CULTURA
SEXTA-FEIRA, 28 JUN 2002
FESTIVAIS
DE VERÃO
O ESPETÁCULO VAI COMEÇAR
Sinónimo
de sol e praia, O Verão passou também a ser a temporada dos grandes festivais.
Para que não se perca, o PÚBLICO traça um percurso possível, dentro e fora do
país
O Verão
não é apenas a época das roupas leves, dos jantares demorados nas esplanadas
junto ao rio, das viagens tantas vezes adiadas, dos dias longos na areia, das
pilhas de livros acumulados ao longo do ano. Para muitos, o Verão marca a
temporada dos grandes festivais, das enxurradas de concertos numa ou noutra
herdade da costa vicentina, com amêijoas e caracóis à mistura, dos espetáculos
de dança ou de teatro em cotínuo. Este ano, não é exceção. Dentro e fora do
país, os estreantes e os “habitués” nestas andanças têm à disposição uma série
de eventos que leva a palcos mais ou menos convencionais um variado naipe de
intépretes, em áreas que vão do rock à clássica, passando pelo jazz e a “world
music”, sem deixar de dar uma espreitadela à opera, ao teatro e à dança. Quem
continua a achar que, no Verão, não há nada para fazer, não podia estar mais
enganado.
texto coletivo em que FM assina os textos:
TONDELA
16 a 20 de Julho
Manu
Dibango, Omar Sosa e Meira Asher são os cabeças de cartaz deste ano. Manu
Dibango, camaronês, é um dos reis do afro-jazz, num “flirt” com o “electropop”.
Grande dança em perspetiva. Temperaturas igualmente altas estão prometidas pelo
pianista cubano Omar Sosa, com o seu “cocktail” de “cha-cha-cha”, “groove” e a
herança de Thelonious Monk, mas poderão atingir o limite do suportável quando a
israelita Meira Asher fizer a apresentação do seu novo álbum, “Infantry”.
Sonoridades eletrónicas, industriais, tendo por temática as atrocidades
cometidas sobre as crianças. A programação inclui ainda, entre outros, os
Gaiteiros de Lisboa, Da Weasel e Sara Tavares.
www.acert.pt
MÚSICAS
DO MUNDO
25 a 27 de Julho
Poucos
locais serão tão aprazíveis, no Verão, para se ouvir “música do mundo”, como o
Castelo de Sines, em pleno litoral alentejano. Este ano haverá fado e a voz
luminosa de Cristina Branco, a folk incendiária dos suecos Hedningarna
(levem-se extintores e mangueiras…), o jazz do saxofonista David Murray no
projeto “Havana Moods”, a desbunda punk e folclórica dos mexicanos Los de
Abajo, a negritude “funky” de Popa Chubby, o canto multifónico e o exotismo
instrumental dos Yat-Kha, de Tuva, e a “marrabenta” moçambicana dos Malubu. No
final, o céu ilumina-se.
www.fmm.com.pt
Jazz a altas temperaturas
Do Funchal ao Estoril, com paragens em Lisboa, Porto e
Tomar, o jazz estará uma vez mais na ordem do dia nos meses que se seguem
3º FUNCHAL JAZZ
27 de Junho a 6 de Julho
Dee Dee Bridgewater, Maceo Parker
e Rufus Reid são os nomes fortes de uma programação variada que inclui
"workshops", o lançamento de um CD do grupo Oficina - Quinteto de
Jazz da Madeira e uma Feira do Disco Jazz e Blues. Dee Dee Bridgewater é uma
das vozes importantes do jazz das últimas três décadas, tendo-se iniciado como
vocalista da "big band" de Thad Jones e Mel Lewis. Cantou ao lado de
Dizzy Gillespie, Dexter Gordon, Max Roach e Roland Kirk, foi actriz e cantora
na Broadway, em "The Wiz", e já meteu no bolso prémios Tony e
Grammys. "Live in Paris", "Victims of Love" e "In
Montreux" são dos seus trabalhos discográficos mais conhecidos. Maceo
Parker é sinónimo de funk e soul, ou não tivesse tocado durante 20 anos ao lado
de James Brown. Antes, Marvin Gaye e Ben E. King tiveram-no a seu lado. O seu
saxofone já se passeou por latitudes tão afastadas como as de Bootsy Collins,
George Clinton, Keith Richards, Living Colour e Bryan Ferry. O festival encerra
com um concerto pelo quinteto do baixista Rufus Reid que, entre os anos 70 e
80, acompanhou ou dialogou, entre outros, com Dexter Gordon, Lee Konitz, Jack
DeJohnette e Stan Getz.
