sua extensa discografia foram
recentemente reeditados pela Sabotage álbuns como “The Dance of Death & Other
Plantation Favorites”, “The Legend of Blind Joe Death”, “Death Chants,
Breakdowns and Military Waltzes”, “The Voice of the Turtle” ou o mais recente
“Hitomi”, para outra das suas editoras, a Livhouse. A morte, que sempre o
seduzira, apanhou-o quando preparava a edição de um novo trabalho, “Summertime
and Other Sultry Songs”.
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