20/10/2016

O espetáculo vai começar [Festivais de Verão]

CULTURA
SEXTA-FEIRA, 28 JUN 2002
FESTIVAIS DE VERÃO

O ESPETÁCULO VAI COMEÇAR

Sinónimo de sol e praia, O Verão passou também a ser a temporada dos grandes festivais. Para que não se perca, o PÚBLICO traça um percurso possível, dentro e fora do país

O Verão não é apenas a época das roupas leves, dos jantares demorados nas esplanadas junto ao rio, das viagens tantas vezes adiadas, dos dias longos na areia, das pilhas de livros acumulados ao longo do ano. Para muitos, o Verão marca a temporada dos grandes festivais, das enxurradas de concertos numa ou noutra herdade da costa vicentina, com amêijoas e caracóis à mistura, dos espetáculos de dança ou de teatro em cotínuo. Este ano, não é exceção. Dentro e fora do país, os estreantes e os “habitués” nestas andanças têm à disposição uma série de eventos que leva a palcos mais ou menos convencionais um variado naipe de intépretes, em áreas que vão do rock à clássica, passando pelo jazz e a “world music”, sem deixar de dar uma espreitadela à opera, ao teatro e à dança. Quem continua a achar que, no Verão, não há nada para fazer, não podia estar mais enganado.

texto coletivo em que FM assina os textos:

TONDELA
16 a 20 de Julho

Manu Dibango, Omar Sosa e Meira Asher são os cabeças de cartaz deste ano. Manu Dibango, camaronês, é um dos reis do afro-jazz, num “flirt” com o “electropop”. Grande dança em perspetiva. Temperaturas igualmente altas estão prometidas pelo pianista cubano Omar Sosa, com o seu “cocktail” de “cha-cha-cha”, “groove” e a herança de Thelonious Monk, mas poderão atingir o limite do suportável quando a israelita Meira Asher fizer a apresentação do seu novo álbum, “Infantry”. Sonoridades eletrónicas, industriais, tendo por temática as atrocidades cometidas sobre as crianças. A programação inclui ainda, entre outros, os Gaiteiros de Lisboa, Da Weasel e Sara Tavares.
www.acert.pt


MÚSICAS DO MUNDO
25 a 27 de Julho

Poucos locais serão tão aprazíveis, no Verão, para se ouvir “música do mundo”, como o Castelo de Sines, em pleno litoral alentejano. Este ano haverá fado e a voz luminosa de Cristina Branco, a folk incendiária dos suecos Hedningarna (levem-se extintores e mangueiras…), o jazz do saxofonista David Murray no projeto “Havana Moods”, a desbunda punk e folclórica dos mexicanos Los de Abajo, a negritude “funky” de Popa Chubby, o canto multifónico e o exotismo instrumental dos Yat-Kha, de Tuva, e a “marrabenta” moçambicana dos Malubu. No final, o céu ilumina-se.
www.fmm.com.pt



Jazz a altas temperaturas

Do Funchal ao Estoril, com paragens em Lisboa, Porto e Tomar, o jazz estará uma vez mais na ordem do dia nos meses que se seguem

3º FUNCHAL JAZZ
27 de Junho a 6 de Julho

Dee Dee Bridgewater, Maceo Parker e Rufus Reid são os nomes fortes de uma programação variada que inclui "workshops", o lançamento de um CD do grupo Oficina - Quinteto de Jazz da Madeira e uma Feira do Disco Jazz e Blues. Dee Dee Bridgewater é uma das vozes importantes do jazz das últimas três décadas, tendo-se iniciado como vocalista da "big band" de Thad Jones e Mel Lewis. Cantou ao lado de Dizzy Gillespie, Dexter Gordon, Max Roach e Roland Kirk, foi actriz e cantora na Broadway, em "The Wiz", e já meteu no bolso prémios Tony e Grammys. "Live in Paris", "Victims of Love" e "In Montreux" são dos seus trabalhos discográficos mais conhecidos. Maceo Parker é sinónimo de funk e soul, ou não tivesse tocado durante 20 anos ao lado de James Brown. Antes, Marvin Gaye e Ben E. King tiveram-no a seu lado. O seu saxofone já se passeou por latitudes tão afastadas como as de Bootsy Collins, George Clinton, Keith Richards, Living Colour e Bryan Ferry. O festival encerra com um concerto pelo quinteto do baixista Rufus Reid que, entre os anos 70 e 80, acompanhou ou dialogou, entre outros, com Dexter Gordon, Lee Konitz, Jack DeJohnette e Stan Getz.
www.fmm.com.pt


