CULTURA
SEXTA-FEIRA,
24 MAI 2002
Crítica Música
Robert Plant a bordo do rock sem os
Zeppelin
Robert
Plant
Lisboa, Aula Magna
22 de Maio, 21h30
Sala quase cheia.
Repete dia 25, no Coliseu do Porto
Robert
Plant está mais gordo, mas o cabelo e a voz continuam compridos, mantendo
intocável a pose de rocker e a força da interpretação. Terá sido essa uma das
maiores surpresas da primeira de duas noites do ex-Led Zeppelin na Aula Magna,
a par da revelação dos portugueses André Indiana que, na primeira parte,
fizeram uma demonstração festiva de hard-rock e “entertainment”.
Aos
53 anos, Robert Plant continua a arriscar os mesmos agudos e falsettos dos Led
Zeppelin e a verdade é que o faz com distinção. A banda também ajudou, impondo
vagas de guitarra, solos de sintetizador e uma batida poderosa, dando maior
segurança às proezas vocais do seu carismático líder.
Com a
Aula Magna bem composta de barrigas salientes, barbas farfalhudas e insinuantes
candidatas a “groupies” , os André Indiana dispararam na primeira parte em
correria revivalista pelo rock pesado, baladas para descanso e rhythm’n’blues
que alguém na sala definiu como um “combinado de Ted Nugent com os Free”.
Homenagearam Jimi Hendrix, o guitarrista fez contorções mas deu provas de
dominar o instrumento e, numa desbunda final de R&B, encenaram o quadro dos
The Blues Brothers.
Mas o
quadro mais valioso seria afixado pelo antigo vocalista daqueles cujo nome não
foi mencionado uma única vez. Todos queriam ouvir (e bem berraram a pedir) os
“hits” dos Led Zeppelin. Plant apenas os satisfez em parte. “C’mon, you know I
can’t sing them all!”, exclamou com um sorriso. Mesmo assim condescendeu a
cantar “Misty mountain hop”, “Four sticks” e “Celebration day” e, a fechar o
“encore”, “Babe, I’m gonna leave you”.
Os
anos 60 andaram por ali a bailar – “Não me lembro de vocês, mas sei que
estiveram lá”, lançou, antes de iniciar uma canção sobre “friendship in the
sixties” –, mais que não fosse em duas assombrosas versões, provavelmente
incluídas no próximo álbum, de “covers”, “Head First”, de “Hey Joe”, canção
popularizada por Jimi Hendrix, e “House is not a motel”, dos Love, da
obra-prima “Forever Changes”. Já o exercício de alto risco que é “Song to the
siren”, de Tim Buckley, resultou num semi-fracasso. Aí, a voz voltada para fora
de Plant, apesar dos floreados, não soube (ou não pôde...) penetrar nos
segredos da filigrana, ser suficientemente pálida para ser bela como a lua.
Não
faltaram, contudo, momentos exaltantes e contrastes com o rock de pedra e cal:
a folk de “Darkness, darkness” e “Morning dew”, sequências orientalizantes que
poderiam levar a assinatura de Bill Laswell (os Led Zeppelin já tinha feito, de
resto, “Kashmir”...), a demolição psicadélica de “Hey Joe” e, para desespero de
alguns, as canções menos conhecidas, mas razoavelmente apelativas, dos álbuns a
solo.
Ao
fim de quase duas horas de um concerto que, de forma magistral, soube furtar-se
à tirania das “canções pedidas” (ainda houve quem, quando Plant anunciou uma
das mais belas canções que conhecia – estava a referir-se à de Tim Buckley... –
se sobressaltasse, julgando tratar-se de “Stairway to heaven”...), sem,
contudo, eximir-se das suas responsabilidades históricas, Robert Plant não
voltou ao palco para um muito requisitado segundo encore, mas deixou no ar
qualquer coisa que, dirá da forma como o fez, num murmúrio, soou a magia: “Foi
bom estar aqui.”
EM RESUMO
O concerto Do equilíbrio entre as revisitações ao passado e versões
inspiradas de Hendrix e dos Love fez Robert Plant as razões do seu triunfo
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