www.fmm.com.pt
ESTORIL
5 a 13 de Julho
Rufus Reid reincide com o seu
quinteto no Verão jazzístico nacional, integrado num festival cuja abertura
fará a homenagem ao lendário contrabaixista Charles Mingus, através da
"big band" organizada em 1991 e nomeada Mingus Big Band, em sua
homenagem, formação liderada pelo saxofonista Alex Foster, na qual se destacam
o par de saxofonistas tenor composto por Craig Handy e John Stubblefield. Completam
a programação o quarteto da cantora Tierney Sutton, herdeira de Ella
Fitzgerald, o quinteto do trompetista cubano "El Indio", The Heath
Brothers (com o contrabaixista Percy Heath, presente em colaborações com
gigantes como Howard McGhee, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Charlie Parker, Fats
Navarro, Thelonious Monk e J.J. Johnson) e o quinteto do saxofonista Gary Bartz
(com o vibrafonista Stefon Harris) que, após o contacto com Miles Davis - o
génio mas também o "traidor" que praticamente inventou o
"jazzrock" - orientou as antenas no sentido da música de fusão.
www.projazz.pt/media
XI JAZZ NO PARQUE - FUNDAÇÃO DE
SERRALVES
6, 13 e 20 de Julho
Três concertos para apreciadores.
Três formas de fazer e ouvir jazz contemporâneo. Drew Gress Spin & Drift,
com Tim Berne, Quarteto de André Fernandes e Nuno Ferreira, Quarteto de Daniel
Humair, com Ellery Eskelin. Drew Gress, contrabaixista que recentemente tocou
em "Witness", do trompetista Dave Douglas, ao lado de Tom Waits, é
fundador do projecto Joint Venture e autor de "Spin & Drift",
disco que dá nome ao grupo que agora nos visita. Recebe em Serralves Tim Berne,
nome grande do saxofone "fusionista", herdeiro espiritual de Julius
Hemphill. Daniel Humai dispensa apresentações. É um dos maiores bateristas de
jazz de todos os tempos. Acompanham-nos em Serralves os seus compatriotas,
"monsieurs" Bruno Chavion (contrabaixo) e Marc Ducret (guitarra), e o
saxofonista convidado Ellery Eskine, músico "free" no sentido mais
lato do termo. Entre estes dois concertos, terá lugar o projecto
"Crosscurrentes", dos guitarristas André Fernandes e Nuno Ferreira,
em homenagem ao pianista Lennie Tristano, um dos emancipadores do jazz moderno,
ao entrelaçar o "bop" com o politonalismo da música clássica
contemporânea de um Stravinsky ou de um Webern.
www.serralves.pt
3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE JAZZ
DE TOMAR
18, 20, 25 e 27 de Julho
Jazz templário é coisa que - que
se saiba - não existe. Mas a presença, na edição deste ano, de Michel Portal,
garante, por si só, a iniciação nos mistérios do jazz contemporâneo imbuído do
sagrado. Michel Portal é daqueles músicos que meteram cunha no Além e têm
ligação directa com a Grande Música do Alto. Não é ele que toca os instrumentos
- é, ele próprio, o instrumento de uma inspiração maior. Será acompanhado pelo
acordeonista, também ele excecional executante, Richard Galliano. David Murray,
místico do saxofone (como Coltrane, como Sanders, como Ayler...), e o seu
quarteto, abrem o festival. Entre o início e o fecho, com Portal e Galliano,
desenhar-se-á o "Azul" de Carlos Bica, com Frank Mobus e Jim Black,
enquanto as "novas tendências do jazz europeu" serão representadas
por um trio oriundo da Finlândia, formado por Joona Toivanen, Tapani Toivanen e
Olavi Louhivuori.
www.cbtm.jazznet.pt
jazztomar2002.htm
JAZZ EM AGOSTO – FUNDAÇÃO
GULBENKIAN (4 a 14 de Agosto)
2 a 10 de Agosto
Vai ser histórico, vai ser
inesquecível, vai ser uma montra (larga) de algum do melhor jazz que se faz
hoje em dia. Chicago e Inglaterra são os dois eixos em torno dos quais se moverá
o Jazz em Agosto deste ano. Se em relação aos amigos americanos o cartaz está
bem servido, com o duo de Fred Anderson/Hamid Drake, o pós-jazz dos Chicago
Underground Quartet (que deverão desempenhar este ano o papel que na edição
transacta foi atribuído aos Supersilent) e o camaleão Ken Vandermark,
verdadeira máquina saxofonística à vontade em todos os terrenos (Mats
Gustafson, seu parente estético, também estará presente...), sem esquecer o
regresso a Portugal de uma notável improvisadora que é a pianista Marilyn
Crispell, que dizer da "família" inglesa que nos vem visitar? É a
"música livre" dos súbditos de Sua Majestade que estará presente em
peso. No formato de "big band", em trio, quarteto ou a solo, pisarão
o anfiteatro da Gulbenkian Keith Tippett, Barry Guy, Paul Lytton, Paul Rutherford,
Henry Lowther, Julie Tippetts, Paul Dunmall, Paul Rogers, Louis Moholo... Ah!,
sim, convém acrescentar que o Jazz em Agosto contará com a presença de um mago
- Evan Parker -, um dos maiores solistas/improvisadores da actualidade. O sopro
do fogo.
www.gulbenkian.org
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