ESTORIL
5 a 13 de Julho

Rufus Reid reincide com o seu quinteto no Verão jazzístico nacional, integrado num festival cuja abertura fará a homenagem ao lendário contrabaixista Charles Mingus, através da "big band" organizada em 1991 e nomeada Mingus Big Band, em sua homenagem, formação liderada pelo saxofonista Alex Foster, na qual se destacam o par de saxofonistas tenor composto por Craig Handy e John Stubblefield. Completam a programação o quarteto da cantora Tierney Sutton, herdeira de Ella Fitzgerald, o quinteto do trompetista cubano "El Indio", The Heath Brothers (com o contrabaixista Percy Heath, presente em colaborações com gigantes como Howard McGhee, Dizzy Gillespie, Miles Davis, Charlie Parker, Fats Navarro, Thelonious Monk e J.J. Johnson) e o quinteto do saxofonista Gary Bartz (com o vibrafonista Stefon Harris) que, após o contacto com Miles Davis - o génio mas também o "traidor" que praticamente inventou o "jazzrock" - orientou as antenas no sentido da música de fusão.
www.projazz.pt/media


XI JAZZ NO PARQUE - FUNDAÇÃO DE SERRALVES
6, 13 e 20 de Julho

Três concertos para apreciadores. Três formas de fazer e ouvir jazz contemporâneo. Drew Gress Spin & Drift, com Tim Berne, Quarteto de André Fernandes e Nuno Ferreira, Quarteto de Daniel Humair, com Ellery Eskelin. Drew Gress, contrabaixista que recentemente tocou em "Witness", do trompetista Dave Douglas, ao lado de Tom Waits, é fundador do projecto Joint Venture e autor de "Spin & Drift", disco que dá nome ao grupo que agora nos visita. Recebe em Serralves Tim Berne, nome grande do saxofone "fusionista", herdeiro espiritual de Julius Hemphill. Daniel Humai dispensa apresentações. É um dos maiores bateristas de jazz de todos os tempos. Acompanham-nos em Serralves os seus compatriotas, "monsieurs" Bruno Chavion (contrabaixo) e Marc Ducret (guitarra), e o saxofonista convidado Ellery Eskine, músico "free" no sentido mais lato do termo. Entre estes dois concertos, terá lugar o projecto "Crosscurrentes", dos guitarristas André Fernandes e Nuno Ferreira, em homenagem ao pianista Lennie Tristano, um dos emancipadores do jazz moderno, ao entrelaçar o "bop" com o politonalismo da música clássica contemporânea de um Stravinsky ou de um Webern.
www.serralves.pt


3º FESTIVAL INTERNACIONAL DE JAZZ DE TOMAR
18, 20, 25 e 27 de Julho

Jazz templário é coisa que - que se saiba - não existe. Mas a presença, na edição deste ano, de Michel Portal, garante, por si só, a iniciação nos mistérios do jazz contemporâneo imbuído do sagrado. Michel Portal é daqueles músicos que meteram cunha no Além e têm ligação directa com a Grande Música do Alto. Não é ele que toca os instrumentos - é, ele próprio, o instrumento de uma inspiração maior. Será acompanhado pelo acordeonista, também ele excecional executante, Richard Galliano. David Murray, místico do saxofone (como Coltrane, como Sanders, como Ayler...), e o seu quarteto, abrem o festival. Entre o início e o fecho, com Portal e Galliano, desenhar-se-á o "Azul" de Carlos Bica, com Frank Mobus e Jim Black, enquanto as "novas tendências do jazz europeu" serão representadas por um trio oriundo da Finlândia, formado por Joona Toivanen, Tapani Toivanen e Olavi Louhivuori.
www.cbtm.jazznet.pt
jazztomar2002.htm


JAZZ EM AGOSTO – FUNDAÇÃO GULBENKIAN (4 a 14 de Agosto)
2 a 10 de Agosto

Vai ser histórico, vai ser inesquecível, vai ser uma montra (larga) de algum do melhor jazz que se faz hoje em dia. Chicago e Inglaterra são os dois eixos em torno dos quais se moverá o Jazz em Agosto deste ano. Se em relação aos amigos americanos o cartaz está bem servido, com o duo de Fred Anderson/Hamid Drake, o pós-jazz dos Chicago Underground Quartet (que deverão desempenhar este ano o papel que na edição transacta foi atribuído aos Supersilent) e o camaleão Ken Vandermark, verdadeira máquina saxofonística à vontade em todos os terrenos (Mats Gustafson, seu parente estético, também estará presente...), sem esquecer o regresso a Portugal de uma notável improvisadora que é a pianista Marilyn Crispell, que dizer da "família" inglesa que nos vem visitar? É a "música livre" dos súbditos de Sua Majestade que estará presente em peso. No formato de "big band", em trio, quarteto ou a solo, pisarão o anfiteatro da Gulbenkian Keith Tippett, Barry Guy, Paul Lytton, Paul Rutherford, Henry Lowther, Julie Tippetts, Paul Dunmall, Paul Rogers, Louis Moholo... Ah!, sim, convém acrescentar que o Jazz em Agosto contará com a presença de um mago - Evan Parker -, um dos maiores solistas/improvisadores da actualidade. O sopro do fogo.
www.gulbenkian.org

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