CULTURA
SEGUNDA-FEIRA, 16 DEZ 2002
Crítica Música
Alice, do
mesmo lado do espelho
Alice Cooper
Lisboa, Pavilhão Atlântico
Sábado, 14 de Dezembro, às 23h
3000 pessoas
Trinta anos passados, para Alice
Cooper continua tudo na mesma. O cinquentão americano, considerado um dos pais
do “heavy metal”, trouxe no sábado para o Pavilhão Atlântico, em Lisboa, o
mesmo conceito de rock teatral que vem explorando desde o início dos anos 70,
para gáudio dos cerca de 3 mil presentes que deliraram com os truques visuais,
o chinfrim das guitarras e doses de violência “kitsch” que, mais do que terror,
suscitam sorrisos de condescendência.
O palco
estava montado para a palhaçada e Alice não se fez rogado. Apareceu com a velha
maquilhagem de cadáver-clown – que Marilyn Mason retocou de maneira a tornar
ainda mais apelativa para os adolescentes, os encantadores ensinamentos das
doutrinas satânicas – empunhando um sabre, depois um chicote, enfim utensílios
domésticos sem os quais a vida do dia a dia não tem sabor, e a música, “heavy”
ou outra qualquer, é uma arte menor.
Participaram
uma bailarina diabólica e uma enfermeira em mini-saia, Alice trespassou um bebé
com uma vara, pontapeou a bailarina e a enfermeira, foi espancado por esta
(como vingança) amarrado numa camisa-de-forças e, repetindo uma encenação que
já vem de longe, guilhotinado (como castigo) e com a cabeça a andar de mão em
mão (como troféu).
Em resumo,
um espetáculo dignificante e bastante plástico, mesmo poético, que encantou e
arrancou fortes aplausos da assistência. Tudo condimentado com um sortido de
luzes que esgotou o espectro de cores, sirenes e gravações de música clássica e
“nursery rhymes”, na boa tradição das grandes produções dos “seventies”.
Também se
ouviu música e esta soou alto, mas sem exageros – um rock meio “heavy” meio
sinfónico igual ao que Alice fez sempre e de que todos estavam à espera. No
capítulo do teatro, sem correrias, porque a idade já não dá para cometer
loucuras,, o cantor vociferou “Sex, death and money”, “Welcome to my
nightmare”, “Go to hell” e “Billion dollar babies”, entre outros temas
conhecidos. O baterista aguentou cinco minutos em solo, primeiro apoiado por um
percussionista, a seguir sozinho, sobre uma batida tribal, as guitarras chiaram
e, entre explosões, espancamentos, sexo e morte coreografados como anedotas,
tudo correu lindamente e na santa paz do Natal.
Diversão,
mau-gosto ou puro entretenimento “gore”, nunca ninguém, inclusivamente o próprio,
levou a sério Alice Cooper. O mal, o verdadeiro mal, esconde-se noutras
paragens e sob outras formas. Amiúde disfarçado de anjinho bom.
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